Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 23/07/2014
Luiz Alves Júnior, editor |
Uma das mais tradicionais editoras do país, a Global completa 40 anos. Voltada para autores brasileiros, seu invejável catálogo abriga centenas de títulos, muitos deles de nomes consagrados. São exclusivos da casa Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Orígenes Lessa, Ignácio de Loyola Brandão, Cora Coralina, Darcy Ribeiro e o folclorista Luís da Câmara Cascudo, por exemplo. No entanto, 70% do faturamento da empresa, que engloba as editoras Gaudí e Gaia, não vem da literatura adulta, mas da venda de títulos infantojuvenis.
Nesse segmento literário, um dos que mais crescem no país, a Global conta com Marina Colasanti, Ana Maria Machado, Mary França, Eliardo França e o mineiro Bartolomeu Campos Queirós. “Bartolomeu era um de nossos mais importantes autores. Temos o maior orgulho de ter lançado alguns livros dele”, conta Luiz Alves Júnior, de 71 anos, fundador da Global.
Filho de portugueses analfabetos que chegaram ao Brasil na década de 1940, Luiz Alves Júnior trabalhou com a família em uma padaria, em Santos (SP), até os 22 anos. A exemplo dos pais, sonhava ganhar dinheiro e conquistar sua independência. Mudou-se para São Paulo, onde foi vendedor de livros para a Editora Globo, de Porto Alegre, representada pela Catavento.
Alves Júnior adquiriu experiência na Catavento e fez dois amigos fundamentais para a sua carreira empresarial: Raimundo Rios e Waldir Martins Fontes. Em 1971, com a saída de Fontes da empresa para fundar a Editora Martins Fontes, Luiz Alves assumiu a área comercial. Tempos depois, em sociedade com Raimundo Rios, montou a distribuidora Farmalivros com o objetivo de vender em farmácias. “Deu certo. Comercializamos nossos produtos também em salões de beleza, hotéis, postos de gasolina, táxis e supermercados do país. Foi uma aposta inovadora”, lembra Luiz Alves Júnior.
Ditadura
Em 1973, no embalo do sucesso da Farmalivros, ele resolveu criar sua própria editora, a Global, em parceria com José Carlos Venâncio. Por sugestão do sócio, passou a editar títulos de resistência à ditadura militar. Entre as obras lançadas estavam Lamarca, o capitão da guerrilha, de Emiliano José e Oldack Miranda; Os carbonários – Memórias da guerrilha perdida, de Alfredo Sirkis; e Dossiê Herzog, de Fernando Pacheco Jordão.
Nos anos de chumbo, Alves foi alvo de um inquérito policial-militar (IPM) por causa da opção editorial de sua empresa e teve de se explicar à Polícia Federal. “Felizmente, não cheguei a ser preso, foram apenas sustos”, lembra.
Nos anos 1980, com a abertura política, depois de desfeita a sociedade com José Carlos Venâncio, Alves Júnior promoveu uma guinada na linha editorial da empresa. Foi assim que a Global se voltou para autores brasileiros, apostando na valorização da prata da casa. Uma das primeiras iniciativas foi a parceria com a escritora Edla van Steen, que organizou as bem-sucedidas séries Melhores contos, Melhores poemas e Melhores crônicas, com textos de dezenas de autores do país. “Essa coleção foi e é fundamental para nós, uma espécie de cartão de visitas da Global”, revela Alves Júnior.
Este ano, a expansão dos negócios – com atuação também na área digital, com dezenas de e-books – incluiu a aquisição da Editora Aguillar, dirigida pelo experiente Jiro Takahashi. Ela se junta à Global Editora, à Gaudí e à Gaia, as duas últimas dirigidas por Jefferson Luiz e Richard Ângelo, filhos de Luiz Alves Júnior. “Nelas não dou palpites. Eles é que mandam. Meus pitacos vão só para a Global”, conclui o patriarca.
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