quarta-feira, 30 de julho de 2014

O ensino pelo exemplo - Joísa de Abreu

Combate ao bullying na escola começa pela educação de valores como o respeito e a tolerância e passa pela postura dos professores


Joísa de Abreu

Estado de Minas: 30/07/2014



Recentemente, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou proposta que obriga todas as escolas brasileiras a realizar campanhas anuais contra o bullying. Essa aprovação traz à tona toda a discussão que envolve o assunto, especialmente sobre a responsabilidade da escola e da família e as implicações para todos aqueles que nele estão envolvidos: agressor, vítima, pais e familiares, professores e colegas. Do ponto de vista legal, toda iniciativa normativa é bem-vinda e qualquer estratégia destinada a promover a tolerância, incentivar o respeito mútuo e a combater estigmas e preconceitos deve ser aplaudida. Faz-se necessário, entretanto, refletirmos com mais cuidado sobre a questão.

O bullying, por definição, é toda e qualquer atitude agressiva, intencional e repetida, que ocorre sem motivação evidente e é adotada por um ou mais estudantes contra outro, causando dor e angústia, sendo executada dentro de uma relação desigual de poder. Apesar das pesquisas sobre bullying terem ganhado destaque a partir dos anos 1990, ou seja, recentemente, o fenômeno da agressividade na escola é quase tão antigo quanto a própria escola. Daí alguns educadores e pais subestimarem as queixas de alunos e filhos e não adotarem atitudes para inibir condutas inadequadas.

Sabe-se que a escola é espaço privilegiado de convivência. É nele que se reúnem pessoas com a mesma faixa etária e na mesma fase do desenvolvimento, partilhando direitos e deveres. Ainda na primeira infância, crianças aprendem a viver em grupo, dividir a atenção do outro e interesses comuns. Com o passar dos anos, o desafio da convivência se amplia e habilidades interpessoais precisam ser ainda mais desenvolvidas. Nessas circunstâncias, a vivência de conflitos entre os pares é corriqueira. Como já dizia a educadora Madalena Freire, um grupo se constrói na cumplicidade do riso, da raiva, do choro, do medo, do ódio, da felicidade e do prazer. Já a atitude extrema do bullying foge por completo dos conflitos usuais descritos anteriormente. A pergunta que se faz é: como lidar com essa situação?

O projeto de lei que torna obrigatória a realização de campanha antibullying nas escolas de todo o país tem como objetivo prevenir e combater essa prática e esclarecer os aspectos legais e éticos que a envolvem, além de conscientizar sobre suas causas e consequências. Essa é uma iniciativa louvável, já que a falta de informação pode agravar uma prática nefasta e prejudicial. Entretanto, ainda é preciso fazer mais. Não adianta criar leis se, no dia a dia da escola, não se ensina alteridade, empatia e compaixão. Não me refiro ao ensino acadêmico ou meramente conceitual desses valores, mas sim ao ensino através do exemplo. De nada adianta definir o bullying, caracterizar seus atores (vítima e agressor), listar suas causas e consequências, se, por exemplo, professores assistem impassíveis a estudantes humilharem uns aos outros com apelidos aparentemente “inofensivos”. É preciso transformar a escola em um ambiente, do ponto de vista socioemocional, seguro para os alunos. Diante disso, o desafio que se impõe às instituições educativas está no “como fazer”.

A alternativa está na realização de um amplo projeto de formação para educação em valores, que transforme as pessoas e suas relações. Ensinar respeito e tolerância, desenvolver a habilidade de resiliência diante de situações adversas, estimular ações solidárias e cultivar a gentileza são atitudes que devem se tornar corriqueiras na escola. Diz-se que “as palavras movem, mas os exemplos arrastam”. Cabe aos educadores, mais do que ensinar, ser, eles próprios, agentes de transformação da educação que se dá por meio do exemplo.

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