Única mulher entre os diretores do Cinema Novo, Helena Solberg será homenageada em BH. Premiada no exterior, a artista é praticamente desconhecida do público de seu próprio país
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 21/07/2014
Vida de menina, protagonizado por Ludmila Dayer, é um dos filmes de ficção dirigidos por Helena Solberg |
Helena Solberg (D) em ação no set de filmagens na Bolívia |
Helena Solberg é figura importante da cultura de nosso país: dedicou 50 anos às telas, com filmes premiados no Brasil e no exterior, sobretudo documentários. Entretanto, o público brasileiro praticamente ignora essa artista, a única mulher entre os diretores do Cinema Novo. Merecidamente, Helena acaba de ganhar duplo tributo: homenageada pelo festival É Tudo Verdade, cuja edição belo-horizontina começa na quinta-feira, ela é tema do livro da jornalista e pesquisadora Mariana Tavares que será lançado no sábado.
“Quando a gente fala de documentaristas brasileiros, sempre nos lembramos de Eduardo Coutinho ou do Walter Carvalho. Não que eles não sejam importantes, mas há outros nomes sobre os quais nada foi escrito ainda. No Brasil, há uma tendência de estudar diretores estrangeiros. A bibliografia sobre o cinema nacional ainda é muito pequena”, lamenta Mariana Tavares, autora de Helena Solberg – Do Cinema Novo ao documentário contemporâneo (Imprensa Oficial de São Paulo). O livro contou com o apoio de Amir Labaki, diretor e fundador do festival É Tudo Verdade.
“Essa obra ajuda a entender quem é Helena Solberg, sua importância, e a conhecer seu cinema”, destaca Mariana Tavares. Pela primeira vez, o É Tudo Verdade exibe a retrospectiva de uma diretora brasileira. BH verá dois de seus filmes – A conexão brasileira: A luta pela democracia e Vida de menina.
“Mais da metade da carreira de Helena, desenvolvida nos EUA entre as décadas de 1970 e 1990, era desconhecida em nosso país. Organizamos um ciclo pioneiro, apresentando uma visão geral da riqueza e variedade do trabalho dela”, explica Labaki. Documentário e ficção ganham destaque. “Em primeiro lugar, eles representam a excelência da diretora nos dois gêneros. Há também o ineditismo de A conexão... por aqui e as raízes mineiras da adaptação do clássico de Helena Morley”, observa.
Mariana Tavares se impressionou com o talento da cineasta à medida em que assistia aos filmes dela, como o premiado Carmen Miranda: Banana is my business, marco do documentário brasileiro, The double day (A dupla jornada), Palavra En(cantada) e A alma da gente. “Helena sabe humanizar os temas amplos que aborda”, destaca a pesquisadora. “Ao mesmo tempo em que consegue emocionar, ela traz uma carga de informações, além de sua grande habilidade de articular um filme. Do contrário, o espectador corre o risco de não se envolver”, explica. Atuante desde a década de 1960, a artista é inquieta, sempre preocupada em se atualizar. “Ela não ficou fazendo a mesma coisa a vida toda”, salienta Mariana.
Seleção A capital mineira vai receber 11 dos principais destaques da 19ª edição do É Tudo Verdade, que ficou em cartaz em abril no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Amir Labaki destaca a presença dos vencedores das mostras competitivas. O brasileiro Homem comum, de Carlos Nader, é um filme-ensaio complexo e multifacetado sobre a convivência do diretor com o caminhoneiro Nilson de Paula. Documentário de animação, Jasmine, do francês Alain Ughetto, enternece com um caso amoroso no Irã durante a Revolução Islâmica.
Labaki recomenda: “É preciosa a oportunidade de conhecer dois dos mais marcantes documentários realizados pelo cineasta japonês Shohei Imamura (1926-2006): o híbrido doc-fic Um homem desaparece (1967) e Karayuki-san: A fabricação de uma prostituta (1975).
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