Cabelos
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 22/02/2014
As lâmpadas do teto
do banheiro são destas modernas, fluorescentes, supostas de durar
séculos, que custam uma nota. Até aí, tudo bem. Pararam de fabricar as
incandescentes de 100W e 150W, que sempre foram as minhas preferidas:
comprei das modernas. Contudo, vem ocorrendo um fenômeno que não consigo
explicar. Nas fotos recentes, coloridas, tiradas por fotógrafos
profissionais, tenho a cabeça inteiramente branca. No banheiro, antes de
me assentar no trono, o espelho mostra um sujeito quase tão louro como
fui até 30 anos atrás. Como explicar o fenômeno? De repente é o flash,
que destaca, que só reflete os fios brancos. Ou, então, fiquei maluco,
mas nesse caso veria dos cabelos para baixo, começando na testa,
cavalheiro menos feio do que tenho visto no mesmíssimo espelho.
Rádio
Enquanto não compro pequeno aparelho para ouvir, na copa/cozinha, meus CDs de óperas e clássicos, tenho almoçado ouvindo rádio para abafar a gritaria que vem dos outros apês pela área de iluminação e ventilação. Gritos e assuntos que não me interessam nem me agradam. Ouço FM famosa, programa de música brasileira, que coincide com a hora do almoço. Fico horrorizado com o nível, com o besteirol das letras, e constato: Vinícius, Tom, Fernando Brant e poucos, pouquíssimos outros, foram e são exceções à regra. De músicas, ritmos, gêneros não falo, porque não entendo, mas as letras são de uma infantoimbecilidade que espanta, comove, entristece e justifica o neologismo: infantoimbecilidade infantil e imbecil. Não é para me gabar, mas achei o neologismo da melhor supimpitude. Fui ao Google e achei dois: “infantoimbecis internautas”, de Marcos Guterman no Estadão, e infanto-imbecilidade com hífen no blog gladio.blogspot.com, nem se pode inventar uma palavra. Supimpitude tem 3.140 entradas. Se não foi invenção minha, fui dos primeiros. Tem no Dicionário inFormal o abono de José Antônio de Ávila Sacramento, de São João del-Rei, cavalheiro ilustre que conheço bem. Que levaria uma rádio poderosa a tocar aquele “tipo” de música? Não sei e não pretendo apurar. Deve dar audiência. Preciso comprar o tocador de CDs com urgência, que é para não me aborrecer na hora dos comes, que já foi dos comes e bebes.
Eleven é onze
Louvo o reabastecimento do Aerolula em Lisboa, a começar pelo fato de a senhora presidente entender e falar, mesmo sem ser fluente, a língua oficial de Portugal. Há um segundo idioma oficial desde 1998, o mirandês, que apresenta traços comuns com o asturo-leonês, mas aí seria pedir demais. Sua Excelência já disse que janta onde quiser, porque paga a conta. Informação louvável, desde que faça maquilagem para esconder as olheiras, considerando que os comensais, nas outras mesas, também estão pagando suas contas e não merecem dividir o salão com freguesas exaustas da tentativa de provar em Davos que a situação econômica do Brasil é excelente. Isto posto, vamos ao inglês eleven, nome do restaurante, que em vernáculo significa 11. Jean Chevalier e Alain Gherbrant coordenaram os estudos de 15 pesquisadores de diversas universidades espalhadas pelo planeta e concluíram que 11 não é boa coisa. Vejamos. O 11 é particularmente sagrado nas tradições esotéricas africanas. Chega-se a ver nele uma das chaves principais do ocultismo negro. É relacionado com os mistérios da fecundidade. A mulher mãe tem 11 aberturas, enquanto o homem só tem nove. E o negócio vai por aí até que se acrescenta à plenitude do 10, que simboliza o ciclo completo, sendo o 11 o signo do excesso, da desmesura, do transbordamento, seja de que espécie for, incontinência, exagero no julgamento. Pergunto: o julgamento da parada lisboeta não foi exagerado? A própria parada, com hotel e limusines, quando é possível abastecer um avião em uma hora ou menos? Agostinho teria dito que o número 11 é brasão do pecado. Resumindo, que o texto é longo: o 11 não parece boa coisa, enquanto o Restaurante Eleven de Lisboa não está na lista do Boni e do Amaral entre os 100 melhores do mundo e os cinco melhores lisboetas “para ver e ser visto”. O que não impede que os comensais sejam vistos com olheiras. Em defesa do vetusto philosopho seja dito que não comprou o guia do Boni e do Amaral: ganhou de presente.
O mundo é uma bola
22 de fevereiro de 1775: Pio VI é eleito o 250º papa, demonstrando que o pontificado é ocupação da mais alta rotatividade. Em 1819, pelo Tratado de Adams-Onís entre a Espanha e os Estados Unidos, a Flórida é cedida aos norte-americanos. Por via de consequência, aos mineiros, que estão comprando tudo por lá. Hoje, mineiro adora jatinho que faça Confins-Miami sem escalas. O mineiro Eike vendeu o dele, mas há vários operando na rota. Em 1836, criação da cidade de Uberaba, capital mundial do zebu. Em 1939, no poço de Lobato (BA) petróleo “jorra” pela primeira vez no Brasil. Jorrar é verbo meio forte para o petróleo de Lobato. Depois, jorrou noutros poços. Hoje, conseguiram acabar com a Petrobras.
Ruminanças
“Todo aquele que desconfia convida os outros a traí-lo” (Voltaire, 1694-1778).
Rádio
Enquanto não compro pequeno aparelho para ouvir, na copa/cozinha, meus CDs de óperas e clássicos, tenho almoçado ouvindo rádio para abafar a gritaria que vem dos outros apês pela área de iluminação e ventilação. Gritos e assuntos que não me interessam nem me agradam. Ouço FM famosa, programa de música brasileira, que coincide com a hora do almoço. Fico horrorizado com o nível, com o besteirol das letras, e constato: Vinícius, Tom, Fernando Brant e poucos, pouquíssimos outros, foram e são exceções à regra. De músicas, ritmos, gêneros não falo, porque não entendo, mas as letras são de uma infantoimbecilidade que espanta, comove, entristece e justifica o neologismo: infantoimbecilidade infantil e imbecil. Não é para me gabar, mas achei o neologismo da melhor supimpitude. Fui ao Google e achei dois: “infantoimbecis internautas”, de Marcos Guterman no Estadão, e infanto-imbecilidade com hífen no blog gladio.blogspot.com, nem se pode inventar uma palavra. Supimpitude tem 3.140 entradas. Se não foi invenção minha, fui dos primeiros. Tem no Dicionário inFormal o abono de José Antônio de Ávila Sacramento, de São João del-Rei, cavalheiro ilustre que conheço bem. Que levaria uma rádio poderosa a tocar aquele “tipo” de música? Não sei e não pretendo apurar. Deve dar audiência. Preciso comprar o tocador de CDs com urgência, que é para não me aborrecer na hora dos comes, que já foi dos comes e bebes.
Eleven é onze
Louvo o reabastecimento do Aerolula em Lisboa, a começar pelo fato de a senhora presidente entender e falar, mesmo sem ser fluente, a língua oficial de Portugal. Há um segundo idioma oficial desde 1998, o mirandês, que apresenta traços comuns com o asturo-leonês, mas aí seria pedir demais. Sua Excelência já disse que janta onde quiser, porque paga a conta. Informação louvável, desde que faça maquilagem para esconder as olheiras, considerando que os comensais, nas outras mesas, também estão pagando suas contas e não merecem dividir o salão com freguesas exaustas da tentativa de provar em Davos que a situação econômica do Brasil é excelente. Isto posto, vamos ao inglês eleven, nome do restaurante, que em vernáculo significa 11. Jean Chevalier e Alain Gherbrant coordenaram os estudos de 15 pesquisadores de diversas universidades espalhadas pelo planeta e concluíram que 11 não é boa coisa. Vejamos. O 11 é particularmente sagrado nas tradições esotéricas africanas. Chega-se a ver nele uma das chaves principais do ocultismo negro. É relacionado com os mistérios da fecundidade. A mulher mãe tem 11 aberturas, enquanto o homem só tem nove. E o negócio vai por aí até que se acrescenta à plenitude do 10, que simboliza o ciclo completo, sendo o 11 o signo do excesso, da desmesura, do transbordamento, seja de que espécie for, incontinência, exagero no julgamento. Pergunto: o julgamento da parada lisboeta não foi exagerado? A própria parada, com hotel e limusines, quando é possível abastecer um avião em uma hora ou menos? Agostinho teria dito que o número 11 é brasão do pecado. Resumindo, que o texto é longo: o 11 não parece boa coisa, enquanto o Restaurante Eleven de Lisboa não está na lista do Boni e do Amaral entre os 100 melhores do mundo e os cinco melhores lisboetas “para ver e ser visto”. O que não impede que os comensais sejam vistos com olheiras. Em defesa do vetusto philosopho seja dito que não comprou o guia do Boni e do Amaral: ganhou de presente.
O mundo é uma bola
22 de fevereiro de 1775: Pio VI é eleito o 250º papa, demonstrando que o pontificado é ocupação da mais alta rotatividade. Em 1819, pelo Tratado de Adams-Onís entre a Espanha e os Estados Unidos, a Flórida é cedida aos norte-americanos. Por via de consequência, aos mineiros, que estão comprando tudo por lá. Hoje, mineiro adora jatinho que faça Confins-Miami sem escalas. O mineiro Eike vendeu o dele, mas há vários operando na rota. Em 1836, criação da cidade de Uberaba, capital mundial do zebu. Em 1939, no poço de Lobato (BA) petróleo “jorra” pela primeira vez no Brasil. Jorrar é verbo meio forte para o petróleo de Lobato. Depois, jorrou noutros poços. Hoje, conseguiram acabar com a Petrobras.
Ruminanças
“Todo aquele que desconfia convida os outros a traí-lo” (Voltaire, 1694-1778).
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