Seminário e coleção discutem a arte produzida no país
Walter Sebastião
Estado de Minas: 10/10/2014Para os índios brasileiros, arte e corpo são uma coisa só |
O encontro faz parte de um ambicioso projeto desenvolvido em Minas: a coleção da Editora C/Arte, que, desde 2007, publica livros sobre o panorama geral da criação brasileira. Durante o seminário, será lançado o sétimo volume, Barroco e rococó no Brasil, de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, uma das mais importantes pesquisadoras do tema. Estão previstos 10 livros.
A coleção já contemplou as artes pré-histórica, afro-brasileira, do século 19, indígena, abstrata e moderna. Até 2015, serão lançados volumes referentes à produção dos anos 1960 e 1970, a artistas contemporâneos e à arte popular. O editor Fernando Pedro explica que a série nasceu da carência de publicações específicas sobre a criação brasileira assinadas por especialistas e voltadas para o ensino médio.
“História da arte é um campo do conhecimento que ensina a ver obras e a conhecer características de artistas, estilos e períodos, construindo uma visão da cultura. Por esse motivo, é bom termos histórias gerais na biblioteca”, recomenda Myriam Ribeiro. Para ela, é urgente trabalhar a questão de forma organizada e sistemática. “Por que, ainda hoje, temos poucos especialistas em identificar obras de Aleijadinho? Por que há poucos cursos ensinando a conhecer artistas e obras?”, questiona.
Para Roberto Conduru, autor do volume sobre a produção afro-brasileira, a coleção é um dos poucos esforços de historiar as artes plásticas do país de forma abrangente. “Esse é o primeiro projeto realizado desde 1983, ano da publicação da História geral da arte no Brasil, organizada por Walter Zanini e com edições esgotadas”, lembra. “Sempre vale a pena saber como foram e são produzidas obras e ações a partir da articulação de tradições culturais de diferentes partes do mundo, tanto as engendradas na América quanto as transpostas ao Brasil a partir da Europa, da África e de outras regiões”, afirma.
Índios No seminário, Els Lagrou vai falar sobre a importância dos índios para a criação brasileira. A especialista chama a atenção para um paradoxo: nas línguas indígenas, não há palavra e conceito equivalentes a arte.
“O antagonismo com o artefato, que funda a arte no Ocidente, não procede no mundo ameríndio. Nas sociedades indígenas, ela é produzida para consumo interno. O que há é um discurso estético forte associado à vida, ao corpo e à arte”, explica.
A pesquisadora diz que o Brasil desconhece o talento de seus índios. “A beleza que está na arte indígena vem com um quadro de referências e cosmologias. Quando o conhecemos, enriquece-se muito o entendimento da criação”, explica, lembrando que “a enorme e variada vontade de beleza que marca a sociedade indígena” é pouco exposta. E adverte: sabe-se mais da arte indígena por meio de filmes do que por museus.
HISTORIANDO A ARTE BRASILEIRA
Hoje, das 9h30 às 16h. Teatro Francisco Nunes, Parque Municipal, Avenida Afonso Pena, Centro. Inscrições gratuitas: www.comarte.com. Às 16h, lançamento do livro Barroco e rococó no Brasil, de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira. Entrada franca.
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