Das cenas que ficaram
Carlos Herculano Lopes
carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 11/07/2014
Carlos Herculano Lopes
carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 11/07/2014
Das cenas que ficaram
desta Copa do Mundo, porque para nós ela terminou depois daquela
humilhante derrota frente a Alemanha, na terça-feira, em pleno Mineirão,
deixo aleatoriamente registrada, antes que se perca na memória, a
euforia dos primeiros jogos, quando milhões de brasileiros, de variadas
cores e credos, se vestiram de verde e amarelo e, com todas as forças,
torceram pelo país. No aeroporto de Confins, onde estive fazendo matéria
para o Estado de Minas, testemunhei como uma família inteira, de
Ribeirão das Neves, se acotovelava entre as grades de um alambrado junto
a outros torcedores. A esperança era de, pelo menos – já que o povo,
devido ao preço dos ingressos, parece ter sido mesmo banido dos estádios
– poder ver decolar o avião da Seleção depois do jogo contra o Chile.
Naquele mesmo aeroporto, um casal de namorados de Trinidad e Tobago, cujos nomes já me esqueci, e que tinha vindo ao Brasil assistir aos jogos, não conseguiu disfarçar a alegria ao ser abordado pela reportagem. “Sabem onde fica o nosso país? Ele é bem pequeno, vocês sabem?”, insistia em perguntar a moça, ao mesmo tempo em que, orgulhosamente, agitava uma pequena bandeira com as cores nacionais. “Daqui seguimos para Salvador. Depois, queremos conhecer Maceió e Fortaleza”, revelou o rapaz.
Já na Praça da Savassi, onde estive depois do jogo da Colômbia com a Grécia, que também ocorreu no Mineirão, pude observar quando centenas de colombianos, perfeitamente integrados com os brasileiros, bebiam cerveja e cachaça, paqueravam as garotas e cantavam músicas do país. Identificaram-se tanto com alguns da casa, que vários chegaram a ser presos roubando celulares ou batendo carteiras.
Em um boteco na Rua Fernandes Tourinho, numa mesa ao lado da nossa, um moço colombiano, que disse se chamar Arturo Pérez – e com o qual entabulamos conversa – contou que era de Medellin. “Mas hoje a cidade está em paz, graças a Deus”, falou de repente, após propor um brinde. Um conterrâneo, que estava sentado a seu lado, sorriu sem graça – como se aquele comentário não precisasse ter sido feito.
Ainda na Savassi, dando um giro pelas ruas depois do fracasso contra a Alemanha, pude perceber também que cidadãos daquele país, talvez por medo de sofrer alguma agressão, respeito, ou por não estar acreditado na vitória, comemoravam de forma discreta. Era como se nos pedissem desculpas. Segundo Eduardo Galeano narrou em um dos seus livros, algo semelhante teria se passado em 1950, quando o craque da Seleção Uruguaia Obdulio Vare la, que liderou a vitória no Maracanã, foi encontrado horas depois do jogo em um bar no Centro do Rio. Consta que chorava abraçado a torcedores brasileiros.
Em compensação, depois que a Argentina despachou os holandeses na quarta-feira, levando o país a disputar, no domingo, a final da Copa contra os alemães, também pude ver, ainda na Savassi, quando uma torcedora daquele país, uma menina simples, com traços indígenas, que por ali vende bijuterias, gritava e chorava de alegria, como se aquela vitória significasse, para todo o sempre, a redenção de suas penas.
De todas as cenas que ficaram dessa copa, da qual devemos tirar muitas lições (de humildade, sobretudo), uma outra, bem singela, também ficou marcada na minha memória: a de um garoto de uns 8 ou 10 anos, quando muito, abraçado ao pai num bar da Avenida Amazonas, logo depois do fim do jogo contra a Alemanha. Aos prantos, o menino se mostrava inconformado com a derrota, talvez a primeira da vida, enquanto seu pai, sem saber o que fazer – e quem sabe tão triste como ele – lhe afagava os cabelos.
Naquele mesmo aeroporto, um casal de namorados de Trinidad e Tobago, cujos nomes já me esqueci, e que tinha vindo ao Brasil assistir aos jogos, não conseguiu disfarçar a alegria ao ser abordado pela reportagem. “Sabem onde fica o nosso país? Ele é bem pequeno, vocês sabem?”, insistia em perguntar a moça, ao mesmo tempo em que, orgulhosamente, agitava uma pequena bandeira com as cores nacionais. “Daqui seguimos para Salvador. Depois, queremos conhecer Maceió e Fortaleza”, revelou o rapaz.
Já na Praça da Savassi, onde estive depois do jogo da Colômbia com a Grécia, que também ocorreu no Mineirão, pude observar quando centenas de colombianos, perfeitamente integrados com os brasileiros, bebiam cerveja e cachaça, paqueravam as garotas e cantavam músicas do país. Identificaram-se tanto com alguns da casa, que vários chegaram a ser presos roubando celulares ou batendo carteiras.
Em um boteco na Rua Fernandes Tourinho, numa mesa ao lado da nossa, um moço colombiano, que disse se chamar Arturo Pérez – e com o qual entabulamos conversa – contou que era de Medellin. “Mas hoje a cidade está em paz, graças a Deus”, falou de repente, após propor um brinde. Um conterrâneo, que estava sentado a seu lado, sorriu sem graça – como se aquele comentário não precisasse ter sido feito.
Ainda na Savassi, dando um giro pelas ruas depois do fracasso contra a Alemanha, pude perceber também que cidadãos daquele país, talvez por medo de sofrer alguma agressão, respeito, ou por não estar acreditado na vitória, comemoravam de forma discreta. Era como se nos pedissem desculpas. Segundo Eduardo Galeano narrou em um dos seus livros, algo semelhante teria se passado em 1950, quando o craque da Seleção Uruguaia Obdulio Vare la, que liderou a vitória no Maracanã, foi encontrado horas depois do jogo em um bar no Centro do Rio. Consta que chorava abraçado a torcedores brasileiros.
Em compensação, depois que a Argentina despachou os holandeses na quarta-feira, levando o país a disputar, no domingo, a final da Copa contra os alemães, também pude ver, ainda na Savassi, quando uma torcedora daquele país, uma menina simples, com traços indígenas, que por ali vende bijuterias, gritava e chorava de alegria, como se aquela vitória significasse, para todo o sempre, a redenção de suas penas.
De todas as cenas que ficaram dessa copa, da qual devemos tirar muitas lições (de humildade, sobretudo), uma outra, bem singela, também ficou marcada na minha memória: a de um garoto de uns 8 ou 10 anos, quando muito, abraçado ao pai num bar da Avenida Amazonas, logo depois do fim do jogo contra a Alemanha. Aos prantos, o menino se mostrava inconformado com a derrota, talvez a primeira da vida, enquanto seu pai, sem saber o que fazer – e quem sabe tão triste como ele – lhe afagava os cabelos.
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