Nesta época de frio, a probabilidade de
as pessoas serem afetadas por doenças respiratórias aumenta. Crianças e
idosos são os mais susceptíveis, por causa da baixa imunidade
Lilian Monteiro
Estado de Minas: 23/07/2014 0
A estação mais
fria do ano exige cuidado redobrado com a saúde. O ar mais seco facilita
o aumento da poluição e a proliferação de vírus, o que,
consequentemente, contribui para elevar a frequência das infecções das
vias respiratórias. Breno Figueiredo Gomes, diretor da Sociedade
Brasileira de Clínica Médica, diretor-administrativo adjunto da
Associação Médica e clínico-geral do Hospital Mater Dei, alerta que há
várias razões para adoecermos no inverno, e não é só por causa das
baixas temperaturas. “O mais importante é o fato de as pessoas ficarem
em locais mais fechados. Dessa forma, a contaminação, principalmente por
vírus, é mais frequente.”
As infecções respiratórias são as
vilãs dessa estação e muitos sofrem com as mais comuns, como sinusite,
otite, pneumonia, gripe, resfriado, rinite, asma, amigdalite,
bronquite... “Coriza, dores no corpo, tosse, febre e mal-estar geral. Os
sintomas são muito semelhantes e uma avaliação médica é fundamental
para a definição adequada do diagnóstico”, alerta o clínico, enfatizando
que as atitudes mais corretas nesse período, que asseguram uma
prevenção adequada, são “evitar ambientes fechados com pessoas doentes,
lavar as mãos e proteger a boca ao tossir”.
Breno Gomes diz que
há muitos equívocos em relação à crença popular, que aponta como
desencadeadores das doenças de inverno andar descalço, dormir com o
cabelo molhado, tomar sorvete, beber água gelada, abrir geladeira, pegar
chuva e ficar no sereno, entre outras. Essas seriam atitudes que
levariam a infecções respiratórias. “Mais mito que verdade. Tudo que
irrita as mucosas predispõe a infecções: alergias e mudanças climáticas,
por exemplo.”
O médico chama a atenção também para um erro comum
nesse período, que é a automedicação. As pessoas invadem as farmácias
atrás de medicamentos para gripes e resfriados (muitos não diferenciam
um do outro) e se entopem, seja de anti-inflamatórios, seja de cápsulas
de vitamina C. Enfim, atitude condenáveis. “A regra é uma só: sempre
passe por uma avaliação do seu médico. Segurança é fundamental.”
O
médico alergista Cláudio Oliveira Ianni, presidente da Sociedade
Brasileira de Alergia e Imunopatologia Regional de Minas Gerais, lembra
que as alergias aumentam no inverno porque há maior circulação de vírus.
Até por isso que a vacinação para gripe, por exemplo, começa em abril.
Ele explica que a alergia ocorre porque “o ar frio facilita as reações
alérgicas diante das mucosas vulneráveis”.
Cláudio Ianni reforça
que o ar seco provoca inversão térmica e a poluição fica mais próxima do
solo, o que dificulta a sua dispersão. Ou seja, todos passam a respirar
a poluição, que desencadeia irritação das mucosas. Daí surgirem as
rinites, sinusites, asmas, bronquites. O médico alerta que as reações
alérgicas estão por todo lado, como na poeira da casa e nas roupas de
frio guardadas por muito tempo, com presença de ácaro e pó. Aliás, é
preciso atenção com os agasalhos de inverno. “Recomendo lavá-los antes
de usar, passá-los a ferro e dar um banho de sol. E, com o fim do frio,
lavá-los antes de guardar, de preferência em sacos plásticos.”
CORIZA
Coceira, espirro, coriza e obstrução nasal são, segundo Cláudio Ianni,
os principais sintomas da maioria dos quadros alérgicos. No caso da
asma, é a tosse. No da bronquite, é o cansaço e o peito chiando. Já a
sinusite ocorre muito em decorrência de uma complicação da gripe.
Saídas
simples podem ser seguidas por todos para deixar o ar mais respirável.
Cláudio Ianni recomenda pano úmido no quarto (toalha molhada na
cabeceira da cama) ou uma vasilha de água, caso não tenha
umidificadores. “Soluções práticas e com resultado.”
Cláudio
Ianni reforça que as crianças de até 5 anos sofrem mais nesse período,
por causa do sistema imunológico imaturo, e o idoso também, porque é
mais frágil e tem alimentação pior. E a maioria deles não toma água o
suficiente. Para se proteger, e a regra vale para todo mundo, é
fundamental cuidado com a alimentação (sucos, frutas, legumes e
verduras), vitamina C, lavar as narinas com soro para evitar vírus e
bactérias, e fugir, dentro do possível, de locais fechados. O alergista
recomenda ainda hidratar bastante a pele, para que ela fique mais
protegida. “Caso seja picado por pernilongo, a reação alérgica seria
pior com a pele ressecada.”
Dicas para tentar afastar as doenças de inverno:
1 Mantenha a roupa de cama sempre limpa, principalmente os cobertores.
2 Tente retirar todo o pó da mobília.
3 Aproveite os dias de sol e abra as janelas. O ar deve circular em ambientes fechados.
4 Evite permanecer muito tempo em locais fechados e com grande quantidade de pessoas.
5 Lave as mãos constantemente.
6
A alimentação deve ser a mais saudável possível. Consuma verduras e
frutas, que são fontes de vitamina C: limão, laranja, abacaxi e acerola.
7 Beba bastante líquido, principalmente água (mas evite bebidas alcoólicas)
8 Evite ter em casa tapetes e bichos de pelúcia espalhados pelo local.
9
Não deixe de fazer exercícios físicos (nadar, correr e caminhar são
especialmente importantes, porque aumentam a capacidade respiratória).
10 Evite fumar e conviver com fumantes.
11 Seque roupas no sol.
12 Para bebês, a amamentação é indispensável, pois garante a proteção da criança.
13 A vacinação anual é importante, não causa gripe e evita complicações mais sérias
*Fontes:
Sarah Lazaretti, enfermeira e sócia-diretora da Alergoshop (empresa
especializada em produtos para diversos tipos de bebidas) e Federação
Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma)
Vírus ataca bebês
Em
todo o país, já está disponível a imunização gratuita para bebês contra
o vírus sincicial respiratório (VSR) – a principal causa de doenças
respiratórias e hospitalização de prematuros e crianças com cardiopatia
congênita ou displasia broncopulmonar. Em crianças com condições normais
de saúde, a infecção por VSR pode se apresentar apenas como sintomas de
um resfriado forte. Entre os bebês prematuros, pesquisadores estimam
que a taxa de mortalidade, em decorrência do VSR, seja de cerca de 5%.
Hoje, cerca de 10,5% dos nascimentos no Brasil ocorrem antes do período
considerado normal (a partir de 37 semanas). Os bebês prematuros têm
três vezes mais risco de serem hospitalizados em decorrência do VSR do
que um bebê nascido a termo, pesando mais de 2,5 quilos. A Sociedade
Brasileira de Imunização recomenda a imunização, que reduz em 70% a
necessidade de internação e mortalidade de prematuros. Para esses bebês,
ou com cardiopatia congênita, ou broncodisplasia pulmonar, ela está
disponível pelo SUS em todo o Brasil e é recomendada nos meses de maior
circulação do vírus, entre março e setembro.
Fuja da gripe
A
gripe é a maior vilã do inverno. Causada pelo vírus Influenza,
apresenta quadro clínico mais complexo que o resfriado, com febre alta,
dores pelo corpo, dor de cabeça, mal-estar, dor de garganta e tosse. Na
gripe, os sintomas aparecem subitamente, ao contrário do resfriado, no
qual eles surgem gradualmente. O modo de transmissão é igual ao do
resfriado e o tempo de doença costuma ser de até duas semanas.
É
a gripe que apresenta a maior taxa de complicações, como pneumonia pelo
próprio vírus ou outras bactérias oportunistas. A transmissão ocorre
por meio de secreções das vias respiratórias da pessoa contaminada, ao
falar, tossir, espirrar, ou pelas mãos, que, depois do contato com
superfícies recém-contaminadas por secreções respiratórias, podem levar o
agente infeccioso direto à boca, olhos e nariz. As recomendações para
reduzir o contágio são evitar locais fechados, lavar sempre as mãos com
água e sabão, manter a janela do transporte coletivo aberta mesmo em
dias mais frios, para a circulação de ar, e descartar corretamente no
lixo os lenços de papel.
Este ano, segundo dados da Secretaria
de Estado da Saúde (SES), Minas alcançou a meta de vacinação contra a
gripe e imunizou mais de 4,2 milhões de pessoas dos grupos prioritários.
Foram 2,6 milhões de idosos com mais de 60 anos vacinados; mais de 153
mil gestantes; 34 mil puérperas (período pós-parto); 9 mil indígenas;
992 mil crianças menores de 2 anos e 365 mil profissionais de saúde.
IMPACTO
A SES divulgou último estudo de carga de doenças de Minas Gerais. De
2011, ele evidenciou que as doenças respiratórias são responsáveis pelo
terceiro maior impacto na saúde dos mineiros, computando 12% das
internações. Isso significa que, do total de 1,1 milhão de internações
daquele ano, 135 mil foram por doenças respiratórias. Dessas, mais de
50% foram causadas por pneumonia. E um terço da demanda espontânea de
atendimento da atenção primária à saúde é motivada por queixas
respiratórias. Em 2013, foram notificados em Minas 5.739 casos de
síndrome respiratória aguda grave e, desses, 11% foram causados por
vírus Influenza sazonais. Cento e quarenta e sete pessoas morreram em
decorrência de gripe, o que representa 18,7% dos casos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário