quarta-feira, 30 de julho de 2014

"Hilda é eterna!" - Ana Clara Brant

"Hilda é eterna!" 
 
A novelista Gloria Perez se comove com a história, revelada pelo EM, da mulher que inspirou a personagem de Hilda Furacão. Para ela, o mito se mantém devido ao fascinante poder feminino

Ana Clara Brant
Estado de Minas: 30/07/2014


Responsável pelo sucesso de Hilda Furacão na TV, Gloria Perez torce para mais histórias surgirem (Raphael Dias/TV Globo)
Responsável pelo sucesso de Hilda Furacão na TV, Gloria Perez torce para mais histórias surgirem

A história de Hilda Maia Valentim, de 83 anos, descoberta pelo Estado de Minas em um asilo na capital argentina, emocionou a novelista Gloria Perez, que assinou a adaptação televisiva do romance Hilda Furacão, escrito pelo mineiro Roberto Drummond. Viúva do jogador de futebol Paulo Valentim, Hilda Maia foi uma das fontes de inspiração da personagem interpretada por Ana Paula Arósio na minissérie exibida pela TV Globo em 1998.

Gloria Perez se diz “curiosíssima” a respeito da história de Hilda Maia. A autora fala com carinho da época em que a minissérie foi produzida, com várias cenas gravadas em BH, e de suas conversas com Roberto Drummond, que morreu há 12 anos. “Eu me comovi muito ao me lembrar dele, em quanto ele ia se emocionar com esse reencontro”, afirma a novelista. “Bateu aquela saudade do amigo, dos tempos de produção da série e dos longos papos. Ele contava as histórias da zona boêmia e de suas personagens de modo a me transportar para aquele mundo que não conheci, mas que tinha a missão de transcrever para as câmeras”, comenta ela.

Gloria sempre teve a curiosidade em saber o que ocorrera a Hilda depois de deixar o Maravilhoso Hotel. Moça bem-nascida, elegante e frequentadora do Minas Tênis Clube, a personagem de Roberto Drummond trocou sua vida de conforto por um quarto na zona boêmia da BH dos anos 1950. “Que bom que vocês a encontraram! Comovente a trajetória dela. Pelo que li na matéria, Hilda vai render ainda muitos e muitos capítulos”, destacou a autora, que no momento se dedica à série policial Dupla identidade, cuja estreia está prevista para a segunda quinzena de setembro na TV Globo.

Encanto Para Gloria Perez, o grande encanto que Hilda Furacão ainda exerce no público vem do fato de ser uma personagem mítica, que simboliza o fascínio e a idealização do poder feminino. “Hilda não tem data: é eterna”, resume.
A autora admite que pensou em adaptar outros livros de Roberto Drummond para a televisão. De acordo com ela, o mineiro era um grande contador de histórias, atento observador do comportamento humano. “Seus romances são habitados por tipos que a gente não esquece. Gosto do olhar curioso dele sobre a vida, da maneira perspicaz e bem-humorada como conta as mazelas da sociedade”, elogia Gloria.

Domingo, o EM publicou a reportagem “Outono de um mito” revelando o drama de Hilda Maia, que deixou a zona boêmia de BH para se casar com Paulo Valentim, craque do Atlético e ídolo do Boca Juniors, em Buenos Aires. Depois da vida de luxos na Argentina, onde nasceu Ulisses, filho do casal, Paulo fracassou nos estádios – bebedeiras e o jogo aniquilaram sua carreira. O jogador morreu em 1984 e Hilda passou a depender de Ulisses, que faleceu em 2013. Desamparada, ela foi acolhida pelo governo portenho e mora no asilo Hogar Dr. Guillermo Rawson, na capital argentina.

Gloria Perez, ainda no domingo, compartilhou a reportagem no Twitter, ressaltando que Roberto Drummond adoraria a novidade revelada pelo EM. “Vocês nem imaginam quantas Hilda Furacão apareceram quando a série passou! Até a Lady Francisco cismou que era ela”, escreveu a novelista em seu post.


z OBRAS completas de
Roberto Drummond

A morte de DJ em Paris
O dia em que Ernest Hemingway morreu crucificado
Sangue de Coca-Cola
Quando fui morto em Cuba
Hitler manda lembranças
Ontem à noite era sexta-feira
Hilda Furacão
Inês é morta
O homem que subornou a morte e outras histórias
O cheiro de Deus
Dia de São Nunca à tarde
Os mortos não dançam valsa
O Estripador da Rua G
Uma paixão em preto e branco
(publicação póstuma com crônicas sobre o Clube Atlético Mineiro)

Reedições à vista

Ivan Drummond


Ana Paula Arósio grava cenas da minissérie em Belo Horizonte (Françoise Imbroise/EM - 27/1/98  )
Ana Paula Arósio grava cenas da minissérie em Belo Horizonte


O romance Hilda Furacão, de Roberto Drummond, é campeão de vendas: cerca de 200 mil exemplares foram comercializados desde o lançamento, em 1991. Atualmente, os direitos pertencem à Geração Editorial, que imprimiu 5 mil livros em junho, devido à adoção do romance para concurso.
Luiz Fernando Emediato, dono da Geração Editorial, informa que 1,9 mil exemplares foram comercializados apenas em Belo Horizonte. O número de volumes reimpressos pode aumentar. “A tiragem depende dos pedidos feitos pelas livrarias. Como a história floresceu, muito provavelmente vamos fazer nova edição, pois têm nos chegado informações de que Hilda Furacão está esgotando”, revela.

A Geração Editorial detém os direitos sobre a maioria dos livros de Roberto Drummond. “Estou tentando a aquisição de três títulos em poder da Objetiva: O cheiro de Deus, A morte de DJ em Paris e Os mortos não dançam valsa. Os outros já estão conosco”, informa Emediato.

Em janeiro, ele pretende relançar Hitler manda lembranças e Ontem à noite era sexta-feira. “Cada edição terá 5 mil exemplares”, antecipa.

O editor e jornalista fala com carinho do amigo. “Certa vez, nós fomos a Vinhedo, no Rio Grande do Sul, para uma palestra sobre Hilda Furacão. Roberto ficou fascinado com o fato de todos os estudantes terem lido o livro. Faziam uma série de perguntas, sempre sobre a existência de Hilda. Ele alegava que a história era real, mas rodeava, não respondia. Contava várias passagens da personagem, mas não dizia se eram verdade ou não”, relembra.

A palestra para os gaúchos ocorreu um mês antes da morte do autor, em junho de 2002. “Recebi a notícia como uma bomba. Grande escritor, Roberto nos faz muita falta. Sua obra é fantástica.” Emediato pretende adquirir os direitos sobre todos os livros de Drummond para lançar a obra completa do mineiro. “Um dos maiores nomes da literatura brasileira, ele merece ser tratado como tal”, conclui.

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