domingo, 9 de fevereiro de 2014

Uma dor de difícil diagnóstico Fibromialgia‏

Uma dor de difícil diagnóstico 

 
Fibromialgia, que atinge o tecido muscular, chega a afetar 3% da população brasileira e sua confirmação pode levar alguns anos. Sem explicação científica, doença atinge mais as mulheres, que devem se dedicar a atividades aeróbicas e alongamentos 

 
Paula Takahashi
Estado de Minas: 09/02/2014


 (istock photo)

Dor generalizada por todo o corpo por no mínimo três meses acompanhada por fadiga, ansiedade, depressão, dificuldade para dormir e até alterações intestinais. Durante vários anos, o desconhecimento sobre a fibromialgia levou os pacientes acometidos por esses sintomas a serem tachados de “dramáticos” ou “estressados”, evoluindo para um diagnóstico de transtornos emocionais como depressão. Mesmo com o reconhecimento da doença considerada crônica e pesquisas intensivas sobre o assunto, o fibromiálgico pode levar até três anos para descobrir a justificativa para as dores persistentes e difundidas pelo tecido muscular. O fato de o reumatologista – médico dedicado aos estudos e tratamento da enfermidade – ser procurado apenas depois que o paciente passa por três outros profissionais de áreas distintas está entre os motivos para a morosidade na identificação da patologia.

Sem qualquer exame que seja capaz de detectar a fibromialgia, o diagnóstico é essencialmente clínico, baseado em critérios classificatórios pontuados pelo Colégio Americano de Reumatologia. Entre eles, a presença de dor difusa e generalizada por mais de três meses. “Dentro do corpo existe um sistema de controle de dor. No caso dos fibromiálgicos, esse sistema sofre uma falha, por isso a doença é conhecida como síndrome de amplificação dolorosa”, explica o reumatologista Marcelo Cruz Rezende, coordenador da Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Síndromes Dolorosas de Partes Moles da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

A dor passa então a ocorrer de forma mais intensa nessas pessoas. Uma das justificativas para esse descontrole estaria nas alterações dos níveis de neurotransmissores no cérebro – como serotonina e noradrenalina –, substâncias químicas produzidas pelos neurônios e responsáveis por transportar as informações entre as células. “Há distúrbios associados também ao funcionamento da bomba de cálcio”, acrescenta Marcelo. Outra indicação de que o paciente sofre de fibromialgia são os 18 pontos dolorosos espalhados pelo corpo. É preciso que pelo menos 11 deles sejam reconhecidos. A revisão dos critérios estabelecidos pelo Colégio Americano de Reumatologia em 2010 excluiu a necessidade de contagem dos pontos dolorosos, orientação que ainda está sob questionamento pela área médica. Com isso, eles ainda continuam sendo utilizados como referência para a detecção do problema.

Exames de imagem e diagnósticos não são usados para indicar a fibromialgia, mas sim para que seja eliminada a possibilidade de outras patologias. “Os sintomas são muito pouco específicos e não há nada exclusivo da fibromialgia. Por isso são realizados exames para excluir hipotireodismo, doenças do tecido conjuntivo, como artrite reumatoide, e no caso de mulheres no período fértil o lúpus”, explica Luiz Severiano Ribeiro, coordenador do Grupo de Educação do Paciente Fibromiálgico do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg). Há mais de 20 anos, o grupo está aberto ao público interessado em informações sobre as causas, tratamentos e o funcionamento da doença. “Aqui, eles têm contato com pessoas que sofrem do mesmo problema e já passam por tratamento há muitos anos. É uma forma de eles sentirem que há outras pessoas na mesma situação e que não são os únicos”, afirma Luiz.

CAUSAS E TRATAMENTO O surgimento da doença está atrelado à genética e a situações de estresse crônico. “Há um padrão hereditário, mas não existe um gene identificado para a fibromialgia”, reconhece Marcelo Cruz. Doenças graves, traumas emocionais ou físicos e até mudanças hormonais podem desencadear os sintomas, que começam com uma dor crônica localizada que progride e é difundida para todo o corpo. A doença afeta mais as mulheres, já que de cada 10 pacientes, de sete a nove são do sexo feminino. A razão para essa incidência não é clara, já que não parece haver relação com hormônios.

A enfermidade não tem cura, mas diante de certas providências é possível conviver com a doença. Entre elas, a prática frequente de atividades aeróbicas. “Atividade física, principalmente aeróbica, tem efeito sobre o padrão de dor e melhora a fadiga. Existem trabalhos que mostram que até o tai chi chuan pode ajudar a amenizar os sintomas da fibromialgia”, reconhece Marcelo Cruz. Antidepressivos também podem ser indicados, já que agem sobre os neurotransmissores, tendo efeito sobre a dor. Diante de dores distintas e com intensidade variada, todo o tratamento é individualizado.

» Jorge Luiz Dutra, aposentado, de 58 anos
 (Euler Junior/EM/D.A Press)

“Até descobrir o problema, em 2004, demorei quatro anos indo em vários médicos e fazendo todo tipo de exame. Hoje aprendi a conviver com a dor que é persistente, do pescoço para baixo. Só não dói o cabelo (risos). Tomo antidepressivos e analgésicos, mas o que funciona mesmo são as caminhadas diárias de uma hora. Faça chuva ou faça sol, não deixo de ir. Na família, tenho primos que estão fazendo exames e há suspeita de fibromialgia. A grande tristeza é que a gente passa por muita humilhação porque ninguém acredita na doença, nem mesmo o Instituto Nacional da Previdência Social (INSS). Se não tem exame que identifique, não dá para comprovar.”
» Evangelina Maria Lara, aposentada, de 75

 “Problema nos ossos foi uma dos problemas que falaram que eu tinha antes de chegar até a fibromialgia. As dores, que estão sempre presentes, começaram há mais de 30 anos e há 25 trato a doença. Não foi identificado nenhum caso na família e meus filhos também não apresentaram os sintomas. Quando tenho algum problema emocional, por menor que seja a chateação do dia a dia, a dor intensifica e é preciso tomar analgésicos para aliviar.”
Números

3%
da população brasileira é
afetada pela fibromialgia

80%
dos pacientes são mulheres

34 a 57

anos é a faixa etária de
realização do diagnóstico

Sintomas associados
>> Fadiga intensa
>> Irritação intestinal e da bexiga
>> Dor de cabeça
>> Movimento involuntário das pernas durante o sono
>> Dificuldade para dormir
>> Ansiedade
>> Depressão
>> Dificuldade de concentração

Tratamento
>> Exercícios para alongamento e fortalecimento muscular, assim como para condicionamento cardiorrespiratório. Devem ser praticados durante 40 minutos, três vezes por semana
>> Técnicas de relaxamento para prevenir espasmos musculares
>> Hábitos saudáveis para melhorar a qualidade de vida e reduzir o estresse
>> Medicações para o controle da dor e dos distúrbios do sono

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