terça-feira, 29 de julho de 2014

O bailarino e o jogador - Rui Moreira‏

O bailarino e o jogador
A dança e o futebol fazem do corpo um instrumento de trabalho


Rui Moreira
Bailarino e coreógrafo da Rui Moreira Cia. de Danças
Estado de Minas: 29/07/2014


Aparentemente, o balé e o futebol são duas atividades totalmente distintas. Porém, fazendo uma análise mais detalhada, percebemos o quanto elas podem ser parecidas. O bailarino e o jogador de futebol têm muitos pontos em comum. Para se tornar um jogador profissional e pertencer a um time, o jogador tem que se esforçar, treinar, superar limites, saber trabalhar em equipe, dominar seu corpo e, mesmo assim, está à mercê do imponderável acaso. Isso não é muito diferente no caso do bailarino. O profissional deve ter uma atenção redobrada com o próprio corpo, são necessários muitos ensaios, esforço, habilidade, trabalho em equipe e sorte para evitar as temidas lesões. Tanto o bailarino quanto o jogador de futebol têm seu corpo como instrumento de trabalho. A longevidade da carreira desses profissionais está diretamente ligada ao cuidado com a saúde do próprio corpo, isso sem contar com as prováveis lesões que podem ocorrer ao longo da carreira. Ser profissional nessas duas áreas exige, além de habilidades próprias, incansável dedicação e amor pela profissão.

O atleta do futebol já tem idade determinada para encerrar a carreira. Os jogadores de linha, geralmente, vão até os 35 anos em clubes da categoria A. Os goleiros tendem a avançar um pouco mais. O esporte demanda um bom condicionamento físico do atleta para conseguir jogar profissionalmente. Mesmo contra a vontade do esportista, a carreira de jogador é interrompida muito cedo, devido à idade ou a lesões causadas pelo trabalho. Por isso, muitos atletas procuram áreas ligadas ao futebol para continuar seu trabalho. Atualmente, temos ex-jogadores que se tornaram comentaristas de futebol, técnicos ou abriram negócios próprios relacionados ao esporte, como escolinhas de futebol e academias, mostrando que tudo é válido para continuar no universo dos seus sonhos. Os artistas da dança também têm limitações para exercerem a mesma atividade em uma idade mais avançada. Contudo, eles trabalham não apenas com a explosão física, mas também com elementos subjetivos, como os gestos e a sensibilidade poética. Desse modo, podem avançar mais tempo na carreira escolhida e alguns só a veem interrompida pela morte ou por doenças muito graves. A carreira do bailarino tem inicio ainda na infância e os trabalhos profissionais, geralmente, começam no fim da adolescência. A presença de lesões, da dor e da ameaça da aposentadoria precoce são medos que estão presentes ao longo da carreira do bailarino. Antigamente, esses artistas encerravam sua carreira por volta dos 35 anos. Porém, assim como no futebol, o bailarino não quer sair da área escolhida. Por isso, muitos se mantêm na profissão com danças que se enquadrem ao seu novo perfil, ou como professores, coreógrafos, ensaiadores e até mesmo como produtores. A possibilidade de novos trabalhos relacionados às áreas de atuação dos bailarinos é variada e favorece a durabilidade da carreira artística.

Sou bailarino e, assim como a maioria dos brasileiros, sempre amei o futebol. Quando comecei o balé, tive que tomar um cuidado especial com esse esporte. Algumas atividades que colocam o corpo de um bailarino em risco devem ser evitadas, por isso precisei evitar o contato com a bola, mas nunca deixei de acompanhar e admirar os profissionais com os quais eu me identifico tanto, mesmo estando em áreas aparentemente tão distintas. O esporte e a arte são paixões que caminham juntas na minha vida e mostram o valor de profissionais de alto rendimento.

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