Doleiros
Só pode ser piada. Classe média com renda entre R$ 1 mil e R$ 4 mil
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 13/07/2014
Atire a primeira pedra aquele que nunca teve um doleiro. Duvido que algum brasileiro de classe média, nos últimos 80 anos, não tenha tido um doleiro, isto é, cavalheiro ou dama que negocia com dólares americanos no mercado paralelo. Nos últimos tempos também com euros.
O conceito de classe média é que anda muito espichado. Andei lendo as definições no Google e descobri que abrange todas as famílias situadas entre o Bolsa Família e o casal Melinda e Bill Gates. Transcrevo parte do que li: “A nova classe média brasileira representa mais de 50% da população. O crescimento desse segmento, com renda familiar mensal entre R$ 1 mil a R$ 4 mil deve-se principalmente ao aumento de renda dos mais pobres. A elite econômica (classes A e B) tem renda superior a R$ 4.591”.
Só pode ser piada. Classe média com renda entre R$ 1 mil e R$ 4 mil. Elite econômica com renda familiar superior a R$ 4.591 piada ainda maior. Mas não estamos cuidando de piadistas e sim dos doleiros, atividade malvista depois que o Dr. Alberto Youssef pintou no pedaço midiático às voltas com alguns deputados federais e muitos diretores da atual Petrobras, que não deve ser confundida com a empresa que o Brasil admirava.
Relacionar-se com os deputados Argôlo e Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza, ginecologista baiano residente em São Paulo, deixou Youssef muito mal perante seus pares no mercado paralelo. É nódoa que vai levar decênios para desaparecer do pano doleiro. Por que pano e não tecido? Ora, porque escriba supimpa evita o parequema do-do de tecido doleiro.
Ainda bem que o Paulo andou solto para afinar com o sistema. A decisão do ministro do STF pede comentário do personal de Cícero, depois de correr 10 quilômetros pelas ruas de Roma acompanhando a figura máxima da Latinidade Clássica: ore occluso muscae non intrant. Algo assim como “em boca fechada não entra mosquito”.
Rescaldo
Mineiro de Muriaé, residente no Rio e torcedor do Flamengo, o jornalista Sérgio Rodrigues, doutor em língua portuguesa, é autor do livro O drible, do inglês (to) dribble. Talvez fosse melhor A Finta, do italiano finta, língua da família indo-europeia, ramo itálico, sub-ramo latino-falisco, grupo latino, falada na Itália, na República de San Marino e na Suíça italiana.
Convidado pela produção do Manhattan Connection, participou do programa três dias antes de o timeco brasileiro enfrentar a Alemanha no Mineirão. No programa, disse que estava encantado com a Copa, com as seleções de muitos países e com o alto nível do futebol jogado.
Do meu cantinho, acabando o último charuto, quase caí da poltrona. Assisti a todos os jogos e, com exceção de dois ou três, só vi futebol de quinta categoria, a começar pelo time do Felipão. Alfim e ao cabo, durante anos fui cronista-Fifa, quando aprendi que são raríssimos os comentaristas que entendem alguma coisa de futebol. Jaeci Carvalho é um deles e sempre disse que a Seleção Brasileira não seria campeã, porque era uma porcaria.
O Hulk é o Hulk e o Fred, mineiro de 30 anos, ótimo pai, filho amantíssimo, se jogasse a terça parte do futebol que lhe atribuem não estaria no Fluminense, mas num time europeu. O resultado da partida contra a Alemanha só assustou pelo placar, realmente incomum, mas refletiu o futebol praticado pelas duas seleções.
Assisti ao jogo na casa de amigos. Por isso, fui obrigado a suportar a narração do doutor Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno. E constatei que o senhor Casagrande, ex-goleador, é péssimo comentarista, e o senhor Ronaldo Fenômeno, ex-craque, deveria ser proibido de abrir a boca para falar sobre futebol.
Burrice
“Vou subir pela escada-a-á / vou entrar no seu quarto-o-ô / vou transar com você-e-ê / vou tomar banho-o-ô / vou fazer xixi-i-í”. Que lhe parece, caro, preclaro e assustadíssimo leitor? Caso de polícia, não é? Pois fique sabendo que é o padrão das letras que tenho ouvido pela hora do almoço. Ligo o rádio para abafar os sons das áreas de serviço aqui do prédio e acabo desligando furioso.
Mais grave que as letras, os arranjos e as interpretações – outro dia um idiota cantava “janela-a-á” – é a burrice de um philosopho que ainda não comprou um toca-CDs para ouvir as centenas de CDs de músicas decentes, que ficam nas estantes da sala. Um aparelhinho razoável custa uma tuta e meia, mas ligo o rádio para me aborrecer.
O mundo é uma bola
13 de julho de 1793: Charlotte Corday, monarquista, entra na casa do líder revolucionário francês Jean-Paul Marat e o mata durante um banho de banheira. Médico, filósofo, cientista político e jornalista radical, Marat tinha 50 anos. Pensei que seu assassinato numa banheira desmentisse o boato de que os franceses não gostam de tomar banhos, mas fui apurar na Wikipédia e descobri que o líder revolucionário tinha uma doença de pele que o obrigava a tomar banhos medicinais. Aliás, Marat nasceu em Boudry, na Prússia, portanto era prussiano.
Em 1977, um blecaute deixa Nova York no escuro durante 25 horas. Hoje é o Dia do Cantor e do Engenheiro de Saneamento.
Ruminanças
“A melhor mobilização das massas sempre foi uma boa macarronada com vinho tinto” (Rogério G. Lima).
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