Nanotubos para todos
UFMG assina contrato para construir Centro de Tecnologia em Nanotubos de Carbono, espaço de pesquisa que fará a transferência de conhecimento entre universidade e indústria
Pedro Cerqueira
Estado de Minas: 14/07/2014
Fazer uma ponte entre o conhecimento desenvolvido na universidade e sua aplicação na indústria. É com esse intuito que nasceu o Centro de Tecnologia em Nanotubos de Carbono (CTNanotubos), que atualmente funciona num espaço provisório cedido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pelo Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec), com patrocínio da Petrobras e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A boa nova é que, em breve, o CTNanotubos estará em sua casa definitiva. O projeto de R$ 36 milhões está sendo patrocinado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Petrobras e InterCement.
“A ideia desse centro de tecnologia nasceu ao enxergarmos que existia uma demanda por parte da indústria para aplicar a tecnologia dos nanotubos desenvolvida dentro da universidade”, explica Marcos Pimenta, professor do Departamento de Física da UFMG e coordenador do CTNanotubos. O desafio é desenvolver a tecnologia criada num laboratório para uma escala maior e então transmiti-la à indústria, “da escala de laboratório para a escala industrial”, resume Bruno França Pádua Coelho, diretor-executivo do Instituto para o Desenvolvimento de Empresas de Base Tecnológica (IEBT), que presta consultoria para o CTNanotubos.
Segundo Pimenta, trata-se de um trabalho de desenvolvimento de tecnologia que visa otimizar processos para viabilizar determinada ideia, já que na concepção de uma tecnologia dentro da universidade a principal preocupação, na maioria dos casos, é a demonstração de que ela funciona, mas não que ela venha a ser financeiramente viável ou se é possível fazer aquilo em grande escala, fatores que são essenciais à sua aplicação na indústria. O resultado esperado é obter uma maior eficiência, um maior foco no resultado do desenvolvimento de um produto.
O CTNanotubos, que vai funcionar num prédio de quatro andares cujo anteprojeto já está pronto, será construído numa área cedida pelo BH-Tec. A ideia é criar, no futuro, uma entidade sem fins lucrativos para administrar o CTNanotubos. O objetivo é que o centro se torne uma plataforma para a transferência de tecnologias capaz de atrair até mesmo empresas internacionais. Assim, o projeto pode se autossustentar por meio das receitas dos royalties pagos pelas empresas, assim como a prestação de serviços de consultoria e novos projetos de pesquisa e desenvolvimento. Outra possibilidade é a criação de uma empresa a partir do CTNanotubos (spin offs) para comercializar em larga escala os produtos resultantes das tecnologias desenvolvidas em escala-piloto a partir do próprio centro.
Segundo Marcos Pimenta, o projeto é pioneiro no Brasil. “Começamos há quatro anos e tivemos que desenvolver um modelo de negócio. Falta uma legislação que permita, de forma mais fácil, essa transferência de tecnologia entre universidade e indústria”, explica o coordenador do CTNanotubos, contando como foi difícil chegar a um acordo sobre que fatia do bolo iria receber cada parte envolvida no projeto, processo que durou dois anos.
APLICAÇÕES Um dos principais produtos que já estão sendo desenvolvidos pelo CTNanotubos é o nanocompósito de cimento. A mistura com fibras de diâmetro nanométrico, ou seja, com diâmetro 100 mil vezes menor que um fio de cabelo, torna o cimento muito mais resistente, impedindo a formação e a propagação de fissuras, além de reduzir o consumo de aço em elementos de concreto armado. As aplicações da nanotecnologia do cimento estão nas plataformas e poços de petróleo, além da indústria da construção civil, em materiais diversos.
Os nanotubos de carbono podem ser até 50 vezes mais resistentes que o aço, sendo que sua densidade é seis vezes menor que a do aço. Assim, eles podem ser misturados a outros materiais convencionais, como plásticos, cimento e cerâmicas, tornando-os mais resistentes. Essas misturas são chamadas de nanocompósitos. Outras propriedades dos nanocompósitos de carbono são uma maior resistência às variações de temperatura e significativa melhora na condução de energias elétrica e térmica. Os nanotubos também são empregados em outros produtos, como matrizes poliméricas, tema da pesquisa realizada há seis anos pela professora Glaura Silva, da UFMG, em parceria com a Petrobras.
Nesse ramo, os materiais em que a empresa petrolífera tem manifestado interesse são, em especial, a resina epóxi adesiva de alto desempenho, que pode ser usada na adesão de estruturas metálicas na indústria de petróleo e gás, e o poliuretano termorrígido, aplicado em enrijecedor de curvatura, também na indústria de petróleo e gás. Na eletrônica, os nanotubos de carbono podem ser usados para desenvolver dispositivos como sensores e circuitos integrados e, para o setor de energia, em baterias, supercapacitores e células solares, mas isso por enquanto está fora do escopo do CTNanotubos/UFMG.
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SEM LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA
Como a tecnologia dos nanocompósitos é relativamente nova, pouco se sabe sobre os efeitos desses materiais tão pequenos no meio ambiente. Pensando nisso, uma das coordenadorias do CTNanotubos será voltada à segurança, meio ambiente e saúde, com a finalidade de entender possíveis efeitos adversos e também criar protocolos sobre a aplicação correta desses materiais. De acordo com Bruno França, diretor-executivo do Instituto para o Desenvolvimento de Empresas de Base Tecnológica, atualmente não existe legislação específica para produção, estoque, manuseio ou descarte de nanotubos de carbono. Porém, qualquer empreendimento baseado nesses materiais deve levar em consideração esses aspectos no desenvolvimento de seus protocolos. Uma das funções dessa coordenadoria vai ser dar suporte não apenas ao CTNanotubos, em Minas Gerais, mas a outros empreendedores dessa área, visando também fornecer uma certificação da inocuidade da utilização desses produtos.
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