Zero Hora 24/08/2014
Ela sabe que é um pensamento improdutivo, mas mesmo assim se preocupa
com a passagem do tempo, parece uma menina assustada diante do acúmulo
de números que sua idade vem ganhando. Não entende onde foram parar seus
16 anos, seus 21, seus 29, seus 35, seus 42.
Ora, onde eles podem estar? Todos ainda dentro dela.
Ao assoprar as velas, a sensação é de que o passado também se apaga e
um presente totalmente novo é inaugurado. Sendo virgem da nova idade, é
como se estivesse nascendo naquele específico dia com pequenas rugas e
manchas surgidas subitamente, e não trazidas do antes. Como se estivesse
vindo ao mundo na manhã do festejado dia com os quilos, as dores e os
limites de um adulto recém-nascido e com uma expectativa de vida mais
curta, sem registro algum do tempo transcorrido até ali, aquele tempo
que sumiu.
Sumiu nada.
Você tem seus 16 anos para sempre. Seus 21. Seus 25 e todos os
outros números que contabilizou a cada aniversário: você tem oito anos,
você tem 19, você tem 37. Você só ainda não tem o que virá, mas os anos
que viveu ainda estão sendo vividos, são eles que, somados, lhe
transformaram no que é hoje. Sua idade atual não é uma estreia, você não
nasceu com esses anos todos que sua carteira de identidade diz que você
tem. Só o dia do seu nascimento foi uma estreia. Desde então, você
nunca mais saiu de cena. Ainda estão em curso seus primeiros minutos de
vida.
Você ainda sente o nervosismo das primeiras vezes, as mesmas dúvidas
diante das escolhas, o afeto por pessoas que foram importantes lá
atrás, a adrenalina dos riscos corridos. Nada disso evaporou. O ontem
segue agindo sobre você, segue interferindo na sua trajetória. É a mesma
viagem, a mesma navegação. O meio de transporte é seu corpo, e ele
ainda não atracou.
Mas e todo aquele peso extra que você um dia jogou ao mar? Não muda
nada. A viajante que durante o percurso vem se desfazendo de algumas
coisas continua sendo você. Aquele instante aos 19 anos ou aos 26 em que
você cruzou o olhar com alguém que modificaria seu futuro continua
acontecendo, o ponteiro continua se mexendo, o tempo não parou.
Desiludem-se os amantes apaixonados que, quando se instalam num amor
maduro, não encontram mais a mágica anterior que fazia o tempo parar,
mas não se deve ser tão fatalista, você não tem 18 anos, ou 37, ou 53.
Você tem 18, 37 e 53. No que tange o tempo vivido, não há “ou”. São
várias idades contidas numa frequência cardíaca ininterrupta.
Você chegou a uma idade gloriosa, a idade de entender que não
existem perdas, só ganhos. Não existe envelhecimento, e sim
desenvolvimento constante. O tempo não passa, ele está sempre conosco. O
novo não ficou para trás, ao contrário, o novo está adiante: na vida
que ainda está por vir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário