sábado, 26 de abril de 2014

Eduardo Almeida Reis - Convinhável‏

Convinhável 

Na atual conjuntura, homens sérios não podem perder tempo com tolices. Portanto, o negócio é coçar o ex-ventre de burguês e tocar a vida



Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 26/04/2014

Como sabem aqueles que se divertem com tolices, convinhável, adjetivo de dois gêneros, entrou em nosso idioma no ano de 1278, sendo portanto mais antigo do que o doutor Mantega no ministério. O administrador da fazenda pantaneira do engenheiro Samuel da Costa Marques, sempre que o patrão sugeria algum trabalho, respondia: “Convinhava, doutor”. Vejo agora no Houaiss que o vocábulo convinhável supõe um verbo convinhar, do qual se depreenderia um “rad. + tema –a-, sob a forma convinha-, + -vel”.

O administrador era mineiro triangulino ou alto-paranaibano, sempre me confundo com essa divisão que botou o Araxá no Alto Paranaíba, quando sempre foi município do Triângulo Mineiro. Não posso falar de roça, que é para não irritar meus amigos interioranos, mas é certo que o interior de Minas conservou durante séculos palavras que sumiram das cidades. Já lhes contei do cabo PM do Oeste de Minas, que dizia “filosomia” em vez de fisionomia do sujeito que botava na cadeia. A gente morre de rir até descobrir que filosomia é puro Camões. Só uma coisa é certa: devemos todos convir em que o adjetivo convinhável é da melhor supimpitude.

Falemos do frio, assunto recorrente nesta bela coluna. Voltei a usar camisetas por baixo das camisas. Camisetas brancas, mangas curtas, as melhores que encontrei nas compras do ano passado. O diabo é que me coçavam a barriga do lado esquerdo. E o beócio se coçava atribuindo a coceira à pele da barriga, aliás ex-barriga, ou à ineficiência da nova máquina de lavar e secar, uma LG de alevantadas qualidades eletrodomésticas.

Na atual conjuntura, homens sérios não podem perder tempo com tolices. Portanto, o negócio é coçar o ex-ventre de burguês e tocar a vida, mas creio ter descoberto, sem querer, o motivo da coceira. A camiseta bacana tem uma etiqueta interna, do lado esquerdo, com as recomendações de lavagem, depois de informar que é 100% algodão.

Etiqueta inútil, porque as melhores operadoras de fogões e máquinas de lavar nunca leram etiquetas. E o diabo da etiqueta coçava até que descobri, num raro acesso de inteligência, que tem desenhada uma linha e a figura de uma tesoura, que é para ser cortada.


Deplorável
Pegou mal, muito mal mesmo, a iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de investigar as denúncias de que ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) fizeram viagens ao exterior acompanhados de suas mulheres com diárias pagas pelo STJ. Queriam o quê? Pretendiam que suas excelências os senhores ministros viajassem com as namoradas ou recorressem às garotas de programa na Ásia e na Europa? Desde quando viajar com a velha companheira é crime?

Os documentos analisados pelo CNJ provam que um número elevado de viagens ao exterior foi realizado por ministros do STJ e suas mulheres por conta do erário. Tudo bem: erário, do latim aerarium,ií – conjunto dos recursos financeiros públicos, tesouro, fazenda, os dinheiros e bens do Estado – não foi inventado para desfrute do zé-povinho, mas para deleite, deleitação, deleitamento da nobreza, do mandachuva, autoridade, cacique, cacutu, caudilho, chefão, curema, figurão, figuro, gunga, gunga-muxique, jabarandaia, magnata, magnate, maioral, manda, mandarim, manda-tudo, morubixaba, pajé, paredro, tutu, tutumumbuca, tutunqué.

Feliz do país em que o tutumumbuca do STJ ainda tem mulher, pouco importa se primeira, segunda, terceira – e viaja com ela. Pelo andar da carruagem, não vejo distante o dia em que só existam companheiros de ministros e companheiras de ministras, tutunqués viajando por conta do erário.


O mundo é uma bola
26 de abril de 1500: frei Henrique de Coimbra, OFM, oficia a primeira missa no Brasil. Dom frei Henrique Soares de Coimbra (1465-1532), frade e bispo lusitano, célebre missionário na Índia e na África, foi confessor de dom João II e observante em Alenquer, no primeiro convento franciscano de Portugal.

Na frota de Pedro Álvares Cabral, Henrique dirigia um grupo de religiosos destinados às missões no Oriente. Em Calecute, na Índia, depois do descobrimento do Brasil, cinco dos oito religiosos foram mortos num recontro com muçulmanos na sequência da traição do Samorim. Diante do fracasso da missão, Henrique voltou a Portugal. Dom Manuel I o acolheu como bispo de Ceuta, confirmado pelo papa Júlio II em 30 de janeiro de 1506.

Em 1564, batizado de William Shakespeare, suposto de ter nascido dia 23 de abril, pois o costume da época era batizar a criança três dias depois de nascer. Em 1933, fundação da polícia política nazista, a Gestapo, acrônimo em alemão de Geheime Staatspolizei, isto é, “polícia secreta do Estado”.

Em 1952, circula a primeira edição da revista Manchete, de Bloch Editores. Em 1964, Zanzibar e Tanganica se fundem para formar a Tanzânia. Em 1965, fundação no Rio de Janeiro da Rede Globo de Televisão. Em 1986 ocorre o acidente nuclear de Chernobil, que botou o mundo com as barbas de molho no capítulo da usinas nucleares. Em 1994, primeiras eleições multirraciais na África do Sul.

Em 2009, canonização de Nuno Álvares Pereira, também conhecido como Santo Condestável, Beato Nuno de Santa Maria (hoje São Nuno de Santa Maria) ou simplesmente Nun’Álvares (1360-1431), guerreiro e nobre português.


Ruminanças
“O sal de frutas é o parente pobre do champanhe” (Sofocleto, 1926-2004).

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