quarta-feira, 14 de maio de 2014

Eduardo Almeida Reis - Lição‏


Cícero e a maioria dos seus contemporâneos foram educados com os ensinamentos de velhos filósofos, poetas e historiadores gregos


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 14/05/2014






Marcus Tullius Cicero (106-43 a.C.), em português Marco Túlio Cícero, figura máxima da latinidade clássica, filósofo, orador, escritor, advogado e político nascido em Arpino, 100 quilômetros ao sul de Roma, não era um “romano” no sentido clássico e dizem que se envergonhava disso.

In illo tempore, para ser considerada pessoa culta havia que falar grego e latim. A alta classe romana preferia usar o grego na correspondência privada, porque tinha expressões mais refinadas e precisas, era sutil e mais rico em nomes abstratos. Cícero e a maioria dos seus contemporâneos foram educados com os ensinamentos de velhos filósofos, poetas e historiadores gregos. Aos esquecidos relembro que in illo tempore significa “naquele tempo” e pega bem à beça.

Os mais proeminentes professores de oratória também eram gregos e Cícero utilizou seus conhecimentos daquela língua para traduzir em latim muitos conceitos teóricos da filosofia grega e conseguir maior audiência. Por sua educação, acabou ligado à tradicional elite romana.

Seu pai era um rico equestre com bons contatos em Roma. Em latim, di-lo a Wikipédia, Cícero (cicer,eris) significa grão-de-bico. Segundo o historiador Plutarco, um dos antepassados de Cícero tinha uma covinha na ponta do nariz que parecia um grão-de-bico, se bem que o referido grão tenha parecença com a verruga. De repente, era a ponta do nariz e não a covinha que parecia um grão-de-bico.

Foi-lhe sugerida, ao entrar na política, a mudança do nome ridículo, mas ele se recusou dizendo que faria de Cícero nome mais glorioso do que Escauro (“com os tornozelos inchados”) e Catulo (“Cachorrinho”). Casamento, divórcio, outro casamento com uma jovem, livros publicados, carreira política, sua vida foi muito complicada e não cabe nos limites desta coluna. Foi assassinado em 43 a.C.

Leitor atento mandou-me lição de Cícero datada de 55 a.C., que tem, portanto, 2014 + 55 anos. Ei-la: “O orçamento deve ser equilibrado, o tesouro público deve ser reposto, a dívida pública deve ser reduzida, a arrogância dos funcionários públicos deve ser moderada e controlada, e a ajuda a outros países deve ser eliminada para que Roma não vá à falência. As pessoas devem aprender a trabalhar, em vez de viver às custas do Estado”.

Qualquer semelhança com um país grande e bobo não é mera coincidência, mas ficou faltando explicar o significado de equestre. A ordem equestre romana (ordo equester) formava a mais baixa das duas classes aristocráticas da Roma Antiga: a mais alta era a ordem senatorial (ordo senatorius).

O membro da ordo equester era um eques, plural equites, que em latim significa qualquer pessoa a cavalo, mas naquele contexto tinha o significado de cavaleiro. Quando a cavalaria legionária foi abolida, os cavaleiros proviam os oficiais veteranos e grande parte da cavalaria das legiões manipulares até 88 a.C., ocasião em que a cavalaria legionária foi abolida. Manipular, no caso, era cada um dos soldados de um manípulo (subdivisão).

Jurídicas

Não por acaso, o direito romano foi e continua sendo disciplina ministrada em nossas melhores escolas jurídicas, aquelas que conseguem aprovar o maior número de bacharéis nos exames da OAB.
Não por acaso, Dei Dellitti e Delle Penne, livro originalmente publicado em 1746, foi escrito por Cesare Bonesana, marquês de Beccaria, jurista, filósofo, economista e literato italiano, avô do escritor e poeta Alessandro Francesco Tommaso Manzoni (1785-1873), um dos mais importantes nomes da literatura italiana.

Não por acaso, outrossim, Cesare Lombroso (1835-1909), psiquiatra, cirurgião, higienista, criminologista, antropólogo e cientista, autor de L’uomo Delinquente, in rapporto all’antroipologia, alla giurisprudenza ed alle discipline carcerarie, era nascido em Verona, Itália.

Por isso, a Itália vem de dar ao mundo admirável lição jurídica ao condenar por fraude fiscal Silvio Berlusconi, de 77 anos, bilionário e político, quatro vezes primeiro-ministro, a um ano de prestação de serviços comunitários. A partir de agora, uma vez por semana, durante quatro horas consecutivas, don Berlusca deverá cuidar de idosos num asilo de Milão, a 40 quilômetros do palácio em que vive.

Nada mais chato do que cuidar de idosos. Falo de cadeira, ou, mais precisamente, de uma cadeira próxima do teclado do computador, porque cuido de mim 24 horas por dia. Berlusconi, durante quatro horas, uma vez por semana, vai ver o que é bom para a tosse.

O mundo é uma bola
14 de maio de 1264: Henrique III, da Inglaterra, é capturado na Batalha de Lewes e forçado a assinar o Mise of Lewes, fazendo de Simão de Monfort o governante de fato da Inglaterra.

Em 1265, Simão foi capturado e morto pelo príncipe herdeiro Eduardo, que restaurou o reinado de Henrique III e dissolveu o parlamento.

Em 1610, o rei Henrique IV, da França, foi assassinado em Paris. A matança de governantes deve ter contribuído para o esplendor da França e da Inglaterra, como também dos Estados Unidos e da Rússia.

Em 1897, primeira transmissão de rádio da história pelo físico e inventor italiano Guglielmo Marconi.

Ruminanças
“Programas de debates no rádio, como aquele do Haroldo de Andrade com debatedores inteligentes, eram interessantíssimos. Debatedores catados a laço nos corredores das emissoras fazem programas insuportáveis” (R. Manso Neto).  

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