quinta-feira, 6 de março de 2014

O perigo do álcool - Vivina do C. Rios Balbino

O perigo do álcool 
 
Com urgência, é preciso que o governo brasileiro encare com seriedade o grave problema social causado pelo abuso dessa droga 
 
Vivina do C. Rios Balbino
Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil
Estado de Minas: 06/03/2014





Estudo de 2010, o Comitê Científico Independente sobre Drogas aponta o álcool como a droga mais perigosa da Grã-Bretanha, à frente até do crack e da cocaína. Nesse estudo, classificaram as drogas pelos danos individuais, que vão desde a morte até danos mentais, perda dos relacionamentos e pelos danos que podem provocar às outras pessoas. No ranking geral, o álcool ficou em primeiro lugar, com 72 pontos – a heroína ficou com 55, o crack com 54, a cocaína ganhou 27 pontos e a maconha ficou com 20. O ecstasy e os anabolizantes com nove e os cogumelos alucinógenos com cinco. Se levados em conta apenas os danos individuais, as drogas mais perigosas são o crack, a heroína e metanfetamina. A mais danosa para os outros foi o álcool e recomenda-se atenção para os perigosos riscos dele – individual e coletivamente.

O Brasil parece ignorar esse perigo e o resultado aparece: milhões de dependentes, grandes tragédias sociais e propagandas livres na mídia. Pesquisa recente da Unifesp mostra que 22 milhões de homens abusam do álcool, 16 milhões são dependentes e 12 milhões são alcoólatras – um aumento de 30% em 10 anos. Enquanto isso, 8 milhões de mulheres abusam do álcool e 5 milhões são alcoólatras – um aumento de 50% em 10 anos. Cerca de 30 milhões de brasileiros são bebedores de risco.

Pesquisa recente da Secretaria Nacional Antidrogas constatou que metade dos alunos do ensino fundamental (menores de 18 anos) havia experimentado, bebida. No carnaval de 2014, houve uma campanha para desestimular o consumo de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes. Orçada em R$ 5 milhões, a campanha teve como alvo central jovens que iam participar dos carnavais do Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belo Horizonte e Ouro Preto, onde o carnaval atrai muita gente. Uma boa iniciativa, mas será que tem resultado se as propagandas apelativas continuarem livres em todo o Brasil na mídia, induzindo fantasiosamente milhões ao vício? Parece inócua.

Para piorar, na Copa as bebidas alcoólicas estarão liberadas nos estádios. Bebidas historicamente já financiam o futebol e o carnaval, as maiores paixões nacionais. Bebida combina com esporte? Ídolos como artistas e jogadores de futebol famosos "vendendo" o produto, induzindo milhões ao vício. Penso que enquanto não houver uma regulamentação competente e uma eficaz campanha preventiva na mídia e escolas, a exemplo do cigarro, o grave problema de saúde pública do álcool só vai piorar no Brasil. Sobre a regulamentação da mídia: “Não tem sentido a lei deixar de fora a cerveja, que é a bebida mais consumida no país. Já está na hora da sociedade se mobilizar para equiparar a cerveja a todas as bebidas que já sofrem restrição nas propagandas. Nossa proposta é uma ampla mobilização no país para sensibilizar o Congresso Nacional a modificar a lei”, explicou Jairo Edward de Luca, promotor de Justiça da Infância e Juventude de São Bernardo do Campo – SP. Dias de carnaval são marcados por bebidas incentivadas pela mídia, tragédias no trânsito e agressões, pronto-socorros cheios de jovens por overdose de bebidas e outras drogas, muitas mortes. Até quando veremos essa tragédias sem prevenção? Quanto se gasta no Brasil com os abusos do álcool e suas consequências?

Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de 2013 apontam que o alcoolismo é o principal motivo de pedidos de auxílio-doença por transtornos mentais e comportamentais pelo uso de substância psicoativa. O afastamento do trabalho com pedido de auxílio devido ao uso abusivo do álcool teve um aumento de 19% nos últimos quatro anos. Os dados mostram que o auxílio-doença concedido a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas passaram de 143,4 mil. Cocaína é a segunda droga responsável pelos auxílios, seguida do uso de maconha, haxixe e alucinógenos. E nos hospitais públicos, quanto se gasta com o abuso de bebidas?

Os dados são extremamente graves. Com urgência, é preciso que o governo brasileiro encare com seriedade esse grave problema social e implante eficazes e mais rigorosas políticas preventivas para o abuso do álcool. Como apontam as pesquisas e os dados estatísticos apresentados, essa droga é muito perigosa e tem altíssimo consumo. O resultado são muitas tragédias, doenças e mortes pelo Brasil afora. 

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