Maria Stella de Azevedo Santos
Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá
opoafonja@gmail.com
A atitude do juiz que não reconheceu manifestações afro-brasileiras como religiões precisa ser compreendida, porém jamais pode ser aceita
Mais uma polêmica para que possamos refletir e dar um passo rumo a umestágio evolutivo elevado
que ajude a construir uma sociedade harmônica e equilibrada. O noticiário televisivo deu a seguinte manchete: “Juiz não reconhece manifestações afro-brasileiras como religiões. A decisão gerou polêmica e surpreendeu líderes do candomblé e da umbanda e o Ministério Público Federal.” Sou uma líder do candomblé e confesso que eu não fiquei nem um pouco surpreendida.
Venho de um tempo em que a referida religião era perseguida pela polícia, em virtude de na época o Brasil ter uma religião oficial – o catolicismo. A atitude do juiz precisa ser compreendida, porém jamais pode ser aceita. Optei por não dizer seu nome, pois o nome de uma pessoa é tão sagrado que não deve ser pronunciado quando o dono dele comete atos impensados e infelizes.
Um belo e significativo ensinamento da Ordem Rosa Cruz diz: “Eu te compreendo, mas em nome do verdadeiro amor não posso aceitar.” Podemos compreender uma atitude que tem por base o preconceito, que é fruto da ignorância sobre o tema que o juiz ousou julgar. O ignorante é assim mesmo: é insolente, “grosseiro nos gestos, nas palavras ou nas ações.”
Não fiquei surpresa, fiquei indignada. Senti repulsa, não pelo cidadão em si, mas pelo seu ato vergonhoso. Quanto a meu irmão que praticou tal ato, verdadeiramente, senti pena e, consequentemente, desejo de ajudá-lo. Afinal, ele é meu irmão, somos filhos de uma única energia, que para o candomblé é chamada de Olorum – o Deus Supremo, que vive no céu (no orum), o qual se expandiu e Dele fez surgir todos os seres vivos que habitam a Terra.
Essa é uma explicação que dou para ajudar meu irmão a entender que as religiões de matriz africana têm, sim, um texto base no qual se baseiam para realizar seus rituais, mas principalmente para ajudar seus adeptos a se tornarem cidadãos “assentados” no bem e na verdade. Esse texto base nos ensina que não basta sentir pena. O Código de Ifá, conjunto de ensinamentos no qual se baseia o candomblé, ensina a seus adeptos que a ignorância precisa ser perdoada, compreendida, mas nunca aceita, e que cabe àquele que conhece os mistérios, instruir aqueles que não os conhecem. Obedecendo, portanto, às orientações dadas pelos seres superiores, esclareço a meu irmão alguns detalhes do candomblé sobre o qual ele demonstra não ter o conhecimento necessário para realizar um julgamento.
A religião trazida para o Brasil por um povo possuidor de dignidade e generosidade inigualáveis tem um texto base, o qual é inclusive codificado através de códigos matemáticos. Não podemos, nem devemos esquecer-nos que um texto, em seu sentido amplo, é um conjunto de palavras expressas de maneira oral ou escrita, que pode ser longo ou breve, antigo ou moderno. Preciso pacientemente repetir que o texto base do candomblé é o Código de Ifá, pois um educador é educad para ser paciente. E nós, sacerdotes de qualquer religião, somos educadores de almas. Explicando ainda mais um pouco, o Código de Ifá é um sistema longo e antigo, considerado axiomático por revelar verdades universalmente dignas e válidas, ditas de maneira simples para expressar a complexa realidade da vida.
Também pacientemente repito que o candomblé possui um Deus Supremo, sendo os orixás divindades que servem como intermediárias entre Olorum e os humanos. Quanto à hierarquia, este é um dos grandes e fortes pilares dessa religião milenar, tanto no que se refere ao mundo das divindades quanto à comunidade dos “terreiros”. No mundo sagrado se tem: Olorum, orixás funfun (descendente direto do hálito do Deus Supremo), orixás vinculados ao ar, água, fogo e terra, seres humanos, animais, vegetais e minerais. Nas comunidades do candomblé a hierarquia está em tudo: nos cargos (iyalorixá, iyakekere egbomi, yaô, abian); no respeito à idade de nascimento do corpo (os “nossos mais velhos”) e à idade de nascimento, na Terra, da essência divina de cada um. Encerrarei este texto com um provérbio contido no Código de ifá: “O tempo pode ser longo, mas uma mentira não cai em esquecimento.”
Oi Renata te achei pelo google, queria ler o texto acima, e realmente lamentar o mundo ainda agir dessa maneira, mas, vamos esperar pois, agua mole pedra dura tanto bate até que fura.
ResponderExcluirPatricia
Umbanda
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ResponderExcluirNo meu ponto de vista esse texto é cheio de bla bla bla. E sim candomblé e umbanda são sim religiões, porém no caso do candomblé a unica ligação com a africa é o fato de ter sido cultuada por negros escravos oriundos de la, pois no Brasil cultua-se Candomblé ( forças vitais da natureza) muito diferente do que se cultua na Africa (culto a ancestrais). Então concordo com o fato de Candomblé e Umbanda serem religiões e que merecem respeito sim, agora essa coisa de vincular a Africa com essa afirmação eu descordo. Motumba
ResponderExcluirAnderson eu também penso assim, o fato que o candomblé e a umbanda não vieram na África, elas são religiões e podemos considerar assim, e nasceram no Brasil, porém o culto a ancestrais (orixás) que os escravos vindo da África trouxeram para o Brasil.
ResponderExcluirJosy o caminho é praticamente esse mesmo, porém as pessoas confundem um pouco as coisas, o fato de o candomblé ter sido praticado por negros não faz dele de origem africana, na africa candomblé não existe e ponto. Conheço o Asé da mãe Stella de Oxossi e inclusive pertenço a ele, a respeito e de modo algum desconsidero as palavras dela, porém as pessoas no geral tem esse mau habito de vincular candomblé a Africa. Mas acredito que vc tenha compreendido o que eu quis dizer.
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