Projeto Magia do
Cinema encerra neste sábado sua terceira edição, que percorre 10 cidades
do interior mineiro exibindo dois documentários e um longa de ficção
Estado de Minas: 30/04/2015
Moradores de Claro dos Poções acompanham sessão do Magia do Cinema na praça da cidade, no último dia 23 |
Movimentação na praça principal, cadeiras a postos, telona inflada, projetor montado e o cheirinho de pipoca. Esse é o cenário que os moradores de cidades do interior do Norte de Minas encontram para assistir às projeções do Magia do Cinema. O projeto percorre 10 cidades até o próximo sábado, passando pela Bacia do Rio São Francisco, Vale do Jequitinhonha e Vale do Mucuri.
Em sua terceira edição, o Magia do Cinema chega aos municípios com o intuito de ajudar a suprir a carência de salas de cinema e ampliar o acesso à produção audiovisual. A equipe do projeto fica apenas um dia em cada cidade. “É uma satisfação enorme pisar em cada uma dessas cidades, porque a maioria das pessoas nunca entrou em uma sala de exibição”, diz Inácio Neves, coordenador e idealizador do Magia do Cinema.
Realizado com benefício das leis de incentivo à cultura via renúncia fiscal, o projeto ainda não conseguiu garantir periodicidade anual. Ele prevê que, além da sessão gratuita, o público tenha direito a pipoca como acompanhamento.
Os filmes escolhidos para essa edição são dois documentários – Os meninos e o boi e A menina e o espantalho e um longa-metragem de ficção, o blockbuster Como treinar o seu dragão 2. Pronto desde o ano passado, Os meninos e o boi, de Henrique Mourão, foi filmado na cidade de Rubim, no interior de Minas. “Toda cidadezinha tem as suas lendas, mitos e festas. Não é diferente com as cidades mineiras. Muitas dessas histórias morreram com o tempo”, diz Inácio Neves, ao comentar a escolha do filme, que aborda a folia de Reis e a brincadeira boi de janeiro, tradicional da cidade.
Dirigido por Cássio Pereira dos Santos, A menina e o espantalho (2008) trata da carência de escolas em cidades pequenas. Já a inclusão de Como treinar o seu dragão 2 se deve ao potencial do filme de divertir crianças e adultos, segundo o coordenador do projeto.
Antes da sessão de longas é projetado um curta-metragem específico para cada cidade. Quando a equipe se desloca para as cidades para preparar a exibição, com alguns dias de antecedência, os moradores mais antigos são procurados e gravam depoimentos a respeito da origem da comunidade e das festas que deixaram de ter.
O material editado é exibido no dia das sessões. “É uma delícia, porque você vê a cara das pessoas na plateia reconhecendo os moradores e os rostos que representam a ciade na telona. Eles ficam eufóricos”, comenta Neves.
“Quando vamos embora, fica a sensação de que cada uma daquelas pessoas ficou um pouquinho mais curiosa em relação ao lugar onde vivem.”
Pipoca é preparada antes da exibição em Campo Azul, no dia 24 de abril |
Memória em movimento
Orlanda Aparecida de Souza Braga, de 62, é moradora de Monjolos, primeira cidade a receber o Magia do Cinema. Ela diz achar importante a realização de um documentário sobre a cidade.
“Muitas coisas que existiam aqui agora só estão na história. As pessoas mais velhas já morreram quase todas. Então, é importante que ainda tenha alguém para contar para as crianças”, afirma.
Segundo dona Orlanda, os jovens não conhecem como era a antiga linha de ferro que cortava a cidade, virou estrada de terra e, anos depois, vieram o calçamento e a praça. Sobre sua primeira experiência com a sétima arte, ela diz: “O primeiro cinema que eu vi foi em uma igreja, em uma missão, mas ele era mudo. A máquina parecia uma máquina de passar roupa, daquelas que têm uma chaminé e dava o refletor. O padre é quem falava o que estava acontecendo. Mas cinema mesmo eu nunca fui em um”. Ela imagina que, se houvesse mais cinema na praça da cidade, até deixaria de ver sua novela preferida.
Já a moradora de Água Boa, no distrito de Claro dos Poções – segunda cidade a receber o projeto –, Zilma Souza Nascimento, de 51, foi para a sessão e levou uma turma junto. Zilma é supervisora da Escola Estadual Dona Valentina Alkimim e aproveitou para mobilizar alunos, professores e pais para ver os filmes.
“(O acesso ao cinema) É de extrema importância, não só para o aprendizado da criança, mas também para a dignidade do ser humano. Ele tem que ter essa vivência”, avalia a supervisora.
Zilma teve a impressão de que o documentário mexeu com as emoções das pessoas, pelos comentários que ouviu durante a sessão. Sobre as tradições populares de mitos e festas, ela diz, com frustração: “Acho que essa história está morrendo porque os pais deixaram o papel de contá-las para a mídia contar, para que ela transmita uma coisa pelos nossos pais”, desabafa.
Garotos acompanham o filme com a pipoca servida em Campo Azul |
OUTROS PROJETOS
O idealizador do Magia do Cinema desenvolve outros projetos de acesso à cultura, desde 2004. O Cinema no Rio São Francisco exibe filmes para comunidades ribeirinhas. O Cinema nos Trilhos é feito para a população ao longo das ferrovias, especialmente Estrada de Ferro Carajás, Estrada de Ferro Vitória-Minas e a Ferrovia Centro Atlântica. O Sons no Vale, realizado no Vale do Jequitinhonha, propõe oficinas de musicalização, sonorização e iluminação para shows e eventos. O mais recente é Ovivido.com.br, um projeto experimental sobre memória historiográfica.
O circuito da magia do cinema
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