No Rio, sem chapéu, sapatos de couro de sola grossa, emborrachada, comprados na Clark, me dispensavam das galochas
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 17/08/2014
Pedido de
socorro, do inglês S.O.S., sigla de save our soul s (salvem nossas
almas), passou a ter cabimento em diversas profissões depois de tirar os
empregos dos funcionários das fábricas de galochas. Antes da moda do
tênis – sapato de material leve (lona, tecido, couro, plástico) e sola
flexível de borracha, para uso esportivo e geral – muitos cavalheiros
não saíam de casa sem levar nas pastas um par de galochas. Pois é:
homens sérios e trabalhadores não dispensavam as pastas.
Durante
séculos circulei com pastas de couro, que ainda tenho guardadas nos
armários. Óculos, charutos, documentos, escova e pasta de dentes, tudo
transportado numa pasta. E chapéu de feltro para proteger do sol o então
belo rostinho. No Rio, sem chapéu, sapatos de couro de sola grossa,
emborrachada, comprados na Clarks, me dispensavam das galochas. Vejo no
Google que Portugal tem a Clarks e aproveito para encomendar ao leitor,
que visite Portugal, um par de chinelos de couro, sola de borracha, duas
tiras em X, tamanho 45. Acho que o 45 português corresponde ao nosso,
ouviu, dr. Artur Bettencourt?
Volto às profissões em risco de
extinção. Um estudo da CareerCast apontou as mais ameaçadas em 2014,
baseado nos dados do U.S. Bureau of Labor Statiscs (BLS). A de carteiro é
a mais ameaçada. Até 2022, o número de profissionais contratados deve
cair 28% nos Estados Unidos, mas o portal ressalta que a redução do
mercado para os profissionais que estão chegando não significa
diminuição da qualidade de trabalho para quem já está no mercado. A
média salarial nos EUA é de US$ 53.100 ao ano, sinal de que um
postalista americano ganha US$ 4.425 por mês. Motivo: a comunicação
on-line afetou profundamente o serviço dos correios. Na medida em que a
sociedade tem mais acesso à internet, as vagas no serviço de postagem
caem severamente.
O leitor do Estado de Minas, que me conhece
bem, sabe que não estou aqui para fazer terrorismo midiático, motivo
pelo qual peço licença para não citar todas as profissões em risco. Nos
Estados Unidos, entre outros profissionais, estão ameaçados os
lenhadores (média salarial: US$ 24.340 ao ano), os agricultores (US$
69.300 ao ano), os leituristas de medidores, os agentes de viagens, os
operadores de perfuradoras (US$ 32.950) e, felizmente para o povo
norte-americano, os fiscais e coletores de impostos (US$ 50.440).
Assinante
Tevê
aberta, apesar de muito recente na história, já é do conhecimento quase
geral. Você compra o televisor, liga na tomada, ajeita a antena e fica
sabendo, através da excelentíssima senhora que preside este país grande e
bobo, que as nossas Forças Armadas já possuem barcos de fibra óptica.
Bem-aventurado o único país que tem barcos de fibra óptica e logo terá
aviões de fibra óptica, PIB e mensaleiros de fibra óptica.
Na
tevê a cabo você compra o televisor, liga na tomada e contrata com a
operadora uma série de canais, pagando por mês. Filmes, esportes,
notícias, você pode contratar canais do seu agrado, paga por mês e os
profissionais deles todos começam a tratar você como “assinante”,
dirigem-se ao assinante, agradecem a audiência do assinante, sinal de
que você é, de certa forma, um dos financiadores daquela geringonça.
Vai
daí que você começa a analisar os canais que assina (e financia), sem
entender como podem certos cavalheiros ser convidados para diversos
canais. Convidados e pagos pelos canais em que passam dias inteiros:
SporTV, GloboNews, GNT – manhãs, tardes e noites ao vivo e em cores,
sinal de que são pagos pelos canais.
Um dos cavalheiros tem o
dom da ubiquidade – qualidade de um ser que dá a impressão de estar
física e concomitantemente presente em diversos lugares – deve ser
pertinente ou engraçado, virtudes só vistas pelos diretores que o
contratam, porque para o assinante não passa de um imbecil risonho,
muito feio, mal-ajambrado em camisas floridas. É a minha opinião e não
aceito melhor juízo.
O mundo é uma bola
17
de agosto de 1833: início da primeira travessia do Oceano Atlântico em
navio a vapor. Em 1903, Joseph Pulitzer estabelece o Prêmio Pulitzer.
Jornalista e editor estadunidense nascido em Makó, Hungria, Joseph
(1847-1911) era de família judaica bem de vida, estudou em escolas
particulares de Budapeste, tentou alistar-se nos exércitos austríaco ou
britânico sem êxito, porque tinha pouca saúde e enxergava mal. Falava
fluentemente alemão, francês e húngaro, mas capengava no inglês. Nos
Estados Unidos, trabalhou em St. Louis como carregador e bagageiro,
enquanto estudava inglês e direito fazendo política. Fez carreira no
jornalismo americano, foi editor e dono de jornais. Em 1903 doou US$ 1
milhão à Universidade de Colúmbia para instalação de um curso de
jornalismo. Perdeu completamente a visão alguns anos antes de morrer.
Em
1942, um submarino supostamente alemão torpedeia os navios brasileiros
Araxá e Itagiba. Em 1945, George Orwell publica o livro Animal farm, no
Brasil A revolução dos bichos, em Portugal O triunfo dos porcos.
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