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Última morada
Regina Teixeira da Costa - reginacosta@uai.com.br
Estado de Minas: 24/08/2014
Regina Teixeira da Costa - reginacosta@uai.com.br
Estado de Minas: 24/08/2014
A finalidade da
vida é a morte. Entretanto, mesmo sabendo que a morte é nossa única
certeza, não nos conformamos com a finitude. Brigamos contra a morte,
desejamos vencê-la, prolongamos a vida com todos os recursos possíveis
e, muitas vezes, até vamos muito além do que deveríamos para mantê-la.
A missão da medicina é manter a vida e, para cumprir a ética médica, muitos de nós morrem em leitos frios de hospitais. Em UTIs mantidos vivos à custa de aparelhos, entubação e outros recursos invasivos e dolorosos, postergamos o fim apesar do desejo do paciente, que muitas vezes seria o de ir para casa e morrer no conforto de seu leito entre os entes queridos.
Toda vida anda nos trilhos da morte. O poeta Fernando Pessoa disse que o próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela. Mas temos medo.
Com a morte no horizonte, mesmo que a olhemos de viés, já que encará-la não é fácil, o valor da vida pode parecer menor. Freud, em 1915, escreveu sobre um poeta amigo que, diante da decadência do belo e do perfeito, perdia seu valor devido à transitoriedade.
Outros, no entanto, valorizam a vida justamente por ser breve. Mesmo os mortais, neste intervalo entre nascer e morrer, realizam uma passagem que deixa marcas da existência, com obras, arte e lembranças no coração daqueles que amaram. Acreditam ser os filhos uma continuidade assim como são os filhos dos filhos, de modo a amenizar um desaparecimento tão radical.
Para Freud, cada um de nós estaria em dívida de morte para com a natureza e deveria estar preparado para pagar tal dívida, já que a morte é natural, indiscutível e inevitável.
Mesmo com todas essas racionalizações sobre a morte e o morrer, é difícil aceitar a finitude. Vivemos como se fôssemos imortais, sem olhar de frente para o fim, porque recuamos diante do que é penoso. E a morte é uma separação radical acompanhada do doloroso luto.
Se morrer velho pode ser mais aceitável, um fim súbito, ao contrário, nos rouba alguém querido, próximo, ou mesmo um desconhecido, choca. E a morte de Eduardo Campos comoveu o país inteiro, principalmente por se tratar de um homem de vontade forte, que lutava por seus ideais, sonhos e anseios no auge da vitalidade e do desejo de realização.
Ver uma vida cortada por um acidente é muito triste. Parece-nos muito injusta. A morte, como disse uma amiga, envergonha, humilha. Retira-nos o narcisismo, a arrogância, a grandiosidade, o poder. Retira-nos tudo. Mortos, somos iguais. Somos pó e ao pó voltaremos.
É fato. Mas entre o nascer e o morrer temos um intervalo, e nesse espaço temporal podemos realizar grandes ou pequenas contribuições pelos que continuarão depois de nós. E desfrutar um pouco dos nossos desejos. Enquanto é tempo, mãos à obra antes de quitar a dívida!
A missão da medicina é manter a vida e, para cumprir a ética médica, muitos de nós morrem em leitos frios de hospitais. Em UTIs mantidos vivos à custa de aparelhos, entubação e outros recursos invasivos e dolorosos, postergamos o fim apesar do desejo do paciente, que muitas vezes seria o de ir para casa e morrer no conforto de seu leito entre os entes queridos.
Toda vida anda nos trilhos da morte. O poeta Fernando Pessoa disse que o próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela. Mas temos medo.
Com a morte no horizonte, mesmo que a olhemos de viés, já que encará-la não é fácil, o valor da vida pode parecer menor. Freud, em 1915, escreveu sobre um poeta amigo que, diante da decadência do belo e do perfeito, perdia seu valor devido à transitoriedade.
Outros, no entanto, valorizam a vida justamente por ser breve. Mesmo os mortais, neste intervalo entre nascer e morrer, realizam uma passagem que deixa marcas da existência, com obras, arte e lembranças no coração daqueles que amaram. Acreditam ser os filhos uma continuidade assim como são os filhos dos filhos, de modo a amenizar um desaparecimento tão radical.
Para Freud, cada um de nós estaria em dívida de morte para com a natureza e deveria estar preparado para pagar tal dívida, já que a morte é natural, indiscutível e inevitável.
Mesmo com todas essas racionalizações sobre a morte e o morrer, é difícil aceitar a finitude. Vivemos como se fôssemos imortais, sem olhar de frente para o fim, porque recuamos diante do que é penoso. E a morte é uma separação radical acompanhada do doloroso luto.
Se morrer velho pode ser mais aceitável, um fim súbito, ao contrário, nos rouba alguém querido, próximo, ou mesmo um desconhecido, choca. E a morte de Eduardo Campos comoveu o país inteiro, principalmente por se tratar de um homem de vontade forte, que lutava por seus ideais, sonhos e anseios no auge da vitalidade e do desejo de realização.
Ver uma vida cortada por um acidente é muito triste. Parece-nos muito injusta. A morte, como disse uma amiga, envergonha, humilha. Retira-nos o narcisismo, a arrogância, a grandiosidade, o poder. Retira-nos tudo. Mortos, somos iguais. Somos pó e ao pó voltaremos.
É fato. Mas entre o nascer e o morrer temos um intervalo, e nesse espaço temporal podemos realizar grandes ou pequenas contribuições pelos que continuarão depois de nós. E desfrutar um pouco dos nossos desejos. Enquanto é tempo, mãos à obra antes de quitar a dívida!
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