Projeto pretende transformar BH em centro de referência para cuidar de
doenças crônicas vertebrais. Para se ter ideia, 85% da população mundial
teve ou terá algum episódio de dor lombar ou cervical
Paula Takahashi
Estado de Minas: 27/04/2014
Minas Gerais pode se
tornar referência nacional no tratamento de dores na coluna. Projeto da
Associação Brasileira de Reabilitação de Coluna (ABRColuna), em parceria
com o Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral de Belo Horizonte
(ITC Vertebral), pretende iniciar os trabalhos com ações preventivas em
unidades de saúde e dentro das nove administrações regionais da capital,
evoluindo, em alguns anos, para a abertura de um centro formado por
equipes multidisciplinares dedicadas ao tratamento de doenças crônicas.
“Nossa
intenção é reproduzir alguns modelos presentes em outros países, onde
foram implementados centros com foco em prevenção e atenção primária,
mas que também oferecem tratamento para a população em geral”, antecipam
os fisioterapeutas e idealizadores do projeto Rodrigo Moura e Felipe
Moraes, sócios-proprietários da clínica FortaleSer e representantes do
ITC Vertebral em BH.
Na primeira etapa, os esforços serão
direcionados na execução de programas preventivos dentro das unidades de
saúde com a parceria de uma instituição de ensino. “O objetivo é
reduzir o número de consultas desnecessárias, cirurgias e outras
intervenções e, consequentemente, onerar menos o sistema público de
saúde”, explica Rodrigo. Para Felipe, as pessoas desconhecem as causas
das dores e, por isso, a necessidade de atuar preventivamente com ações
de conscientização. Na fase seguinte, a ideia é montar um centro de
tratamento com equipes multidisciplinares. “O local onde ele funcionaria
já está sendo estudado”, antecipa Rodrigo.
Para que o projeto
comece a caminhar e se perpetue, a dupla de idealizadores afirma que as
parcerias tanto com o poder público quanto com o privado estão em fase
de prospecção e consolidação. Eles reconhecem que já têm o apoio
político e que as conversas estão adiantadas. A intenção é que o
atendimento seja público e os profissionais que atuarão no local sejam
direcionados pela instituição de ensino parceira, também em fase de
escolha. Questões como viabilidade econômica, impactos sociais e
relevância já foram apresentadas e a expectativa é que o projeto,
pioneiro na capital mineira, seja reproduzido para os demais ITCs do
Brasil.
Todo esse esforço para prevenir e tratar as dores de
coluna tem motivo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca
de 85% da população mundial tem, teve ou terá algum episódio de dor
lombar ou cervical em algum momento da vida. Para se ter uma ideia da
amplitude do problema, dados mais recentes do Ministério da Previdência
Social revelam que as dores na coluna foram a principal causa de
afastamento do trabalho em 2012, motivando quase 160 mil licenças. É
também a terceira causa de aposentadoria precoce e segundo motivo de
visita aos médicos, perdendo apenas para problemas cardíacos.
ESTILO DE VIDA
O surgimento das dores pode ter inúmeras explicações. “Não há uma causa
específica, mas as principais seriam as alterações posturais,
sedentarismo e há também forte influência genética. Outros fatores
estariam relacionados a sobrepeso, distúrbios emocionais, tabagismo,
alcoolismo, entre outros”, enumera Felipe Moraes. Segundo Helder
Montenegro, presidente da ABRColuna, a questão genética continua tendo o
maior peso. “É responsável por 53% dos casos e ainda predomina como a
principal causa. Mas a questão postural motivada pelo atual estilo de
vida da população sem dúvida vem ganhando importância”, reconhece.
É
fundamental diferenciar dores localizadas e esporádicas com
complicações passíveis de cuidado médico, como uma hérnia de disco,
lombalgia ou escoliose. “Muitos experimentam um desconforto que acaba
passando despercebido. Para ter certeza de que se trata apenas de algo
pontual, o ideal é interromper a atividade que pode ter motivado aquela
dor, alongar, colocar um pouco de calor no local e ficar em repouso”,
orienta Djalma Pereira Mota, ortopedista do Hospital Israelita Albert
Einstein (HIAE). Se mesmo em repouso as dores permanecerem e se tornarem
contínuas, deve-se acender o sinal de alerta, já que pode ser indicação
de um processo inflamatório.
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