domingo, 10 de agosto de 2014

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Consumo de informação‏

EM DIA COM A PSICANáLISE » Consumo de informação
Estado de Minas: 10/08/2014


Jamais poderíamos imaginar, nos anos 1970, que o mundo daria uma virada tão radical. Nestes últimos 40 anos, com a disseminação do mundo virtual, nunca consumimos tanta informação. Hoje, em tempo real, entre consultas, aciono meu celular e recebo notícias dos acontecimentos imediatos.

Outro dia, me mandaram via WhatsApp o desabamento do Viaduto Guararapes, quase na hora, com a cena da motorista esmagada. Na última chuva pesada, recebi imagens de vários carros boiando na Rua Joaquim Murtinho com Av. Prudente de Morais.

Grupos de amigas enviam fotos ao vivo do restaurante A Favorita queimando! Graças aos céus, rapidamente restaurado e funcionando, para alegria de seus comensais. E não são poucos!

O avião derrubado pelo míssil na Ucrânia. Outro, meses atrás, caiu no mar e até hoje está desaparecido. Meninas sequestradas porque estudavam. O tigre arrancou o braço do menino. Israel bombardeia a Palestina.

A internet noticia as buscas dos restos mortais de Eliza Samúdio. Helicópteros da polícia já rondam o local apontado pelo primo do goleiro Bruno, que finalmente falou. Cem anos passados da Primeira Guerra Mundial e se comemora a união.

Notícias boas e más nos alcançam sem pedir licença, e devemos lidar com elas, sofrer junto com o pai, com as famílias dizimadas pela guerra e, no momento seguinte, nos alegrar com alguma grandeza do homem. Sentimentos que se alternam a cada minuto. Fomos feitos para isso?

Interessante é que hoje cada pessoa é o repórter e o próprio editor da notícia, colocando em rede tudo o que vê e julga ser de utilidade pública. Ou filma cenas da vida alheia que se tornam alvos principais da mídia por curiosidade mórbida. Por onde passa, a pessoa grava a cena. A vida guiada pela câmera segue direto para as redes sociais. De modo que a notícia que fica para o outro dia é velha. E isso não é sem consequências.

Saber tanto sobre tudo em tempo real nos retira do sossego do não saber e provoca uma aceleração ansiogênica. A ordem do momento é a informação. É proibido ignorar. A pressão da informação transforma a pessoa que não dá notícia do que se passa numa alienada, desinformada.

Quando iríamos imaginar que acompanharíamos ao vivo bombas caindo na Faixa de Gaza? Ver um crime ao vivo é aterrorizante. É quase participar dele. Ficar impotente enquanto matam civis é viver um sentimento desolador. O que pensam resolver com o genocídio? Com a opressão?

Além do quê, assistir à ganância, discórdia e agressividade criminosa do homem contra o homem para impor um poder pela via da coerção e força nos dá a sensação de que nem toda experiência anterior de barbárie vivida irá ensinar ao homem que o genocídio é apenas mais uma perda desnecessária, que marca com uma mancha irreparável no caminho da civilização.

Além das bombas reais somos bombardeados com a informação! E nos pegamos aos domingos com três jornais para ler, dezenas de e-mails para colocar em dia, o trabalho da semana para preparar, filmes que devemos ver (todos já viram!!!) e, na incapacidade de levar a cabo tudo isso, muito e mais ainda, ficamos ansiosos. Faltosos e endividados.

Na era da informação, tentamos dominar nossa relação com o saber e não pensar que esse saber é sempre incompleto. O mundo hoje é pequeno, as distâncias são menores. Para qualquer lugar que viajemos, chegando lá já vimos tudo na internet. Felizmente, ainda sobram algumas surpresas, talvez mais discretas.

Nada melhor do que ser surpreendido pelo inusitado, o inesperado. Espero nunca perder a capacidade de admirar pequenas surpresas no encontro com o desconhecido. E com o novo, uma alegria.

>>  reginacosta@uai.com.br

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