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Um encontro interessante
A desafiadora complexidade da vida convoca a psicanálise a se confrontar com dilemas, provocações e impasses
A desafiadora complexidade da vida convoca a psicanálise a se confrontar com dilemas, provocações e impasses
Regina Teixeira da Costa
Publicação: 17/08/2014
O trauma revisitado será o tema da 32ª Jornada do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais. Essa foi a questão que norteou todo o ano de estudos e os resultados serão apresentados aos interessados durante o encontro.
Desde o século 19, o trauma é motivo de pesquisa e estudos. Sigmund Freud já se interessava por ele e, em busca de aprofundar seu conhecimento, estagiou com o renomado professor Jean-Martin Charcot no famoso Hospital da Salpêtrière, momento em que histeria e trauma estavam articulados.
Do interesse inicial, Freud traçou um caminho, partindo da suposta sedução da criança pelo pai até a constatação da existência da realidade psíquica e da fantasia. Isso apontava para o fato de o trauma ser uma questão de estrutura, estava presente no ser humano.
Depois da realidade factual da sedução ocupar papel determinante como causa da neurose e de ser relegada ao segundo plano, quando a fantasia a substituiu como fator central etiológico, o surgimento das neuroses traumáticas causadas pelo advento da Primeira Guerra Mundial, houve um afastamento da questão da sexualidade, tema até então central na teoria do trauma.
Esse fato favoreceu uma mudança que apontava para a importância do contingencial na vida das pessoas. Seres traumatizados por excelência, somos também assujeitados aos acontecimentos da vida, ao acidental, ao traumático de experiências desorganizadoras. Encontro com um real que pode ser avassalador, ou não.
O trauma volta hoje à tona, acenando para um lugar de destaque. Não se passa uma semana sem que alguém próximo tenha sofrido algum tipo de acidente traumático (assaltos, roubos, sequestros relâmpagos, acidentes de trânsito, etc.).
A violência não é um fato novo, as grandes guerras o demonstram, mas hoje ela é disseminada nas ruas em qualquer lugar, contra qualquer um, e atinge níveis alarmantes, com o agravante de que todas as estratégias para contê-la se mostram insuficientes.
A modernidade está mais exposta ao traumático, pois nem toda a racionalização cartesiana pode evitar restos, ambiguidades inclassificáveis e os afetos. O homem racional da modernidade não sabe lidar com o que sobra dessa sua tarefa classificatória.
Segundo Luiz Cláudio Figueiredo, “podemos reconhecer no traumático a figura exemplar da paixão; o sujeito é repentinamente apassivado pelo impacto de um objeto cujo dinamismo excede em muito a sua capacidade de enfrentamento e domínio (prático ou simbólico); no trauma, a vontade do sujeito é submetida à sua sensibilidade, aos seus afetos; se a linguagem dos afetos padece sempre da equivocidade, para falar o trauma não há, rigorosamente, linguagem alguma disponível”.
O afeto (este quantum da pulsão que busca representação) não tem lugar na modernidade cartesiana, será sempre da ordem do ambíguo e do contingente e, portanto, passível de destino traumático.
A crescente e desafiadora complexidade da vida contemporânea convoca a psicanálise a se confrontar com dilemas, provocações e impasses que se apresentam em cenários variados – desde as ruas de nossas cidades até a cobertura jornalística diária e as redes digitais disponíveis na internet –, para além dos limites e das possibilidades dos nossos consultórios e instituições.
Ao escolher o trauma psíquico como tema dessa jornada, além da bem-vinda revisão teórica, há a proposta de que sejam revisitadas, por meio do olhar do nosso tempo, quando é preciso entender e atender à clínica contemporânea, e nesse viés buscar alternativas de sobrevivência ao trauma nosso de cada dia.
Com certeza, um encontro muito proveitoso, com as presenças de Joel Birman e Ana Maria Rudge, ambos psicanalistas e pesquisadores do tema, além dos trabalhos dos colegas que se debruçaram sobre o tema. O Círculo Psicanalítico de Minas Gerais convida a todos para os debates.
32ª Jornada do Círculo Psicanalítico
Dias 28 e 29, no Centro de Conferências do Hospital Mater Dei. Informações: (31) 3223-6115 e 3287-1170;
e-mail cpmg@cpmg.org.br; site www.cpmg.org.br.
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