Vilhena Soares
Estado de Minas: 11/07/2014
Recorrentes noites
maldormidas podem ser sinais da destruição progressiva e irreversível
de neurônios. O alerta é de pesquisadores da Universidade de Toronto.
Segundo eles, o distúrbio comportamental do sono REM – fase do sono
quando ocorrem os sonhos – pode ser um pré-sintoma de enfermidades como o
Alzheimer e o mal de Parkinson. Os autores do trabalho acreditam que
esse indício serve como ajuda para o diagnóstico precoce de doenças
neurais.
“Pela série de estudos que analisamos, vimos que problemas como o Alzheimer primeiro afetam as células do cérebro que controlam o sono REM. Em seguida, isso se espalha para outras áreas degenerativas”, destaca John Peever, professor associado do Departamento de Fisiologia da Universidade de Toronto e autor principal do estudo. Peever ressalta que ter o distúrbio comportamental do sono REM não é uma sentença de desenvolvimento de problemas neurológicos, mas a condição serve de alerta.
“É importante que os médicos reconheçam esse distúrbio como uma indicação potencial de doença cerebral a fim de diagnosticar pacientes em um estágio anterior”, justifica. O cientista cogita a possibilidade de criação de drogas que reduzam a neurodegeneração e possam ser prescritas para pacientes com o distúrbio do sono REM. “Assim, o tratamento pode ser iniciado mais cedo, ou seja, antes de os sintomas da doença começarem”, explica.
Gleison Guimarães, pneumologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que a pesquisa possa auxiliar em novos tratamentos, mas ressalta que medicamentos para tratar o distúrbio de sono REM já são prescritos com sucesso. “Usamos clonazepan, pramipexole e melatonina no controle dos movimentos anormais, visto que uma das condições obrigatórias para classificar o sono REM é a atonia muscular.” Com a medicação, evita-se que, ao entrar nessa fase do sono, o paciente execute golpes, pule e realize outras práticas que o coloquem em risco ou as pessoas que estejam próximas a ele.
O especialista reforça ainda que não existem explicações mais claras sobre a ligação entre os dois problemas. “Não é seguro totalmente afirmar que exista uma relação causa/efeito definida. Na própria conclusão da pesquisa, define-se como necessária a realização de mais estudos randomizados, prospectivos, com populações mais homogêneas e sem fatores confundidores para que isso seja atribuído”, destaca.
Parkinson Neurologista e coordenador do Programa de Parkinson e Distúrbios de Movimento do Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Andre Dalbem diz que, no caso do Parkinson, o transtorno do sono é considerado como um antecessor da doença, mas que outros fatores, como o histórico genético, são considerados pelos especialistas ao avaliar o paciente. Ainda assim, ele considera bem-vindos os estudos que reforçam a ligação entre os dois problemas (leia Saiba mais).
“Acredito que novos horizontes possam surgir caso esse tema seja estudado a fundo, não só quanto a possíveis medicamentos, mas como um auxílio na identificação da doença. O Parkinson é um transtorno de difícil diagnóstico, conseguimos chegar a ele somente quando está avançado, identificá-lo antes pode auxiliar em tratamentos”, destaca.
Gleison Guimarães também destaca que mais trabalhos poderão auxiliar em uma possível prevenção do desencadeamento de doenças causadas pelo distúrbio do sono. “Quando existe lesão celular, quando não há recuperação neuronal ou mesmo quando não tem fatores que dificultem ou impeçam essa regeneração, as doenças neurodegenerativas evoluem ou se instalam. Se há efeito terapêutico de substâncias que protejam ou promovam a saúde neural, sem dúvidas, temos valor nas pesquisas.”
Forma mais comum de demência neurodegenerativa, o mal de Alzheimer atinge principalmente idosos. Entre 60 e 65 anos, a prevalência é inferior a 1%. A partir dos 65, ela praticamente dobra a cada cinco anos. O Parkinson, na grande maioria dos pacientes, surge dos 55 aos 60 anos, sendo que a prevalência aumenta a partir dos 70.
Cérebro a mil
Ocorre na etapa do sono caracterizada pela intensa atividade cerebral, muito semelhante ao estado de vigília. Embora essa fase não resulte em um descanso profundo, ela é importante principalmente para a recuperação emocional. O distúrbio leva as pessoas a agirem como se estivessem no sonho. Gritos, choros, socos e pontapés são recorrentes, o que pode provocar fraturas e outros tipos de machucados na pessoa ou em que estiver próximo a ela.
Saiba mais
Influência da dopamina
A revista científica Lancet Neurology tem publicado regularmente estudos relacionando o distúrbio comportamental do sono REM com complicações neurodegenerativas. A dopamina, neurotransmissor relacionado a funções como memória, atenção, aprendizagem e sono, surge nesses estudos como peça-chave. Um trabalho do Hospital Clínico de Barcelona, divulgado em 2011, detalha as conclusões obtidas pela análise de exames de tomografia computadorizada de 40 pacientes durante três anos. A metade tinha distúrbios comportamentais do sono REM. A outra era saudável e formou o grupo de controle. Os cientistas observaram, no período, a presença de dopamina na substância nigra, área do cérebro responsável pela produção da dopamina. Constataram que, devido ao avanço da idade, os voluntários do grupo de controle sofreram uma redução na produção do neurotransmissor de 8%. No caso dos participantes com problema de sono, a diminuição média foi de 20%. Desses, três desenvolveram o mal de Parkinson.
“Pela série de estudos que analisamos, vimos que problemas como o Alzheimer primeiro afetam as células do cérebro que controlam o sono REM. Em seguida, isso se espalha para outras áreas degenerativas”, destaca John Peever, professor associado do Departamento de Fisiologia da Universidade de Toronto e autor principal do estudo. Peever ressalta que ter o distúrbio comportamental do sono REM não é uma sentença de desenvolvimento de problemas neurológicos, mas a condição serve de alerta.
“É importante que os médicos reconheçam esse distúrbio como uma indicação potencial de doença cerebral a fim de diagnosticar pacientes em um estágio anterior”, justifica. O cientista cogita a possibilidade de criação de drogas que reduzam a neurodegeneração e possam ser prescritas para pacientes com o distúrbio do sono REM. “Assim, o tratamento pode ser iniciado mais cedo, ou seja, antes de os sintomas da doença começarem”, explica.
Gleison Guimarães, pneumologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que a pesquisa possa auxiliar em novos tratamentos, mas ressalta que medicamentos para tratar o distúrbio de sono REM já são prescritos com sucesso. “Usamos clonazepan, pramipexole e melatonina no controle dos movimentos anormais, visto que uma das condições obrigatórias para classificar o sono REM é a atonia muscular.” Com a medicação, evita-se que, ao entrar nessa fase do sono, o paciente execute golpes, pule e realize outras práticas que o coloquem em risco ou as pessoas que estejam próximas a ele.
O especialista reforça ainda que não existem explicações mais claras sobre a ligação entre os dois problemas. “Não é seguro totalmente afirmar que exista uma relação causa/efeito definida. Na própria conclusão da pesquisa, define-se como necessária a realização de mais estudos randomizados, prospectivos, com populações mais homogêneas e sem fatores confundidores para que isso seja atribuído”, destaca.
Parkinson Neurologista e coordenador do Programa de Parkinson e Distúrbios de Movimento do Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Andre Dalbem diz que, no caso do Parkinson, o transtorno do sono é considerado como um antecessor da doença, mas que outros fatores, como o histórico genético, são considerados pelos especialistas ao avaliar o paciente. Ainda assim, ele considera bem-vindos os estudos que reforçam a ligação entre os dois problemas (leia Saiba mais).
“Acredito que novos horizontes possam surgir caso esse tema seja estudado a fundo, não só quanto a possíveis medicamentos, mas como um auxílio na identificação da doença. O Parkinson é um transtorno de difícil diagnóstico, conseguimos chegar a ele somente quando está avançado, identificá-lo antes pode auxiliar em tratamentos”, destaca.
Gleison Guimarães também destaca que mais trabalhos poderão auxiliar em uma possível prevenção do desencadeamento de doenças causadas pelo distúrbio do sono. “Quando existe lesão celular, quando não há recuperação neuronal ou mesmo quando não tem fatores que dificultem ou impeçam essa regeneração, as doenças neurodegenerativas evoluem ou se instalam. Se há efeito terapêutico de substâncias que protejam ou promovam a saúde neural, sem dúvidas, temos valor nas pesquisas.”
Forma mais comum de demência neurodegenerativa, o mal de Alzheimer atinge principalmente idosos. Entre 60 e 65 anos, a prevalência é inferior a 1%. A partir dos 65, ela praticamente dobra a cada cinco anos. O Parkinson, na grande maioria dos pacientes, surge dos 55 aos 60 anos, sendo que a prevalência aumenta a partir dos 70.
Cérebro a mil
Ocorre na etapa do sono caracterizada pela intensa atividade cerebral, muito semelhante ao estado de vigília. Embora essa fase não resulte em um descanso profundo, ela é importante principalmente para a recuperação emocional. O distúrbio leva as pessoas a agirem como se estivessem no sonho. Gritos, choros, socos e pontapés são recorrentes, o que pode provocar fraturas e outros tipos de machucados na pessoa ou em que estiver próximo a ela.
Saiba mais
Influência da dopamina
A revista científica Lancet Neurology tem publicado regularmente estudos relacionando o distúrbio comportamental do sono REM com complicações neurodegenerativas. A dopamina, neurotransmissor relacionado a funções como memória, atenção, aprendizagem e sono, surge nesses estudos como peça-chave. Um trabalho do Hospital Clínico de Barcelona, divulgado em 2011, detalha as conclusões obtidas pela análise de exames de tomografia computadorizada de 40 pacientes durante três anos. A metade tinha distúrbios comportamentais do sono REM. A outra era saudável e formou o grupo de controle. Os cientistas observaram, no período, a presença de dopamina na substância nigra, área do cérebro responsável pela produção da dopamina. Constataram que, devido ao avanço da idade, os voluntários do grupo de controle sofreram uma redução na produção do neurotransmissor de 8%. No caso dos participantes com problema de sono, a diminuição média foi de 20%. Desses, três desenvolveram o mal de Parkinson.
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