sábado, 19 de julho de 2014

O que não foi escrito - Arnaldo Viana

O que não foi escrito

Arnaldo Viana - arnaldoviana.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 19/07/2014




“Brasileiros, brasileiras. Crianças, jovens e adultos. Estamos escrevendo estas mal traçadas linhas para dizer muito obrigado! Confessamos que nos surpreendemos com os ótimos resultados obtidos na Copa do Mundo, embora não devêssemos, porque, acima de tudo, deveria partir de nós o voto de confiança em vocês. Obrigado, trabalhadores do sistema de transporte aéreo, do carregador de malas aos operadores e comandantes de voos, passando pelo setor administrativo, prestadores de serviço e agentes alfandegários. Vocês nos ajudaram a derrotar o vaticínio do caos. Sabemos que não estávamos 100% preparados para receber tantos visitantes, mas a colaboração de vocês, a presteza e a responsabilidade não nos deixaram com cara de tacho.

Obrigado, trabalhadores do transporte coletivo. A dedicação e a paciência no trato com grande fluxo de passageiros, muitos falando em idioma desconhecido por vocês, compensaram as deficiências desse serviço. Houve críticas, sim, mas houve mais elogios. Obrigado, senhores e senhoras, funcionários e funcionárias de bares, hotéis, albergues, hospedarias, pensões, restaurantes, lanchonetes, mercados e padarias. Desdobramento não apenas no atendimento, mas também no jeitinho com que se armaram para atender pedidos em inglês, francês, alemão, holandês, japonês, coreano e até em língua persa. E se saíram bem. Não se tem conhecimento de agressividade, intolerância e desrespeito.

Obrigado, policiais, civis e militares, e servidores das Forças Armadas a serviço da segurança pública pelo dever cumprido. Há muito o país não se sentiu tão tranquilo não só em sair da casa, mas também seguro e confiante para receber visitas de pessoas que nem conheciam o país. Houve ocorrências, sim, mas corriqueiras, tais quais as registradas em países e cidades com índices de violência considerados toleráveis. Agradecimentos por não deixar exposta uma chaga, a criminalidade, que nos atormenta. E parabéns, especialmente, senhores da Polícia Civil carioca, por desvendar a máfia dos ingressos da Copa do Mundo e revelar o envolvimento de parceiros da Fifa no escuso negócio. Obrigado, voluntários, pela excelência na condução dos torcedores nos estádios. Agradecimento especial às famílias por não relutar em privar os filhos de aulas por mais de 30 dias, o que desafogou o tráfego e não revelou nossas deficiências na questão da mobilidade.

Agradecimentos a todos vocês, brasileiros e brasileiras, pelo exemplo de civismo, educação, solidariedade. Pela forma gentil e prestativa com que receberam os estrangeiros, deixando-os à vontade para conhecer o país, experimentar petiscos e iguarias. Pelo clima de paz, sem incidentes capazes de pôr à prova o frágil sistema de saúde. E, mais uma vez, pela maneira com que se fizeram comunicar com os turistas do exterior, não evidenciando as nossas falhas na educação. Nossos aplausos pelo festival de cores e criatividade nos estádios, por cantar o Hino Nacional com o coração, não apenas com a garganta. Obrigado! O futebol perdeu a chance de conquistar o hexa em casa. E ainda passou por humilhação. Aliás, não se esperava tanto dele. Mas vocês, brasileiros e brasileiras, são os vencedores. E nos orgulhamos.

Atenciosamente,

Governo federal, governos estaduais, governos municipais, CBF, Comitê Organizador, autoridades em geral e afins.”

Esclarecimento do Negão: A carta acima é obra de ficção. Não foi escrita e não o será. Mas deveria haver, de alguma forma, um agradecimento especial, formal ou informal, ao povo deste país por ter se dedicado a proporcionar ao mundo um dos mais bonitos e agradáveis eventos de nível internacional. Tão especial que quase 100% dos visitantes declararam que voltariam ao país. Que voltem! 

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