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Mistérios da criação
Estado de Minas: 09/02/2014
Estado de Minas: 09/02/2014
Outro dia mesmo,
alguém comentava a relação atual entre pais e filhos. Sempre intrigante
talvez por se tratar de processo complicado e impreciso. Todos somos
filhos e talvez pais um dia. Mas nenhum de nós escapou dessa condição de
filho, pelo menos enquanto nascido de alguém. E nascemos por decisão
alheia ou por acidente de percurso.
Mesmo se não somos criados pelos que nos geraram, seremos cuidados por alguém que os substituirá ou alguma instituição que nos acolha e cuide da gente, até que sejamos independentes. Isto leva tempo. Algumas pessoas nunca alcançam a independência. Acredito que sejam muito infelizes por isso, embora alguns achem que possa ser uma situação vantajosa. Não creio.
Sabemos quem e como foram nossos cuidadores e pais, e quase sempre os responsabilizamos ou até culpamos pelo que somos. Mesmo que eles não tenham culpa, jamais poderão provar serem inocentes. Então, ser pai e mãe já é naturalmente, ou culturalmente, ser culpado. Não devemos acreditar que essa dívida possa ser paga. Se acreditarmos, tentaremos compensar nossos filhos e isso pode ser ainda pior do que carregar a dívida.
Nunca tente pagá-la. Como pais fizemos o melhor que podíamos na ocasião e, claro, ninguém erra porque quer, porque decide fazer o pior. Pelo menos alguém ‘‘normal’’, pois fazer o pior propositalmente seria uma perversão.
Erramos porque não sabemos como fazer o melhor em tal ou tal situação. E errar não é tão danoso. Provavelmente, nunca errar ou acreditar nessa possibilidade pode ser também pior. Se acreditar dono da verdade como se ela fosse única é tentar anular outras possibilidades.
Nunca saberemos quem será o filho que tivemos e nenhuma fórmula ou receita poderá nos ajudar. É como uma aposta que fazemos investindo no futuro que não é o nosso e sim de um outro que ainda não sabemos o que desejará.
Tantos pais, por não saberem ser pais, tratam os filhos como amigos. E disto podemos estar certos: filhos não são amigos. São seres humanos que precisam ser educados por nascerem sem noção de nada. E a educação ensina o certo, o errado, e é preciso insistir muito para as crianças aceitarem o que pode ou não pode.
Elas querem experimentar o mundo, o que é gostoso, o prazeroso, independentemente das consequências, pois ainda não absorveram o princípio da realidade. Funcionam no registro do princípio do prazer. Como fazê-los, então, abandonar o prazer pelo dever? Com o tempo, a insistência, a autoridade e principalmente com amor, pois, se não for por amor, não cola. Não será uma troca interessante. Não valerá a pena.
E somente com amor conseguiríamos deles algum progresso, pois para impor regras de comportamento e socialização é preciso firmeza, pulso e é aí que muitos pais fracassam. Têm de fazer cortes nas pessoas que amam. Se pudessem, dariam aos filhos apenas satisfação, fazendo-os acreditar num mundo onde tudo é feito para agradá-los.
A criança que se acredita o centro do universo e não se acostuma com frustrações cresce como uma majestade e permanece sem noção. Depois de grandes, não vão querer saber de outra coisa...
Assim, ter filhos é um desafio enorme e de grande responsabilidade. Se soubéssemos de antemão todos os riscos, talvez decidiríamos não tê-los. Mas é que às vezes para continuar, o que quer que seja, é preciso ignorar a verdade toda. Vale para a perpetuação da espécie.
E não somente isso. Depois de tudo o que penamos para educá-los, ver que eles se tornaram independentes, capazes e diferentes de tudo que planejamos ou quisemos para eles, é muito bom nos certificarmos de que se tornaram adultos com sua própria história para escrever.
>> reginacosta@uai.com.br
Mesmo se não somos criados pelos que nos geraram, seremos cuidados por alguém que os substituirá ou alguma instituição que nos acolha e cuide da gente, até que sejamos independentes. Isto leva tempo. Algumas pessoas nunca alcançam a independência. Acredito que sejam muito infelizes por isso, embora alguns achem que possa ser uma situação vantajosa. Não creio.
Sabemos quem e como foram nossos cuidadores e pais, e quase sempre os responsabilizamos ou até culpamos pelo que somos. Mesmo que eles não tenham culpa, jamais poderão provar serem inocentes. Então, ser pai e mãe já é naturalmente, ou culturalmente, ser culpado. Não devemos acreditar que essa dívida possa ser paga. Se acreditarmos, tentaremos compensar nossos filhos e isso pode ser ainda pior do que carregar a dívida.
Nunca tente pagá-la. Como pais fizemos o melhor que podíamos na ocasião e, claro, ninguém erra porque quer, porque decide fazer o pior. Pelo menos alguém ‘‘normal’’, pois fazer o pior propositalmente seria uma perversão.
Erramos porque não sabemos como fazer o melhor em tal ou tal situação. E errar não é tão danoso. Provavelmente, nunca errar ou acreditar nessa possibilidade pode ser também pior. Se acreditar dono da verdade como se ela fosse única é tentar anular outras possibilidades.
Nunca saberemos quem será o filho que tivemos e nenhuma fórmula ou receita poderá nos ajudar. É como uma aposta que fazemos investindo no futuro que não é o nosso e sim de um outro que ainda não sabemos o que desejará.
Tantos pais, por não saberem ser pais, tratam os filhos como amigos. E disto podemos estar certos: filhos não são amigos. São seres humanos que precisam ser educados por nascerem sem noção de nada. E a educação ensina o certo, o errado, e é preciso insistir muito para as crianças aceitarem o que pode ou não pode.
Elas querem experimentar o mundo, o que é gostoso, o prazeroso, independentemente das consequências, pois ainda não absorveram o princípio da realidade. Funcionam no registro do princípio do prazer. Como fazê-los, então, abandonar o prazer pelo dever? Com o tempo, a insistência, a autoridade e principalmente com amor, pois, se não for por amor, não cola. Não será uma troca interessante. Não valerá a pena.
E somente com amor conseguiríamos deles algum progresso, pois para impor regras de comportamento e socialização é preciso firmeza, pulso e é aí que muitos pais fracassam. Têm de fazer cortes nas pessoas que amam. Se pudessem, dariam aos filhos apenas satisfação, fazendo-os acreditar num mundo onde tudo é feito para agradá-los.
A criança que se acredita o centro do universo e não se acostuma com frustrações cresce como uma majestade e permanece sem noção. Depois de grandes, não vão querer saber de outra coisa...
Assim, ter filhos é um desafio enorme e de grande responsabilidade. Se soubéssemos de antemão todos os riscos, talvez decidiríamos não tê-los. Mas é que às vezes para continuar, o que quer que seja, é preciso ignorar a verdade toda. Vale para a perpetuação da espécie.
E não somente isso. Depois de tudo o que penamos para educá-los, ver que eles se tornaram independentes, capazes e diferentes de tudo que planejamos ou quisemos para eles, é muito bom nos certificarmos de que se tornaram adultos com sua própria história para escrever.
>> reginacosta@uai.com.br
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