sábado, 1 de fevereiro de 2014

Beijo gay faz história - Ângela Faria

Beijo gay faz história 
 
Pela primeira vez, casal homossexual masculino se beija em telenovela brasileira. Cena precisou ser regravada para ir ao ar
 
Ângela Faria

Estado de Minas: 01/02/2014


Atores torceram para o final feliz dos personagens que ganharam a simpatia dos telespectadores    ( Marcos Vieira/EM/d.A Press/Reprodução)
Atores torceram para o final feliz dos personagens que ganharam a simpatia dos telespectadores


O final feliz do casal formado pelos personagens Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), em Amor à vida , significou também um marco para a história das novelas no país. Pela primeira vez, foi exibida na televisão brasileira um beijo entre dois gays masculinos. O momento foi marcado por muita delicadeza e declarações de amor. Félix, o vilão redimido, se declarou ao companheiro: “Você mudou a minha vida”. E ouviu como resposta: “Félix, eu não vivo sem você!”. Foi nesse clima de cumplicidade, que os dois se beijaram numa cena que exigiu regravação até ser liberada pela Rede Globo.

Logo após o fim da novela, a Rede Globo divulgou uma nota sobre a trama. “Toda cena de novela é consequência da história, responde a uma necessidade dramatúrgica e reflete o momento da sociedade. O beijo entre Felix e Niko selou uma relação que foi construída com muito carinho pelos dois personagens. Foi, portanto, o desdobramento dramatúrgico natural dessa trama. A pertinência desse desfecho foi construída com muita sensibilidade pelo autor, diretor e atores e assim foi percebida pelo público. É importante lembrar que o relacionamento homossexual sempre esteve presente nas nossas novelas e séries de maneira constante, responsável e natural. A cena esteve de acordo com essa premissa e com a relevância para a história.”

Personagens de novelas brasileiras “saem do armário” há tempos, mas o primeiro beijo gay feminino só rolou em maio de 2011, em Amor e revolução, folhetim exibido pelo SBT/Alterosa. Não foi um selinho: a cena durou nada menos de 40 segundos – e com direito a pezinho levantado! Luciana Vendramini e Giselle Tigre interpretaram a advogada Marcela e a empresária Marina, dona de um jornal de oposição à ditadura militar.

Em seu blog, Aguinaldo Silva, novelista da Rede Globo, bateu palmas para Silvio Santos, proprietário do SBT. “Ele deve ter visto a cena, soltado um ho-ho-ho daqueles e decretado: libera!”, escreveu o pioneiro do movimento gay brasileiro.

Mês passado, a Rede Globo quebrou um “autotabu” ao exibir a modelo Vanessa, de 27 anos, e a empresária Clara, de 25, beijando-se em Big brother Brasil. Com isso, aumentaram as especulações sobre cenas gays mais calientes na despedida de Amor à vida.

A Globo até destrancou armários, mas foi uma verdadeira “Odete Roitman” com seus belos gays. O adolescente Júnior (Bruno Gagliasso) e o peão Zeca (Erom Cordeiro), casal da novela América (2005), ficou “na seca”. Horas antes de o capítulo ir ao ar, a emissora vetou a cena já gravada do beijo. A autora Gloria Perez expressou publicamente sua frustração com a censura interna.

Em Senhora do destino, antecessora de América e escrita por Aguinaldo Silva, Jennifer (Bárbara Borges) e Eleonora (Mylla Christie) moravam juntas e até tiveram filho adotivo, mas beijo nunca rolou. Em Paraíso tropical (2007), de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, os namorados Rodrigo (Carlos Casagrande) e Tiago (Sérgio Abreu) conviveram sem neuras com outros personagens – mas nada intimidades explícitas.

Casamento Em Insensato coração (2011), foi a vez de Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo): eles se casaram, mas sem um beijinho sequer diante do juiz de paz. Sorte muito pior tiveram Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska) em Vale tudo (1988/1989): Cecília morreu em acidente de carro. Mas tragédia, mesmo, sobrou para as lesbian chics Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer) em Torre de Babel (1998), de Sílvio de Abreu. As duas se desintegraram, literalmente, na explosão de um shopping center! Três anos antes, o branco Sandrinho (André Gonçalves) e o negro Jefferson (Lui Mendes) foram brindados com final mais feliz em A próxima vítima – sem beijo, claro.

Em Mulheres apaixonadas (2003), Manoel Carlos mandou para a telinha um casal de adolescentes: Clara (Paula Picarelli) e Rafaela (Alinne Moraes). No último capítulo, até rolou um selinho sem sal, enquanto a dupla encenava uma peça de teatro. Segunda-feira, o autor volta à Globo com a missão de substituir Félix e Nico de Amor à vida. Giovana Antonelli interpreta a mãe de família Clara, que vai se apaixonar pela jovem fotógrafa Marina (Tainá Müller). Beijo de língua à vista? Pode ser, mas, por via das dúvidas, é bom lembrar: o nome da novela é Em família...

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