quinta-feira, 3 de julho de 2014

Vaporização a laser para diminuir a próstata‏

Vaporização a laser para diminuir a próstata Técnica menos invasiva vem sendo usada nos casos de hiperplasia prostática benigna, caracterizada pelo aumento do órgão masculino

Augusto Pio
Estado de Minas: 03/07/2014



A hiperplasia prostática benigna (HPB) é um transtorno comum em homens com mais de 50 anos, chegando a atingir 80% destes. A doença é caracterizada pelo aumento da próstata, comprimindo a bexiga e obstruindo parcial ou totalmente a uretra, prejudicando, assim, o fluxo normal da urina. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o problema acomete cerca de 14 milhões de homens no país. De acordo com Bernardo Pace Silva de Assis, urologista do Pace Hospital e coordenador do Departamento de Endourologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU-Regional Minas Gerais), a HPB é uma doença silenciosa e que pode provocar infecção urinária e, em casos raros, evoluir para a insuficiência renal. Para tratar o problema, até então vinha sendo adotada a tradicional cirurgia com corte, que exigia um tempo maior de recuperação. Uma nova técnica que tem sido adotada é minimamente invasiva: ela vaporiza a próstata e reduz o tempo de cirurgia, internação e os riscos ao paciente. “Trata-se da Greenlight laser therapy (Terapia da luz verde a laser, na tradução livre), que reduz o tempo de recuperação quando comparado à cirurgia tradicional. Outra vantagem é a diminuição média do tempo de internação, de três dias, do método tradicional, para, em média, um dia com o laser”, garante o urologista.

Segundo Bernardo Pace, as primeiras gerações de equipamentos de laser empregadas em HBP, como o de neodymium-YAG, coagulavam o tecido iluminado, que nem sempre se desprendia e, por isso, não desobstruía a luz uretral. Por outro lado, o novo sistema Greenlight, que usa o laser KTP e o triborato de lítio, produz vaporização imediata e não apenas coagulação das massas glandulares intrauretrais, promovendo ampla cavitação local. A vaporização prostática a laser tem algumas vantagens, como a sondagem vesical (drenagem da urina por meio de sondas) e internações inferiores a 24 horas, menor incidência de complicações operatórias e pós-operatórias, ausência de sangramento, o que permite o uso em pacientes ingerindo anticoagulantes e maior proteção da equipe médica contra infecções transmitidas por contato com sangue de pacientes infectados.

“Nesse sentido, não deixa de ser significativo que tanto o Food and Drug Administration (FDA), órgão que regula medicamentos e tratamentos nos Estados Unidos, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil, aprovaram o Greenlight para emprego em hiperplasia prostática benigna. Nos EUA, já existem mais de 500 equipamentos em uso clínico”, acrescenta Pace.

SINTOMAS A maioria dos pacientes com HBP não requer tratamento. “Aqueles pacientes sintomáticos, que procuram o urologista, serão tratados conforme a severidade dos sintomas. Os levemente sintomáticos serão acompanhados clinicamente, ficando sob observação. Os moderadamente sintomáticos serão tratados com medicamentos que impeçam o crescimento prostático, como o finasteride e a dutasterida, ou que relaxem a próstata (drogas alfa-bloqueadoras). Nos pacientes severamente sintomáticos ou aqueles que, por qualquer razão, não possam tomar os medicamentos, está indicada a cirurgia.

A operação pode ser a prostatectomia aberta, na qual é necessária uma incisão no abdômen, e é retirada somente a parte central da próstata, a qual, justamente, comprime a uretra. As partes periféricas da próstata permanecem. Outro tipo de cirurgia pode ser empregada, como a ressecção transuretral da próstata, procedimento cirúrgico urológico usado para tratar a HPB, realizado por meio da visualização da próstata via uretra e remoção do tecido com bisturi elétrico. Ambas são cirurgias desobstrutivas”, explica Bernardo Pace.

O presidente da SBU/MG, Antonio Peixoto de Lucena Cunha, professor de urologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e coordenador do Serviço de Urologia do hospital-escola da instituição, esclarece que o tratamento da HPB não é complicada, geralmente é clinico (com medicação). “Quando há indicação de cirurgia devido às complicações ou falhas no tratamento clínico, temos várias opções. O padrão ouro, dos quais as demais técnicas procuram atingir resultados semelhantes, é a ressecção transuretral da próstata (RTU). Contudo, é um procedimento cirúrgico não isento de complicações, com limitações do volume da próstata. Com o desenvolvimento dos novos aparelhos, melhora da técnica e experiência do cirurgião, essas complicações têm diminuído cada vez mais.”


Métodos DIVERSoS Peixoto acrescenta que há, ainda, outros métodos para tratar a hiperplasia, como a plasmovaporização (consiste em usar um eletrodo de vaporressecção em forma de cogumelo invertido, que com uma voltagem maior vaporiza a próstata); a prostatectomia a laser, estando disponível vários tipos de fonte de laser (KTP laser, Green light 180-W XPS, Holmium-Yag Laser, Thulium YAG Laser, entre outros), a termoterapia e a ablação transuretral da próstata por agulha (Tuna), procedimento ambulatorial para tratar os sintomas urinários causados pela HPB.

Segundo o médico, todas as técnicas endoscópicas apresentam limitações, vantagens e desvantagens. A principal desvantagem é o elevado custo e a falta de comprovação de resultados a longo prazo. “Em próstatas volumosas, a melhor opção é a cirurgia aberta, por apresentar uma opção segura e eficaz, permitindo uma completa remoção do adenoma (HPB) e menores taxas de retratamento”, acrescenta Antonio Peixoto, ressaltando que a videolaparoscopia tem conquistado espaço no acesso das prostatectomias (remoção cirúrgica de parte ou de toda a próstata), com limitação do volume, porém com um futuro promissor.

“Nas cirurgias endoscópicas, o tempo de internação varia de um a dois dias, mas existem estudos e publicações com a realização desses procedimentos ambulatorialmente. Contudo, ainda não se definiu a vantagem desta alta precoce, uma vez que o paciente sai com sonda vesical. Nas prostatectomias abertas retropúbicas (incisão feita no abdômen inferior, com remoção da próstata), a internação é de dois a quatro dias, e nas suprapúbicas (abaixo do umbigo até a raiz do pênis), em torno de cinco a 10 dias”, esclarece Peixoto.

O especialista salienta que a evolução tecnológica possibilitou grandes avanços no tratamento da HPB nos últimos anos, com consequente diminuição dos riscos de transfusão, diminuição no tempo de internação e de cateterismo vesical. “Todos os procedimentos têm vantagens e desvantagens, diferentes fontes de energia podem ser utilizadas para remover ou destruir o tecido prostático que obstruiu a uretra. O médico urologista será capaz de orientar o paciente sobre qual procedimento será melhor para o seu caso. Apesar de termos ainda como padrão ouro a ressecção transuretral da próstata, existem outras alternativas, com vantagens e desvantagens, custos e benefícios, que devem ser levadas em consideração, cabendo ao paciente e seu médico analisarem e definirem em conjunto qual o melhor procedimento a ser realizado”, conclui.

Personagem da notícia
Jesus Costa,
72 anos, aposentado 
Qualidade de vida retomada
O aposentado Jesus Costa, de 72 anos, garante ter sido o primeiro paciente a ser operado em BH com a técnica do GreenLight laser therapy. “Antes da operação, a HPB me causava problemas de micção, pois levantava várias vezes para urinar ou, às vezes, queria fazê-lo e não conseguia, ou então não dava conta de segurar o jato, coisas desse tipo. O próprio médico me aconselhou a fazer a operação usando a nova técnica, cujo procedimento é feito pela uretra e com sedação. Como tinha receio dos outros métodos mais tradicionais, aceitei. Tudo foi muito rápido, pois fiz em um dia e, no outro, já estava em casa. Confesso que não senti nada, nenhuma dor. É claro que, durante o período de recuperação, tive que ter alguns cuidados, como não andar de bicicleta, a cavalo ou descer escadas. Às vezes, quando urinava, o canal uretral ardia um pouco, mas, de acordo com o médico, era assim mesmo. Hoje, sinto-me completamente normal, graças a Deus.” 

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