Para melhorar a corrida
Equipe da Ufla desenvolve testes que identificam o limite em que corredores, amadores e profissionais, começam a ter esgotamento nas reservas de energia. Método ajuda a programar atividade sem sobrecarregar o organismo
Paulo Henrique Lobato
Estado de Minas: 29/03/2014
Não há no Brasil um número oficial de participantes de corridas de rua, mas certamente esse é um dos esportes que mais vem atraindo adeptos. E a ciência tem tentado contribuir para melhorar o desempenho de atletas profissionais e amadores com várias pesquisas. No Sul de Minas Gerais, equipe coordenada pelo professor Sandro Fernandes da Silva, do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Lavras (Ufla), desenvolveu testes que identificam o limite em que corredores começam a ter grande esgotamento nas reservas de energia, o que ajuda atletas – profissionais e amadores – a evitar lesões.
Para desenvolver o estudo, o professor e sua equipe aplicaram testes em 17 voluntários. A intenção foi analisar a relação entre a velocidade crítica (Vcrit) e o limiar anaeróbico (LAn), usado para apurar modificações causadas durante uma temporada de treinamento. O LAn pode ser determinado por meio do comportamento do lactato sanguíneo. Este, por sua vez, é a resposta metabólica do organismo ao esforço progressivo. Trata-se, como explica Sandro Fernandes, de uma transição entre os sistemas energéticos.
“O objetivo do estudo foi verificar a correlação entre as velocidades de testes de campo (Vcrit e LAn) propostos para identificar um dos principais parâmetros de controle de treinamento, que é o LAn. Testamos que – por meio de um teste de campo para avaliar o comportamento do lactato sanguíneo, durante um teste progressivo – é possível determinar o LAn. Isso evidencia a importância do estudo, pois são poucos protocolos que determinam o LAn a partir de testes de campo verificando o aumento do lactato sanguíneo durante um exercício triangular”, conclui Sandro Fernandes no artigo “Comportamento dos parâmetros de controle de treinamento aeróbico durante testes de campo”, assinado em parceria com outros especialistas.
Há muitas formas de se avaliar o limiar aeróbico, entre elas a chamada máxima fase estável fixa (2 ou 4 mmol), lactato mínimo e a do limiar anaeróbico individual, conhecida pela sigla IAT. Na prática, o IAT é a cinética individual de lactato durante um teste, como explica o professor. Já a Vcrit é um método indireto para determinar em seu procedimento que os testes devem durar entre dois e 20 minutos, usando superfícies planas. Também é importante um intervalo de no mínimo 20 minutos entre as duas corridas. Para saber a velocidade média (Vcrit), basta reduzir o tempo do primeiro teste do segundo. “O limiar anaeróbico individual representa o comportamento entre a taxa de produção e remoção do lactato durante o esforço progressivo, além de não sofrer grande influência nas variações encontradas nos protocolos, como tempo de duração e aquecimento prévio”, informa o professor, que também é integrante do grupo de pesquisa e estudo em respostas neuromusculares.
DESEMPENHO
Métodos usados para medir como está a performance da pessoa na corrida
» Limiar do lactato
Para avaliar o limiar de lactato, os indivíduos realizaram seis séries de 1.000 metros correndo, com esforços de 75% a 100% do melhor tempo, com um intervalo de um minuto. Após a realização do esforço, foi realizada uma coleta sanguínea no lóbulo da orelha para verificar o comportamento do lactato sanguíneo. Tais coletas ocorreram logo após o estímulo.
» IAT
Para identificar o limiar anaeróbico foi usado o método visual proposto por Baldari & Guidetti, cujo critério empregado aponta o limiar para o segundo aumento no valor da Lac de pelo menos 0,5mmol.L-1 a partir do valor anterior, onde o valor para o segundo aumento foi maior ou igual ao do primeiro aumento. Esse método possibilita encontrar o IAT, identificando os valores para velocidade e frequência cardíaca em cada estágio.
» Vcrit
Foram executados dois testes em pista de atletismo de 400 metros de carvão, um teste de 3.000 metros e um teste de 5.000 metros, com um intervalo de 24 horas entre eles, onde os sujeitos deveriam percorrer essas distâncias no menor tempo possível. A Vcrit foi determinada por meio do coeficiente angular da reta de regressão linear entre a distância e os respectivos tempos.
» Consumo máximo
de oxigênio (VO2 máx)
Foi realizado o teste de campo de 2.400 metros, onde os indivíduos deveriam percorrer essa distância na maior velocidade possível.
» Estatística
A estatística usada foi uma comparação de médias e desvio padrão para identificar o ponto onde ocorre o limiar de lactato. Adotou-se uma análise de percentual para verificar a que porcentagem a Vcrit e a velocidade de LAn estavam do VO2 máx. Para comparar a correlação entre as velocidades no limiar de lactato, a velocidade crítica e a velocidade de VO2 máx, foi aplicado o teste de correlação bicaudal de Pearson.
Fonte: artigo “Comportamento dos parâmetros de controle de treinamento aeróbico durante testes de campo”
Daqui para o futuro
Próximos passos
A
equipe coordenada pelo professor da Ufla Sandro Fernandes da Silva
prepara outra pesquisa. “O próximo passo é a influência do horário no
dia em que são feitos os exercícios. Na verdade, o que determina nosso
ritmo é a nossa temperatura corporal. Temos um pico melhor, em teoria,
no período da tarde. Mas é importante ressaltar que cada indivíduo tem o
seu relógio biológico”, diz o cientista. Prescrição de treinamento individualizado
Publicação: 29/03/2014 04:00
O problema é que os testes para obter o LAn são caros, pois exigem deslocamentos dos atletas aos laboratórios. Os pesquisadores da Ufla, porém, fizeram os testes com os voluntários na pista de atletismo da universidade. Depois de os voluntários fazerem os testes físicos, a equipe de estudiosos procedeu a uma coleta sanguínea no lóbulo da orelha dos atletas amadores. A primeira gota foi desprezada nos testes, que foram analisados no lactímetro Accusport por meio do método chamado fotometria de reflexão.
A avaliação do lactato sanguíneo permite determinar o limiar anaeróbico de cada atleta. Em outras palavras, pode-se prescrever o treinamento do corredor em quantidade ideal tanto para o aumento do desempenho quanto para se precaver de lesões. “A velocidade crítica é uma boa estimuladora para prescrever o exercício. Acima da Vcrit ou do LAn, você tem uma dificuldade maior de realizar o exercício, gasta mais energia. Por exemplo, se minha Vcrit é 15km/hora, dá três minutos por quilômetro. Se ele faz um treinamento em 3,2 (minutos) por quilômetro, ele pode realizar o treinamento mais vezes por semana. Agora, se ele fizer um treinamento de 2,5 (minutos) por quilômetro, ele está correndo acima da velocidade crítica. Então, ele gasta muita energia. Ele precisa de 48 horas a 72 horas para se recuperar do treino. Caso não respeite o intervalo, a probabilidade de lesão será maior”, alerta o coordenador do estudo.
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