EM DIA COM A PSICANáLISE » A pedra no sapato
Vários estados de adoecimento têm raízes no narcisismo
Regina Teixeira da Costa
Publicação: 11/01/2015
Nada pode ser mais
incômodo do que caminhar com uma pedra no sapato. Assim é a vida das
pessoas extremamente narcisistas, que se ofendem por quase nada ou por
tudo. Perto delas, devemos andar com sapatinhos de veludo. O narcisismo
excessivo traz prejuízo para a própria pessoa e muito desconforto para
quem com ela convive.
É fato que carecemos de boas bases. Nascemos prematuros, o instinto autoerótico está ali desde o princípio e a ele soma-se uma nova ação psíquica a fim de provocar o narcisismo primário. Trata-se, segundo Freud, do investimento libidinal do egoísmo do instinto de autopreservação, que pode ser atribuído a toda criatura viva anterior ao estabelecimento de ligações com o mundo externo.
A princípio, essa atitude libidinal de amor próprio, com a formação do eu, está restrita ao corpo próprio. Ela é a condição para que posteriormente esse amor seja redirigido para pessoas e coisas do mundo externo, possibilitando as ligações. Essas ligações, ou catexias, como dizia Freud, são emanações da libido que podem ser transmitidas e retiradas novamente.
Um exemplo esclarecedor é a antítese entre a libido do eu e a libido objetal. Quanto mais uma é empregada, mais a outra se esvazia. Assim como ocorre com dois jarros d’água, quando o líquido de um é vertido para o outro e o primeiro esvazia, sendo a libido o líquido.
Outro bom exemplo disso é a paixão. Quando ficamos apaixonados, investimos toda a libido no outro e sem ele ficamos esvaziados, desertificados. Podemos chegar ao extremo de nos anular e mesmo de desistir da vida por incapacidade de viver sem o outro. Mas esse caso é o ápice, o patológico, quando não sobra nem uma gotinha no nosso jarro.
Aliás, a palavra paixão vem de pathos, patológico, e é mesmo um estado de adoecimento do amor próprio que não deixa dúvida. A pessoa fica muito aflita com a distância entre ela e seu apaixonado; a vida só tem sentido quando está voltada para o outro, como se ele fosse seu próprio oxigênio.
Daí que muitos casais adotam como medida de manutenção do amor uma cola que sufoca o amor. Ou o desejo de um deles como se, para não haver diferença, distância ou separação, fosse necessário desejar igual, pensar igual, querer igual. Logicamente, isso é impossível entre pessoas de educação, raízes, experiências e desejos diferentes.
A experiência de tantos fracassos demonstra a impossibilidade da alma gêmea, do par perfeito ou das metades da laranja. Muitos casais vivem juntos por toda a vida porque conseguiram uma forma de amor parceira e generosa, ou até mesmo por serem neuróticos e gozarem das alfinetadas trocadas. Vai entender! Cada um se ajeita como pode.
Difícil é lidar com o narcisismo de cada um que se julga mais justificado que o outro, mais merecedor, e exige a renúncia do desejo do outro sem conseguir escutar que ali a seu lado vive outro sujeito com desejos e necessidades tão importantes quanto os seus. Desejar é a salvação do sujeito. O narcisismo em excesso é a pedra no sapato que afasta o sujeito do desejo e o atraca ao orgulho danoso.
De qualquer forma, vários estados de adoecimento têm raízes no narcisismo. Quanto mais inflados narcisicamente, menor a capacidade de laços sociais e mais sujeitos a estragos. Assim como os balões: quanto mais cheios, mais explosivos quando pressionados.
É fato que carecemos de boas bases. Nascemos prematuros, o instinto autoerótico está ali desde o princípio e a ele soma-se uma nova ação psíquica a fim de provocar o narcisismo primário. Trata-se, segundo Freud, do investimento libidinal do egoísmo do instinto de autopreservação, que pode ser atribuído a toda criatura viva anterior ao estabelecimento de ligações com o mundo externo.
A princípio, essa atitude libidinal de amor próprio, com a formação do eu, está restrita ao corpo próprio. Ela é a condição para que posteriormente esse amor seja redirigido para pessoas e coisas do mundo externo, possibilitando as ligações. Essas ligações, ou catexias, como dizia Freud, são emanações da libido que podem ser transmitidas e retiradas novamente.
Um exemplo esclarecedor é a antítese entre a libido do eu e a libido objetal. Quanto mais uma é empregada, mais a outra se esvazia. Assim como ocorre com dois jarros d’água, quando o líquido de um é vertido para o outro e o primeiro esvazia, sendo a libido o líquido.
Outro bom exemplo disso é a paixão. Quando ficamos apaixonados, investimos toda a libido no outro e sem ele ficamos esvaziados, desertificados. Podemos chegar ao extremo de nos anular e mesmo de desistir da vida por incapacidade de viver sem o outro. Mas esse caso é o ápice, o patológico, quando não sobra nem uma gotinha no nosso jarro.
Aliás, a palavra paixão vem de pathos, patológico, e é mesmo um estado de adoecimento do amor próprio que não deixa dúvida. A pessoa fica muito aflita com a distância entre ela e seu apaixonado; a vida só tem sentido quando está voltada para o outro, como se ele fosse seu próprio oxigênio.
Daí que muitos casais adotam como medida de manutenção do amor uma cola que sufoca o amor. Ou o desejo de um deles como se, para não haver diferença, distância ou separação, fosse necessário desejar igual, pensar igual, querer igual. Logicamente, isso é impossível entre pessoas de educação, raízes, experiências e desejos diferentes.
A experiência de tantos fracassos demonstra a impossibilidade da alma gêmea, do par perfeito ou das metades da laranja. Muitos casais vivem juntos por toda a vida porque conseguiram uma forma de amor parceira e generosa, ou até mesmo por serem neuróticos e gozarem das alfinetadas trocadas. Vai entender! Cada um se ajeita como pode.
Difícil é lidar com o narcisismo de cada um que se julga mais justificado que o outro, mais merecedor, e exige a renúncia do desejo do outro sem conseguir escutar que ali a seu lado vive outro sujeito com desejos e necessidades tão importantes quanto os seus. Desejar é a salvação do sujeito. O narcisismo em excesso é a pedra no sapato que afasta o sujeito do desejo e o atraca ao orgulho danoso.
De qualquer forma, vários estados de adoecimento têm raízes no narcisismo. Quanto mais inflados narcisicamente, menor a capacidade de laços sociais e mais sujeitos a estragos. Assim como os balões: quanto mais cheios, mais explosivos quando pressionados.
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