O DIA BRILHA
a poesia é uma cadeira que se coloca do lado
de fora num dia de sol
o poeta está do lado de fora e encarquilha
sem protetor solar
o poeta está de pé ao lado da cadeira ao pé
da cadeira e o dia brilha
atrás do poeta a mata escura absorve com força
os respingos do sol
o poeta encarquilha como folha vinda da mata
que caiu no chão do lado de fora
a cadeira tem o formato da espinha de alguém
que está sentado ao sol
mas o poeta cai como a vagem encarquilhada
de uma árvore escura
nenhuma ave ou sopro de vento apenas um poeta
sem protetor solar
ao lado de uma cadeira em forma de espinha
e pele ressecada
MANUAL DE FLUTAÇÃO PARA AMADORES
não se esqueça de onde veio
nem para onde os ventos o carregam
apenas sinta que seus pés se despregaram do chão
se quiser ainda poderá pisar
deitar raízes pela planta dos pés
transformar-se em pedra tronco lenhador
mas embotará para sempre a clareza do voo
o burburinho oceânico dos ventos
as intercambiáveis direções das correntes
as filigranas orgânicas do ar
depois de algum tempo
sentirá que somos bússolas birutas
objetos fantasmagóricos
uns para os outros
e que a técnica de pisar
responde ao medo de morrermos
juntos de morrermos todos sós
leia a entrevista aqui:
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