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Educar é a questão
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 25/05/2014
A violência nas noites de Belo Horizonte anda preocupando os pais e avós dos adolescentes, que aqui têm passe livre para sair madrugada afora e fazer o que bem entenderem. Questão presente de todos os pais é como educar e cuidar dos filhos para que estejam em segurança e sejam adultos produtivos e independentes. Não resta dúvida que todos desejam para seus filhos o melhor. Difícil é saber o que é este melhor.
Isto porque o bem para um pode não ser o bem para o outro, então, de cara, temos aí uma discordância. A verdade não é única, como nos tempos antigos, quando éramos forçados a crer em Deus ou seríamos queimados. Cada um tem a sua particular maneira de ver a vida, que está para além do universal. Mas a questão da segurança é universal. E a educação, embora deva ser para todos, guarda aspectos particulares em cada família. Há os mais e os menos liberais. E quando a adolescência dos filhos chega, para cada cabeça uma sentença.
Segundo Freud, em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), a sexualidade infantil é viva e atuante, sendo esquecida no final da infância e ressurgida depois de um período de latência, a partir das mudanças do corpo. Aqui começa o processo de adolescência, um reencontro com uma sexualidade infantil parcialmente esquecida e desautorizada, e a caminho do momento de assumir a vida sexual adulta, seja hétero ou homossexual, fazendo escolhas e tomando posições diante do outro e da vida.
Além disso, deverá separar-se dos pais e criar um círculo social fora da família. A separação dos pais é um dos processos mais sofridos da adolescência e é sentida por muitos como um ato de traição, porque será preciso discordar e desenvolver suas próprias opiniões e provar que as tem.
De todo modo, a presença dos pais é fundamental, e eles ainda não estão livres de suas tarefas de educadores: precisam concluir seu trabalho para que o adolescente conclua a separação e siga seu caminho e função sexual sadiamente. Então, é preciso garantir a presença para que eles sigam a vida conforme a necessidade. É preciso deixar os pais sem se sentir culpado ou acusado de ingratidão.
Em outras culturas, nos EUA, por exemplo, os adolescentes ainda são privados de grande parte das liberdades que vemos aqui no Brasil. Eles respeitam leis: pais e filhos. Menores não bebem, não saem pelas madrugadas para boates com documentos falsos, não podem voltar de táxi sozinhos e nem sequer de carona com pais de amigos. Dormir na casa dos outros, nem pensar. Isso porque abrem-se processos caso alguma coisa ocorra, como beber demais, se envolver em um acidente de carro etc. Então, a maioria dos pais não assume responsabilidade com filhos dos outros. Eles sabem da gravidade das situações que podem encontrar.
Aqui em Belo Horizonte, há um excesso que vem sendo denunciado frequentemente e é preocupação de pais e avós. São as brigas em portas de festas e boates. São grupos de um colégio se rivalizando com outros, que se juntam e se atacam pelas costas, derrubando e pisando no rosto dos jovens caídos, provocando severas sequelas. E o resultado? Nada.
Porque as famílias defendem os filhos com unhas e dentes, como se o errado sempre fosse o outro, e continuam permitindo aos pequenos vândalos sair para a “night”. Deveriam ficar contidos até aprenderem a se comportar como manda a boa educação. A função paterna parece fraca, hoje, não opera bem, deixando os pais com medo de enfrentar e frustrar os filhos adorados, idolatrados, salve, salve! Tornam-se as majestades do lar, que devem ser atendidas em todos os seus caprichos, porque assim foram acostumadas.
Se você deseja ter um filho que possa participar da comunidade em que vive, não o trate como um rei ou uma rainha, porque o que eles precisam mesmo é de saber o seu lugar (e não é no trono, a monarquia acabou!), como criança que obedece e não impõe sobre os pais seus imperativos caprichosos.
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 25/05/2014
A violência nas noites de Belo Horizonte anda preocupando os pais e avós dos adolescentes, que aqui têm passe livre para sair madrugada afora e fazer o que bem entenderem. Questão presente de todos os pais é como educar e cuidar dos filhos para que estejam em segurança e sejam adultos produtivos e independentes. Não resta dúvida que todos desejam para seus filhos o melhor. Difícil é saber o que é este melhor.
Isto porque o bem para um pode não ser o bem para o outro, então, de cara, temos aí uma discordância. A verdade não é única, como nos tempos antigos, quando éramos forçados a crer em Deus ou seríamos queimados. Cada um tem a sua particular maneira de ver a vida, que está para além do universal. Mas a questão da segurança é universal. E a educação, embora deva ser para todos, guarda aspectos particulares em cada família. Há os mais e os menos liberais. E quando a adolescência dos filhos chega, para cada cabeça uma sentença.
Segundo Freud, em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), a sexualidade infantil é viva e atuante, sendo esquecida no final da infância e ressurgida depois de um período de latência, a partir das mudanças do corpo. Aqui começa o processo de adolescência, um reencontro com uma sexualidade infantil parcialmente esquecida e desautorizada, e a caminho do momento de assumir a vida sexual adulta, seja hétero ou homossexual, fazendo escolhas e tomando posições diante do outro e da vida.
Além disso, deverá separar-se dos pais e criar um círculo social fora da família. A separação dos pais é um dos processos mais sofridos da adolescência e é sentida por muitos como um ato de traição, porque será preciso discordar e desenvolver suas próprias opiniões e provar que as tem.
De todo modo, a presença dos pais é fundamental, e eles ainda não estão livres de suas tarefas de educadores: precisam concluir seu trabalho para que o adolescente conclua a separação e siga seu caminho e função sexual sadiamente. Então, é preciso garantir a presença para que eles sigam a vida conforme a necessidade. É preciso deixar os pais sem se sentir culpado ou acusado de ingratidão.
Em outras culturas, nos EUA, por exemplo, os adolescentes ainda são privados de grande parte das liberdades que vemos aqui no Brasil. Eles respeitam leis: pais e filhos. Menores não bebem, não saem pelas madrugadas para boates com documentos falsos, não podem voltar de táxi sozinhos e nem sequer de carona com pais de amigos. Dormir na casa dos outros, nem pensar. Isso porque abrem-se processos caso alguma coisa ocorra, como beber demais, se envolver em um acidente de carro etc. Então, a maioria dos pais não assume responsabilidade com filhos dos outros. Eles sabem da gravidade das situações que podem encontrar.
Aqui em Belo Horizonte, há um excesso que vem sendo denunciado frequentemente e é preocupação de pais e avós. São as brigas em portas de festas e boates. São grupos de um colégio se rivalizando com outros, que se juntam e se atacam pelas costas, derrubando e pisando no rosto dos jovens caídos, provocando severas sequelas. E o resultado? Nada.
Porque as famílias defendem os filhos com unhas e dentes, como se o errado sempre fosse o outro, e continuam permitindo aos pequenos vândalos sair para a “night”. Deveriam ficar contidos até aprenderem a se comportar como manda a boa educação. A função paterna parece fraca, hoje, não opera bem, deixando os pais com medo de enfrentar e frustrar os filhos adorados, idolatrados, salve, salve! Tornam-se as majestades do lar, que devem ser atendidas em todos os seus caprichos, porque assim foram acostumadas.
Se você deseja ter um filho que possa participar da comunidade em que vive, não o trate como um rei ou uma rainha, porque o que eles precisam mesmo é de saber o seu lugar (e não é no trono, a monarquia acabou!), como criança que obedece e não impõe sobre os pais seus imperativos caprichosos.
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