Zero Hora 11/01/2015
Sou vizinha de um grande clube da capital. Um
privilégio. Minha sacada se debruça sobre sua piscina, seu parque, suas canchas
de tênis e o visual me faz recordar diariamente que trabalhar não é tudo na vida.
Quando me perguntam se essa vizinhança não é incômoda em dias de festa,
respondo que não, elas acontecem no interior do clube e não afetam em nada a
minha paz.
Mas e se a festa for à beira da
piscina, ao ar livre?
É bem verdade que tremi ao ver a
recente e esdrúxula instalação de um chafariz em meio à piscina do clube: vá
que a intenção fosse aproveitar melhor o espaço externo para eventos. Mas afora
o deslize para a cafonice, estou segura de que festas à beira da piscina
continuarão sendo apenas duas: na abertura da temporada e no réveillon, o que
manterá os moradores vizinhos com suas outras 363 noites de sono garantidas.
Pois bem. A festa de abertura da
piscina, em novembro passado, terminou tão cedo que não incomodou ninguém, mas
a festa do réveillon se estendeu até às 5h30 da manhã e duvido que a meia-dúzia
que não foi para a praia e que mora ao lado do clube tenha conseguido pregar o
olho. Eu não consegui. O DJ parecia estar dentro do meu quarto. Mas eu pensava:
é só hoje. Paciência. Querer dormir nas primeiras horas do novo ano, tem
cabimento isso? Pega um livro. Entra no Face. Relaxa, mulher.
Relaxei, mas não pude deixar de
me solidarizar com quem mora ao lado de bares que abrem de segunda a sábado, ao
lado de boates cujo isolamento acústico é defeituoso, ao lado de casas com
música ao vivo, enfim, com todos os que são obrigados a conviver com a sonzeira
alheia durante o ano inteiro. Zumbis involuntários.
Eu gosto de ser vizinha de clube
e também de restaurantes, bistrôs e assemelhados. Movimento é vida, lazer é
alegria, e vida e alegria me interessam. Mas é bem diferente quando, de um dia
para o outro, uma quadra de ensaio de escola de samba é aberta a 10 metros da
sua janela.
Vizinho, por definição, é uma
criatura chata. Como somos todos vizinhos de alguém, somos todos chatos, sem
exceção. Cada um de nós com suas implicâncias, suas manias ou sua indiferença
enervante – nada incomoda mais um vizinho do que outro vizinho que não se
incomoda com nada.
Eu dificilmente me incomodo com
alguma coisa, sou da turma dos indiferentes enervantes, mas depois de passar a
primeira noite do ano em claro, entendi perfeitamente a fúria daqueles que
bradam contra a poluição sonora que os atinge dia sim, outro também. De fato, é
desesperador, só que não dá para perder as estribeiras como faz o elenco de
Relatos Selvagens. Solução? Vigilância municipal e checagem de alvarás para os
casos abusivos, e alguma conformidade com ruídos aleatórios: é o preço a pagar
por vivermos numa metrópole. O barulho está incluído no IPTU.
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