O homem e a mala
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 28/02/2014
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 28/02/2014
Tudo começou numa
corrida entre o aeroporto de Confins e Belo Horizonte, quando um
motorista de táxi, que aqui vamos chamar de Eustáquio, pegou uma corrida
para trazer um cliente até um bairro da Zona Sul. Antes de entrar no
carro, aquele homem, bem vestido e com pinta de executivo com ótimo
salário, depois de cumprimentar o condutor pediu que guardasse a sua
mala no bagageiro. “Assim vamos mais à vontade, batendo um papo”, disse
e, de imediato, começaram a conversar.
Bom falante, contou ao motorista que estava voltando do México, onde a firma em que trabalhava tinha uma filial no estado de Morelos, no Sul do país. “Nosso ramo é revenda de tratores, que também exportamos para os Estados Unidos e países da América Central”, disse ainda. Como o taxista, que não era de muita conversa, ficou em silêncio, ele perguntou: “Você já esteve fora do Brasil?”. “Não senhor, nunca saí aqui de Minas Gerais”, respondeu o outro, como que envergonhado. O trânsito fluía bem.
Daí a pouco, já mais à vontade, o taxista também foi começando a falar e revelou ao cliente, que o ouvia com atenção, ser de Montes Claros, onde, quando adolescente, tinha trabalhado em uma fazenda de gado. “Mas chegou uma hora em que percebi que não dava mais para continuar, pois precisava ajudar minha família, que era muito pobre, e então resolvi vir para Belo Horizonte tentar a vida.” Confessou também que aquele carro não era dele, mas de um conterrâneo que tinha quatro outros “rodando por aí”.
“Daqui a um tempo você compra o seu, é só ir juntando o dinheiro. Coloque todos os meses um montante na poupança; não mexa nele, e nem conte para os parentes, senão vão pedir emprestado”, aconselhou ainda o homem, ao que o motorista sorriu: “Sei muito bem como é isso. Por ter avalizado um primo perdi tudo o que tinha”, comentou. E a viagem foi seguindo. Fazia muito calor.
Certo é que, mais ou menos uma hora depois, chegaram ao destino e o condutor, que sempre fora um homem calado, mas tinha se simpatizado com aquele homem, já estava todo prosa, contando façanhas. Ao que o outro, como se fossem velhos conhecidos, retribuía com boas gargalhadas. Na porta do prédio, onde este disse que iria ficar, o taxista parou, recebeu o pagamento e se despediram.
Qual não foi sua surpresa quando, no outro dia pela manhã, ao abrir o bagageiro para tirar uma sacola, se deparou com uma mala preta. “Que mala é esta, meu Deus?”, pensou e, como atendia dezenas de passageiros por dia, nem se lembrou de quem poderia ser. Curioso, a abriu, não sem receio: dentro dela, além de dois ternos, encontrou uma máquina filmadora, um laptop, câmara digital, objetos de uso pessoal, pastas de documentos e US$ 3 mil em notas de 100.
“De quem será isso, meu Deus?”, voltou a pensar, e nem se lembrou do homem de terno, que havia pegado em Confins. Ao mostrar para um colega, esse mexeu os ombros e disse: “Se eu fosse você, ficava com tudo”. Mas aquele homem, que aqui estamos chamando de Eustáquio, não era de ações desse tipo. E três dias depois, após quebrar a cabeça, as coisas foram se encaixando. “É dele, do moço do México”, concluiu. E seguiu para o prédio na Zona Sul, onde o outro, depois de localizado, custou a acreditar – acostumado que era ao árido mundo dos negócios – que uma coisa daquelas pudesse estar acontecendo.
Bom falante, contou ao motorista que estava voltando do México, onde a firma em que trabalhava tinha uma filial no estado de Morelos, no Sul do país. “Nosso ramo é revenda de tratores, que também exportamos para os Estados Unidos e países da América Central”, disse ainda. Como o taxista, que não era de muita conversa, ficou em silêncio, ele perguntou: “Você já esteve fora do Brasil?”. “Não senhor, nunca saí aqui de Minas Gerais”, respondeu o outro, como que envergonhado. O trânsito fluía bem.
Daí a pouco, já mais à vontade, o taxista também foi começando a falar e revelou ao cliente, que o ouvia com atenção, ser de Montes Claros, onde, quando adolescente, tinha trabalhado em uma fazenda de gado. “Mas chegou uma hora em que percebi que não dava mais para continuar, pois precisava ajudar minha família, que era muito pobre, e então resolvi vir para Belo Horizonte tentar a vida.” Confessou também que aquele carro não era dele, mas de um conterrâneo que tinha quatro outros “rodando por aí”.
“Daqui a um tempo você compra o seu, é só ir juntando o dinheiro. Coloque todos os meses um montante na poupança; não mexa nele, e nem conte para os parentes, senão vão pedir emprestado”, aconselhou ainda o homem, ao que o motorista sorriu: “Sei muito bem como é isso. Por ter avalizado um primo perdi tudo o que tinha”, comentou. E a viagem foi seguindo. Fazia muito calor.
Certo é que, mais ou menos uma hora depois, chegaram ao destino e o condutor, que sempre fora um homem calado, mas tinha se simpatizado com aquele homem, já estava todo prosa, contando façanhas. Ao que o outro, como se fossem velhos conhecidos, retribuía com boas gargalhadas. Na porta do prédio, onde este disse que iria ficar, o taxista parou, recebeu o pagamento e se despediram.
Qual não foi sua surpresa quando, no outro dia pela manhã, ao abrir o bagageiro para tirar uma sacola, se deparou com uma mala preta. “Que mala é esta, meu Deus?”, pensou e, como atendia dezenas de passageiros por dia, nem se lembrou de quem poderia ser. Curioso, a abriu, não sem receio: dentro dela, além de dois ternos, encontrou uma máquina filmadora, um laptop, câmara digital, objetos de uso pessoal, pastas de documentos e US$ 3 mil em notas de 100.
“De quem será isso, meu Deus?”, voltou a pensar, e nem se lembrou do homem de terno, que havia pegado em Confins. Ao mostrar para um colega, esse mexeu os ombros e disse: “Se eu fosse você, ficava com tudo”. Mas aquele homem, que aqui estamos chamando de Eustáquio, não era de ações desse tipo. E três dias depois, após quebrar a cabeça, as coisas foram se encaixando. “É dele, do moço do México”, concluiu. E seguiu para o prédio na Zona Sul, onde o outro, depois de localizado, custou a acreditar – acostumado que era ao árido mundo dos negócios – que uma coisa daquelas pudesse estar acontecendo.
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