quarta-feira, 23 de julho de 2014

Gravidez tardia e suas implicações‏

Gravidez tardia e suas implicações 
 
Marcos Taveira
Obstetra e membro da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig)
Estado de Minas: 23/07/2014


Nos últimos anos, pesquisas e estudos apontam que a idade média da primeira gravidez vem aumentando em todo mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, entre os anos de 1970 e 2011, a idade média da primeira gravidez aumentou de 21,4 anos para 25,6 anos. Esse evento também tem sido observado em países como Suécia (28,3 anos), Holanda (28,7 anos) e Canadá (29,6 anos). Em 2011, 14% dos partos americanos foram em mulheres com idade maior ou igual a 35 anos. Esse cenário também está se tornando comum no Brasil.

Os motivos são os mais variados possíveis, com predomínio dos aspectos profissionais e econômicos. A mulher hoje é economicamente ativa, busca consolidar a carreira profissional e conquistar a estabilidade financeira para só então realizar o desejo de ser mãe. Existem ainda os fatores emocionais. Tanto a mulher quanto o homem adiam a maternidade ou a paternidade por não se julgarem prontos para assumirem tamanha responsabilidade.

Entretanto, é fundamental ressaltar os riscos ao optar pela gravidez tardia. Um deles é o aumento do abortamento espontâneo. Abaixo dos 30 anos, o risco representa 12%; entre 30 e 34 anos é de 15%; de 35 a 39 anos, é de 25%; e de 51% acima dos 40 anos. Nas gestantes acima de 35 anos, existe maior prevalência de doenças como diabetes, hipertensão arterial, doenças renais e autoimunes (por exemplo, o lúpus eritematoso), obesidade e câncer. Todas essas enfermidades podem exercer papel deletério na evolução da gestação, assim como a gravidez pode agravar uma doença pré-existente. Por exemplo, quanto mais grave uma hipertensão, pior será o resultado daquela gestação.

Observa-se um risco aumentado de mortalidade materna. Estima-se que ele seja duas vezes maior para grávidas acima dos 35 anos, quando comparado com o grupo etário de 25 a 29 anos (21 para cada 9 por 1 mil nascidos vivos), e cerca de cinco vezes maior para grávidas acima de 40 anos (aproximadamente 46 para cada 1 mil nascidos vivos). Aumentam as chances de anomalias cromossômicas, como as trissomias do cromossomo 13 e 18, a síndrome de Turner (Monossomia do cromossomo X) e a síndrome de Down.

Aos 20 anos, o risco inicial para síndrome de Down é estimado em 1/698. Já aos 35 anos, é de aproximadamente 1/175; aos 40 anos, é de 1/51 e, aos 45, é de 1/13. Ocorre também o aumento no risco de pré-eclâmpsia, principalmente acima dos 40 anos, uma vez que a pré-eclâmpsia é uma das principais causas de morte materna e responsável por taxas elevadas de insuficiência placentária, resultando em quadros de sofrimento fetal e, muitas vezes, em partos prematuros com riscos proporcionais ao grau da prematuridade.

Existem outros tantos riscos que podem interferir no andamento da gestação e que poderiam ser evitados. O recomendado é que toda mulher tenha sua prole definida antes dos 35 anos para que esses fatores de risco sejam minimizados. Assim como o ideal seria que toda gestação fosse planejada, para que a mulher pudesse atuar diretamente sobre aqueles fatores que podem ser controlados. Os benefícios de uma gravidez planejada incluem uso do ácido fólico pré-concepcional (fator associado à redução de malformações fetais), vacinação prévia, controle do índice da massa corporal (reduz o risco de pré-eclâmpsia e de diabetes gestacional), controle de doenças pré-existentes (influenciam diretamente no resultado da gestação futura), programação das gestações para as faixas etárias mais adequadas, entre outros.

Ainda dentro do contexto de uma gravidez planejada, o ideal é que toda gestante realize uma consulta de aconselhamento pré-concepcional, justamente para que ela possa ser orientada quanto aos possíveis fatores de risco associados a uma gestação e para que realize as intervenções adequadas, onde possível, de acordo com cada idade. Esse processo permite uma gestação mais tranquila e saudável, tanto para a gestante, quanto para o bebê. 

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