Mais que inzoneiro
Eduardo Almeida Reis - eduardo.reis@uai.com.br
Estado de Minas: 27/04/2014
Mais que manhoso, enredador e sonso, este vosso país é inacreditável. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é uma fundação federal vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, não do Butão, que é um reino, mas da República Federativa do Brasil.
Suas atividades de pesquisa “fornecem suporte técnico e institucional às ações do governo para a formulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento”. Pois muito bem: a fundação federal vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República divulgou como vimos, no dia 27 de março, pesquisa segundo a qual 65% dos brasileiros entrevistados afirmavam que “mulheres com roupas curtas merecem ser atacadas (estupradas)”.
Pesquisa que deu um auê dos diabos, deixando as senhoras jornalistas justamente indignadas, como Elisabete Pacheco e Eliane Cantanhêde no programa GloboNews em pauta. Aproveitando a embalagem, criticaram também os elogios feitos pelos homens às mulheres, que confundiram com o sexual harassment do machismo. Em favor das duas, seja dito que ressalvaram os elogios sinceros e educados.
Muitos anos atrás, numa fazenda mineira, fui apresentado a uma colega delas duas, morena que hoje também se destaca no GloboNews. Conversamos um pouquinho. Antes que a jornalista começasse a circular pelo salão rural, ouviu do philosopho: “Parabéns!”. Perguntou: “Parabéns por quê?”. E o philosopho, a cavaleiro de imenso charuto puro de Havana, explicou: “Parabéns por você”. A então jovem (e bela) morena se derreteu com o elogio educado.
Todos os jornais impressos e televisionados comentaram os números da pesquisa do Ipea, até que no dia 4 de abril, uma semana depois da divulgação, o mesmíssimo Ipea informou que houve um erro na pesquisa e que somente 26% dos brasileiros concordavam em que as mulheres com roupas curtas merecem ser estupradas, enquanto 70% discordavam total ou parcialmente da pergunta.
A nota informou: “Relatamos equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente pelo seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação na sociedade ao longo dos últimos dias. Contudo, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. Depois do erro, o diretor responsável pela área de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Rafael Guerreiro Osório, pediu exoneração do cargo, mas continua funcionário. Rafael é graduado em ciências sociais pela Universidade de Brasília (1999), mestre (2003) e doutor em sociologia (2009) pela mesma universidade. E a gente paga. E a gente escuta. Os 26% já são um escândalo: não há nada que justifique um estupro. Como também não há nada que justifique a incompetência do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Araminhos
Sabe aqueles araminhos revestidos de plástico que vêm fechando os pacotes de pães de fôrma? Antipatizo com eles. Nunca me fizeram grande mal nem me espetaram os dedos, mas não gosto deles. Não sossego enquanto não os jogo fora, assim que os pacotes permitem a torcedura do papel para fechá-los. Quanto custa um araminho? Presumo que seja vendido aos quilos e que o custo unitário seja próximo de zero. Pois muito bem: mineiramente, há uma padaria aqui perto que corta cada araminho em dois. Em matéria de miserabilidade comercial deve ser o recorde mundial.
Nada tenho contra os arames, tanto assim que não dispenso dois, de 19cm cada (medi agora), um na mesa do computador, outro ao lado da poltrona da sala de tevê. Servem para melhorar o desempenho dos charutos quando não queimam bem.
Volto aos araminhos divididos em dois para lhes contar que hoje ouvi no rádio a propaganda de um feirão de automóveis, que deve explicar os problemas de trânsito a que assistimos por aí. No tal feirão vendem-se carros usados por um real de entrada, isso mesmo, R$ 1, e a primeira prestação daqui a três meses, taxa de 0,59%. Dá para imaginar os perfis dos compradores e dos veículos.
O mundo é uma bola
27 de abril de 1500 – Mestre João desembarca da frota de Pedro Álvares Cabral e pisa o solo brasileiro para fazer observações astronômicas. João Faras ou João Emeneslau, conhecido como Mestre João, era médico, astrônomo, astrólogo e físico espanhol. Judeu, assim como Gaspar da Gama, que também viajava na frota cabralina, Mestre João era médico da coroa portuguesa. No dia 28 de abril de 1500 ele enviou uma carta ao rei dom Manuel I em que fazia comentários sobre as terras descobertas.
Num dos trechos da carta escrita naquela que é hoje a Baía Cabrália, onde identificou pela primeira vez a constelação do Cruzeiro do Sul, Mestre João sugere ao rei que peça um mapa em que poderia ver a localização das terras onde eles estavam, o que leva a crer que os portugueses já conheciam parte da costa brasileira.
Descoberta pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, a carta do Mestre João foi publicada pela primeira vez em 1843 na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Hoje é o Dia do Sacerdote e o Dia da Empregada Doméstica.
Ruminanças
“Gosta-se da bisbilhotice, mas o bisbilhoteiro é odiado” (Shlomo Rubin, 1823-1910).
Eduardo Almeida Reis - eduardo.reis@uai.com.br
Estado de Minas: 27/04/2014
Mais que manhoso, enredador e sonso, este vosso país é inacreditável. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é uma fundação federal vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, não do Butão, que é um reino, mas da República Federativa do Brasil.
Suas atividades de pesquisa “fornecem suporte técnico e institucional às ações do governo para a formulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento”. Pois muito bem: a fundação federal vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República divulgou como vimos, no dia 27 de março, pesquisa segundo a qual 65% dos brasileiros entrevistados afirmavam que “mulheres com roupas curtas merecem ser atacadas (estupradas)”.
Pesquisa que deu um auê dos diabos, deixando as senhoras jornalistas justamente indignadas, como Elisabete Pacheco e Eliane Cantanhêde no programa GloboNews em pauta. Aproveitando a embalagem, criticaram também os elogios feitos pelos homens às mulheres, que confundiram com o sexual harassment do machismo. Em favor das duas, seja dito que ressalvaram os elogios sinceros e educados.
Muitos anos atrás, numa fazenda mineira, fui apresentado a uma colega delas duas, morena que hoje também se destaca no GloboNews. Conversamos um pouquinho. Antes que a jornalista começasse a circular pelo salão rural, ouviu do philosopho: “Parabéns!”. Perguntou: “Parabéns por quê?”. E o philosopho, a cavaleiro de imenso charuto puro de Havana, explicou: “Parabéns por você”. A então jovem (e bela) morena se derreteu com o elogio educado.
Todos os jornais impressos e televisionados comentaram os números da pesquisa do Ipea, até que no dia 4 de abril, uma semana depois da divulgação, o mesmíssimo Ipea informou que houve um erro na pesquisa e que somente 26% dos brasileiros concordavam em que as mulheres com roupas curtas merecem ser estupradas, enquanto 70% discordavam total ou parcialmente da pergunta.
A nota informou: “Relatamos equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente pelo seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação na sociedade ao longo dos últimos dias. Contudo, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. Depois do erro, o diretor responsável pela área de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Rafael Guerreiro Osório, pediu exoneração do cargo, mas continua funcionário. Rafael é graduado em ciências sociais pela Universidade de Brasília (1999), mestre (2003) e doutor em sociologia (2009) pela mesma universidade. E a gente paga. E a gente escuta. Os 26% já são um escândalo: não há nada que justifique um estupro. Como também não há nada que justifique a incompetência do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Araminhos
Sabe aqueles araminhos revestidos de plástico que vêm fechando os pacotes de pães de fôrma? Antipatizo com eles. Nunca me fizeram grande mal nem me espetaram os dedos, mas não gosto deles. Não sossego enquanto não os jogo fora, assim que os pacotes permitem a torcedura do papel para fechá-los. Quanto custa um araminho? Presumo que seja vendido aos quilos e que o custo unitário seja próximo de zero. Pois muito bem: mineiramente, há uma padaria aqui perto que corta cada araminho em dois. Em matéria de miserabilidade comercial deve ser o recorde mundial.
Nada tenho contra os arames, tanto assim que não dispenso dois, de 19cm cada (medi agora), um na mesa do computador, outro ao lado da poltrona da sala de tevê. Servem para melhorar o desempenho dos charutos quando não queimam bem.
Volto aos araminhos divididos em dois para lhes contar que hoje ouvi no rádio a propaganda de um feirão de automóveis, que deve explicar os problemas de trânsito a que assistimos por aí. No tal feirão vendem-se carros usados por um real de entrada, isso mesmo, R$ 1, e a primeira prestação daqui a três meses, taxa de 0,59%. Dá para imaginar os perfis dos compradores e dos veículos.
O mundo é uma bola
27 de abril de 1500 – Mestre João desembarca da frota de Pedro Álvares Cabral e pisa o solo brasileiro para fazer observações astronômicas. João Faras ou João Emeneslau, conhecido como Mestre João, era médico, astrônomo, astrólogo e físico espanhol. Judeu, assim como Gaspar da Gama, que também viajava na frota cabralina, Mestre João era médico da coroa portuguesa. No dia 28 de abril de 1500 ele enviou uma carta ao rei dom Manuel I em que fazia comentários sobre as terras descobertas.
Num dos trechos da carta escrita naquela que é hoje a Baía Cabrália, onde identificou pela primeira vez a constelação do Cruzeiro do Sul, Mestre João sugere ao rei que peça um mapa em que poderia ver a localização das terras onde eles estavam, o que leva a crer que os portugueses já conheciam parte da costa brasileira.
Descoberta pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, a carta do Mestre João foi publicada pela primeira vez em 1843 na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Hoje é o Dia do Sacerdote e o Dia da Empregada Doméstica.
Ruminanças
“Gosta-se da bisbilhotice, mas o bisbilhoteiro é odiado” (Shlomo Rubin, 1823-1910).
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