Ailton Magioli
Estado de Minas: 06/07/2014
Quarteto Maogani, composto por diferentes tipos de violão, tem trabalhos instrumentais e ligados à canção popular |
Anterior ao maxixe e ao próprio choro, que o compositor Ernesto Nazareth (1863-1934) tão bem representou, o tango brasileiro é o destaque de Pairando, novo disco do quarteto carioca de violões Maogani. “Ernesto Nazareth até chegou a compor duas ou três músicas que ele mesmo chamou de choro, mas em sua música há sempre o intercâmbio de gêneros, com muitos tangos sendo tocados como choros”, observa o violonista Paulo Aragão, que lidera o grupo.
Como explica o músico, o tango brasileiro foi o gênero que o pianista carioca mais compôs, apesar de também ter feito valsas e foxtrotes, como prova o repertório de Pairando. Como sempre gostou e tocou algo do autor, o quarteto de violões acredita que a gravação do disco da Biscoito Fino foi muito natural para eles. “Eu, particularmente, comecei a trabalhar a obra de Ernesto Nazareth no ano passado, por meio do projeto dos 150 anos de nascimento do compositor, que resultou no site www.ernestonazareth150anos.com.br, o mais completo de um artista que se tem notícia no país”, revela, orgulhoso, Aragão, que durante um ano recolheu tudo a que teve acesso da obra de Nazareth.
“Foi quando me dei conta de que, mesmo sendo um artista fundamental – ele foi um dos pilares da MPB –, muitas músicas de Ernesto Nazareth eram ignoradas, quase obscuras mesmo”, diz o violonista. Paulo Aragão integra o Maogani ao lado dos amigos e parceiros Carlos Chaves (violão requinto), Sergio Valdeos (violão de sete cordas) e Marcos Alves (violão de seis cordas). Responsável pelo oito cordas do quarteto, Aragão diz que o compositor carioca fechou um ciclo com o piano. “Apesar de trazer uma influência da música europeia, Nazareth se deixava abrir pela questão rítmica. Ele tinha uma escrita muito rica”, elogia. O violonista salienta ainda a presença do clássico e do popular na obra do compositor carioca.
“Trata-se de coisas muito próximas da gente”, garante Paulo Aragão, lembrando do empenho do quarteto em fazer a música popular soar no formato camerístico. “Fazer o disco com a obra de Nazareth, portanto, foi muito natural”, reforça. Pairando – Maogani interpreta Nazareth é o quinto disco do quarteto, formado em 1995, no Rio, que já colaborou com artistas como Guinga, Leila Pinheiro, Jane Duboc, Joyce, Wagner Tiso, Celia Vaz e Hamilton de Holanda, entre outros.
O repertório reúne 12 temas: os tangos brasileiros Arreliado, Pairando, Espalhafatoso, Jangadeiro, Plangente, Quebra-cabeças e Furinga; a polca Cruz, perigo!; o tango de salão O alvorecer; o foxtrote Nove de maio; o tango mediativo Por que sofrer?; e a valsa Resignação.
Autor de 210 músicas, Nazareth emplacou pelo menos três grandes sucessos (Odeon, Apanhei-te cavaquinho e Brejeiro), além de ter outras 35 bastante tocadas, de acordo com Paulo Aragão. A pequena obra-prima que batiza o CD (Pairando), conforme lembra o encarte, foi publicada em 1921 e passou despercebida, sendo incompreensivelmente pouco gravada e raramente tocada até hoje.
História na rede
No ano passado, para marcar o 150º aniversário de nascimento de Ernesto Nazareth, o Instituto Moreira Salles publicou, em formato digital, a pesquisa de Luiz Antonio de Almeida sobre a vida e obra do compositor carioca. Produto de 38 anos de trabalho ininterrupto, reúne informações sobre o compositor, com dezenas de entrevistas de pessoas que o conheceram e conviveram com ele. Herdeiro do acervo de Nazareth, Luiz Antonio passou o mesmo para o IMS, em 2005. A pesquisa, que contabiliza 400 páginas, está integralmente disponível no site www.ernestonazareth150anos.com.br, organizada em 750 tópicos, em ordem cronológica, com mecanismo próprio de busca.
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