Marcas genéticas dos maus-tratos - Vilhena Soares
Estado de Minas: 30/07/2014
Crianças vítimas de violência física sofrem alterações em gene ligado ao amadurecimento físico e emocional, segundo estudo americano
Além da dor e das
lembranças desagradáveis, sofrer violência física durante a infância
pode ter implicações genéticas. Um novo estudo conduzido por cientistas
da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, comprova a ocorrência
de alterações no DNA de crianças que sofreram maus-tratos. O grupo
também identificou que essa mutação interfere na metilação — processo
responsável pelo desenvolvimentos de nervos —, prejudicando o
desenvolvimento físico e emocional de indivíduos. O trabalho pode ajudar
a esclarecer suspeitas sobre a origem de problemas fisiológicos em
jovens e adultos e auxiliar na busca de tratamentos para complicações
causadas por traumas sofridos no início da vida.
Os cientistas partiram do resultado de outros trabalhos científicos indicando que crianças vítimas de agressões físicas, abuso sexual e negligência são mais propensas a desenvolver problemas de humor, ansiedade e distúrbios agressivos. Também usaram como base um experimento semelhante feito com ratos. “Nós queríamos saber se o efeito também era constatado em humanos”, explica Seth Pollak, professor de psicologia e pediatria da Universidade de Wisconsin e autor principal do estudo.
Participaram da pesquisa 54 crianças, com idades entre 11 e 14 anos, sendo que metade tinha sido abusada fisicamente. Ao comparar o DNA de ambos os grupos, os cientistas de Wiscosin constataram que as maltratadas tinham aumentado o processo de metilação, um dos vários mecanismos bioquímicos usados pelas células para o controle da expressão de genes.
A alteração foi constatada em vários locais do gene receptor de glicocorticoides, também conhecido como NR3C1, repetindo o resultado do estudo feito com ratos. Segundo os autores do trabalho, essa alteração pode acarretar em problemas físicos e emocionais no organismo humano. “Essas crianças têm dificuldade no regulador de estresse e emoções negativas do cérebro. No sangue, possuem mais dificuldade em lutar contra doenças”, explica Pollak.
Interruptor Roberto Giugliani, chefe do Serviço de Genética Médica do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, explica que a metilação é um dos processos mais importantes relacionados ao DNA. Ela funciona como um interruptor, desligando e ligando genes. “É por conta disso que alterações nessa região podem gerar problemas como o mostrado nesse experimento. Essas alterações são tão importantes de se entender que, quando um paciente tem câncer, é necessário analisar as que surgiram no tecido doente para melhor tratar o problema”, exemplifica.
A alteração genética identificada nos ratos afetou o eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal (HPA). Interrupções nesse sistema, segundo cientistas, podem explicar por que é tão difícil para as pessoas regular as emoções e os níveis de estresse. “Essa ligação entre o estresse precoce e mudanças em genes pode nos ajudar a descobrir como as experiências da primeira infância ficam sob a pele e oferecem risco ao longo da vida”, observa Pollak.
O cientista acredita que os resultados obtidos, além de dar mais validade a teorias já levantadas sobre problemas causados pelo abuso físico na infância, podem ter uma aplicação clínica. “Agora, temos uma maneira de entender como a experiência da primeira infância permanece com um indivíduo ao longo de muitas décadas. Isso deve nos permitir pensar em novos tratamentos que podem reverter esses efeitos”, acredita.
Geneticista do Laboratório Pasteur, Gustavo Guida também acredita que a identificação do gene causador de problemas emocionais e físicos pode ajudar em tratamentos voltados a pessoas vítimas de abusos. “No momento em que você tem um marcador biológico do que aconteceu e sabe identificar a alteração de maneira precisa, você passa a ter a possibilidade de buscar alvos para manipular a situação.” O desenvolvimento de uma droga que provoque esse efeito é cogitado pelo especialista. “Você pode ter alguma substância que venha a suprir a desregularização. É um alvo para uma pesquisa básica que pode desenvolver uma nova linha de medicamentos”, completa.
Guida ressalta ainda que a alteração na metilação mostrada pelos cientistas da instituição norte-americana causa problemas até em outros sistemas do organismo, como o mecanismo de ganho de peso. “Temos o caso de um outro estudo, ainda não validado, que mostra que, dependendo de como foi o ganho de peso da avó, o neto tem um padrão diferente de desenvolvimento do peso. É um assunto mais controverso, mas sabemos também que, se a pessoa sofre desnutrição no período inicial de vida, ela tem uma tendência maior a uma desregulação metabólica futura”, detalha.
Os cientistas partiram do resultado de outros trabalhos científicos indicando que crianças vítimas de agressões físicas, abuso sexual e negligência são mais propensas a desenvolver problemas de humor, ansiedade e distúrbios agressivos. Também usaram como base um experimento semelhante feito com ratos. “Nós queríamos saber se o efeito também era constatado em humanos”, explica Seth Pollak, professor de psicologia e pediatria da Universidade de Wisconsin e autor principal do estudo.
Participaram da pesquisa 54 crianças, com idades entre 11 e 14 anos, sendo que metade tinha sido abusada fisicamente. Ao comparar o DNA de ambos os grupos, os cientistas de Wiscosin constataram que as maltratadas tinham aumentado o processo de metilação, um dos vários mecanismos bioquímicos usados pelas células para o controle da expressão de genes.
A alteração foi constatada em vários locais do gene receptor de glicocorticoides, também conhecido como NR3C1, repetindo o resultado do estudo feito com ratos. Segundo os autores do trabalho, essa alteração pode acarretar em problemas físicos e emocionais no organismo humano. “Essas crianças têm dificuldade no regulador de estresse e emoções negativas do cérebro. No sangue, possuem mais dificuldade em lutar contra doenças”, explica Pollak.
Interruptor Roberto Giugliani, chefe do Serviço de Genética Médica do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, explica que a metilação é um dos processos mais importantes relacionados ao DNA. Ela funciona como um interruptor, desligando e ligando genes. “É por conta disso que alterações nessa região podem gerar problemas como o mostrado nesse experimento. Essas alterações são tão importantes de se entender que, quando um paciente tem câncer, é necessário analisar as que surgiram no tecido doente para melhor tratar o problema”, exemplifica.
A alteração genética identificada nos ratos afetou o eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal (HPA). Interrupções nesse sistema, segundo cientistas, podem explicar por que é tão difícil para as pessoas regular as emoções e os níveis de estresse. “Essa ligação entre o estresse precoce e mudanças em genes pode nos ajudar a descobrir como as experiências da primeira infância ficam sob a pele e oferecem risco ao longo da vida”, observa Pollak.
O cientista acredita que os resultados obtidos, além de dar mais validade a teorias já levantadas sobre problemas causados pelo abuso físico na infância, podem ter uma aplicação clínica. “Agora, temos uma maneira de entender como a experiência da primeira infância permanece com um indivíduo ao longo de muitas décadas. Isso deve nos permitir pensar em novos tratamentos que podem reverter esses efeitos”, acredita.
Geneticista do Laboratório Pasteur, Gustavo Guida também acredita que a identificação do gene causador de problemas emocionais e físicos pode ajudar em tratamentos voltados a pessoas vítimas de abusos. “No momento em que você tem um marcador biológico do que aconteceu e sabe identificar a alteração de maneira precisa, você passa a ter a possibilidade de buscar alvos para manipular a situação.” O desenvolvimento de uma droga que provoque esse efeito é cogitado pelo especialista. “Você pode ter alguma substância que venha a suprir a desregularização. É um alvo para uma pesquisa básica que pode desenvolver uma nova linha de medicamentos”, completa.
Guida ressalta ainda que a alteração na metilação mostrada pelos cientistas da instituição norte-americana causa problemas até em outros sistemas do organismo, como o mecanismo de ganho de peso. “Temos o caso de um outro estudo, ainda não validado, que mostra que, dependendo de como foi o ganho de peso da avó, o neto tem um padrão diferente de desenvolvimento do peso. É um assunto mais controverso, mas sabemos também que, se a pessoa sofre desnutrição no período inicial de vida, ela tem uma tendência maior a uma desregulação metabólica futura”, detalha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário