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domingo, 28 de julho de 2013

Prestes a completar 50 anos, Andrea Beltrão chega a São Paulo com a peça "Jacinta"- Gustavo Fioratti

folha de são paulo - revista serafina
Comédia da vida privada
Prestes a completar 50 anos, Andrea Beltrão chega a São Paulo com a peça "Jacinta", em que vive talvez o papel mais improvável de sua carreira: o de uma atriz sem talento
GUSTAVO FIORATTIDE SÃO PAULO"Isso não é uma porta", diz Andrea Beltrão no aeroporto de Congonhas, olhando para a rua lá fora. Definitivamente não. Aquela parede de vidro que ela esperava que se abrisse à nossa frente enquanto se mexia inutilmente na expectativa de acionar um sensor automático não era uma porta. "Vem, eu te mostro", ela me puxa. "Isso é uma porta."
Problema e reação. Atores, sobretudo os cômicos, aprendem desde muito cedo, talvez por instinto de sobrevivência, a tirar proveito dos momentos fugazes, como esse, que abre um dia dedicado a aeroportos, táxis, entrevista, sessão de foto.
Logo de cara, fica claro: Andrea rebate a bola com o mesmo reflexo dos palhaços, improvisadores por excelência que são. Já dentro do táxi, não oferece um dropes. "Desculpe, é o último", defende-se, sem constrangimento, atrás de um olhar terno.
O jeito timidamente debochado, a falta de formalidade, a calça preta desgastada... Se há alguma preocupação, é a de não demonstrar preocupações. Bem à vontade, ela obedece com disciplina ao maquiador, à figurinista, ao fotógrafo. Posa em uma casa antiga, no bairro do Bexiga (centro de SP) hoje ocupada por uma galeria de arte. Veste uma peruca loira do tamanho de um bonde, trajes padrão rococó, colares de rock.
A sessão de fotos dura cinco horas, e ela não esboça nenhum sinal de cansaço, nenhuma restrição. Há uma pausa para sushis com Coca-Cola. Não é light. O papo com o maquiador vai parar na Papagaio, extinta boate do Rio em cuja pista ouvia-se de Abba a Lulu Santos no fim dos anos 1970. Ela frequentou.
Conversamos também sobre sua avó Cleonice, mulher "alinhada" que participou efetivamente de sua educação. "Minha mãe se separou do meu pai quando eu tinha dois anos e fomos morar com ela." Cleonice morreu em 1994, no mesmo ano em que também morreu o seu irmão. Ela foi filha única até os 11 anos, voltou a ser aos 30.
Arthur, "alto e engraçado", teve um aneurisma aos 19. "Foi um ano devastador."
A atriz carioca, que faz 50 anos em setembro, não cogita plástica. Mantém a forma nadando entre 1.500 e 2.000 metros no mar, todos os dias. Sem filtro solar. "Olha, minha pele é toda manchada", exibe, com orgulho. Segundo Fernanda Torres, colega no seriado "Tapas & Beijos", "o corpo dela deveria ser doado à ciência para estudos. É uma das pessoas mais resistentes que eu conheço".
A namoradeira
Desde o início de sua carreira, a ideia que lhe dá norte é a de "frescor". Zelda Scott, por exemplo, a jornalista descolada da série "Armação Ilimitada", ícone televisivo da geração anos 1980, namorava dois amigos, Juba (Kadu Moliterno) e Lula (André de Biase), ao mesmo tempo. "Ela fazia isso na maior categoria e sem constrangimentos", lembra a intérprete.
Exibida de 1985 a 1988 pela Globo, "Armação" fez "um puta de um sucesso entre as crianças", conta Andrea. "Elas corriam atrás da gente na rua." Zelda foi a primeira de uma longa lista de papéis similares, de mulheres muito, digamos, independentes.
A atriz se dá conta hoje de que "o papel da mulher galinha" a perseguiu. Mas talvez não seja exatamente esse o termo: "galinha" cai como um exagero. "Acho, na verdade, que as pessoas me associam à figura da mulher livre", ela se corrige, referindo-se a outras personagens de sua trajetória, como
Ingrid, cujo amor foi compartilhado pelos três filhos da dona Armênia, na novela
"Rainha da Sucata" (1990).
Fã do diretor Federico Fellini (1920-1993) e dos atores Giulietta Masina (1921-1994) e Marcello Mastroianni (1924-1996), ela se espelhou no despudor dos italianos para pular de papel cômico em papel cômico.
"Eu gostaria de ter sido a Giulietta Masina. Já vi 'Noites de Cabíria' (1957) 80 vezes. 'A Estrada da Vida' (1954), 70. Mas não rolou, não sou a Giulietta, e tudo bem, vou imitando ela ao longo da vida", diz, a respeito da atriz que foi mulher de Fellini e que a inspirou desde o início.
Ela estreou profissionalmente ainda adolescente, aos 13 anos, em "O Auto da Compadecida" (1976), no tradicional teatro O Tablado, um dos maiores celeiros de jovens atores do Rio.
Para Andrea, há traços de
Giulietta também nas brechas dramáticas de sua carreira cômica. E há muitas delas, como Úrsula, maluquinha esotérica da novela "Pedra Sobre
Pedra" (1992). No teatro, fez Catherine, filha de um matemático esquizofrênico em "A Prova" (2002), montado dois anos antes na Broadway com a atriz Mary-Louise Parker. Levou um Prêmio Shell por seu trabalho. Atuou ainda em "Sonata de Outono" (2005), baseado no filme de Ingmar Bergman, de 1978.
Mas, por ora, deixou o drama de lado. Ganhou seu segundo Prêmio Shell pela atuação na peça "As Centenárias" (2007), uma das muitas parcerias com Marieta
Severo. Interpretou a cabeleireira Marilda na série televisiva "A Grande Família", também com Marieta, além de Marco Nanini.
E, desde 2011, é uma das protagonistas de "Tapas & Beijos", na Globo, empresa em que trabalha há 34 anos.
"Prezo a proximidade com o mundo da TV. Sei o nome de todo mundo na Globo. O pessoal me sacaneia. Dizem que tenho um lado Maluf", diz, referindo-se ao político paulista, conhecido pela capacidade de decorar nomes, datas de aniversário e afins.
Depois da sessão de fotos, voltamos ao aeroporto e, sob o olhar curioso de garçonetes, ocupamos a mesa de uma lanchonete. Pedimos café, depois cerveja, depois misoshiro, depois duplas de sushis.
Quando fala de seu ofício, Andrea não menciona "intensidade da alma", "força interior" e outros clichês do gênero. Acha simplesmente que o bom ator é "aquele que faz com que o texto não pareça ser de outra pessoa". O pior ator, ela prossegue, em contraposição aos competentes, "é aquele que acha que é bom". O tipo convicto está retratado na peça que Andrea estreia no próximo dia 9, no Sesc Vila Mariana, com fortes cores caricaturais.
A personagem-título, interpretada por ela em "Jacinta", é "a pior atriz do mundo, uma portuguesa ruim de doer". Há o escudo do sotaque, diz a atriz, mas interpretar alguém sem talento pode resultar em algo "facilmente idiota",
analisa. A peça, um musical, tem direção de Aderbal Freire-Filho, texto de Newton Moreno e músicas com melodia do titã Branco Mello.
Boa parte da inspiração para compor o papel veio de observar figurantes de TV. "Tenho uma tara por eles. Fico curiosa para saber por que a pessoa está ali, onde ela mora, a que horas acorda."
Andrea gosta do momento "em que o figurante tem a chance de aparecer", ou de quando dizem para ele: "Vem cá, você: entrega para ela essas flores".
"Às vezes, o cara congela num grau...", diz. "Fico olhando para ver como é que ele vai resolver o problema. Ele não é ator, sonha com aquilo, mas não sabe fazer. Isso me alimentou", explica a atriz. "Me inspirei mais no figurante do que em atores profissionais fazendo mal um papel. Isso a gente vê toda hora, né?"
Segundo Fernanda Torres, Andrea é "a atriz mais preparada da minha geração, pode fazer de musical a tragédia grega. Estudou canto na surdina durante anos e canta belissimamente em 'Jacinta'".
A parceria com o pernambucano Newton Moreno, 45, dramaturgo egresso de um cenário experimental em
São Paulo, autor de peças regionalistas como "Agreste", foi uma das muitas indicações de Marieta.
"Ela tem olhar clínico, tem uma antena sempre ligada, sempre encontragente talentosa", diz Andrea.
Ação entre amigos
A aproximação entre as duas atrizes aconteceu durante a temporada da peça "Estrela do Lar" (1989).
"Estávamos em cartaz no Copacabana Palace, e Marieta tinha um camarim só para ela. Ela era a protagonista, a produtora e, enfim, a Ma-ri-e-ta-Se-ve-ro", zomba. "Um dia, perguntou se eu não queria dividir o camarim com ela. Disse que não gostava de ficar sozinha, queria alguém para conversar."
Marieta, 66, trouxe o marido, o diretor Aderbal Freire-Filho, 71, para a amizade. Formou-se então o grupo que construiu, com recursos próprios, em 2005, o pequeno Teatro Poeira, hoje com duas salas dedicadas a peças experimentais, no bairro carioca de Botafogo.
As tarefas lá dentro foram divididas assim: Marieta ajuda em algumas produções, Aderbal "é o curador, é Deus", brinca. "Ele fica lá pirando, pensando em projetos maravilhosos, e a gente fica capinando. E é assim mesmo que a gente gosta." Andrea é a contadora.
Esse trabalho tem a ver com seu espírito metódico, ela diz. Em casa, procura "aceitar" desordens do marido, o cineasta Maurício Faria, e dos três filhos de nomes singelos (José, 12, Rosa, 16 e Francisco, 18), sem se estressar. "Sou organizada demais. De vez em quando, jogo um sapato no meio da sala para sentir que sou capaz de aceitar bagunça."
Noves fora
Se ela assim diz, melhor dar o benefício da dúvida. Mas como faz uma sujeita organizada como ela para lidar com seu próprio jeitão atabalhoado?
Só durante o dia que passamos juntos, vários pequenos episódios contrastam com essa afirmação. Alguns exemplos:
1- "Ei, onde coloquei minha bolsa? Onde coloquei minha bolsa?" (estava ao seu lado, onde ela tinha colocado)
2 - "Não uso isso nem morta" (referia-se ao balcão de autoatendimento, no aeroporto, antes de voar para o Rio de Janeiro. Preferiu o balcão tradicional).
3 - Dois cafés chegam à nossa mesa. Andrea faz um movimento brusco com o braço, e a bebida encharca um dos pires sobre a bandeja. Sem pestanejar, puxa o café derramado para si.
Aderbal Freire-Filho acha que esse contraste, entre o metódico e o estabanado, costura um ponto comum entre Andrea e Marieta. "Os camarins delas são muito parecidos", ele avalia. "Elas gostam de enchê-los de coisas, fotos, por exemplo, mas deixam tudo sempre muito organizado."
"A Andrea está sempre com um caderno, ela anota tudo o que eu falo em ensaios, é uma coisa maluca", diz o diretor. A disciplina, os estudos e a dedicação, mais tarde, se desfazem em cena numa fuga para uma espécie de enlouquecimento.
"Acho que ela tem esse perfil de colocar as coisas em clarividência e, sobre o palco, abstrair em direção à loucura."
Exemplo 4 (o melhor de todos) - No aeroporto, desencanada do relógio, quase perde o embarque. Alertada sobre a hora, engole cinco sushis às pressas, levanta-se, joga um tchauzinho para as garçonetes, vira-se para correr e dá de cara com um pilar.
Sem perder a piada, disfarça o constrangimento com uma dança estranha e sensual, olha para trás para ver a reação do "público" e só então sai correndo. Dessa vez, pelo menos, acerta a porta de vidro que dá para o seu portão de embarque.

    domingo, 30 de junho de 2013

    "Não ganhei dinheiro com 'Se Eu Fosse Você'", diz Gloria Pires - FABIO BRISOLLA

    folha - serafina
    A atriz Gloria Pires sinaliza pedindo um minuto, enquanto termina de falar ao celular. "Também acho que estaria muito bem representado", responde ela, enquanto agradece os elogios à sua atuação e encerra a ligação.
    Do outro lado da linha, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, ligava para dizer que o filme "Flores Raras" tinha tudo para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar, em 2014.
    Gloria concordou.
    Na produção, dirigida por Bruno Barreto, ela é a arquiteta carioca Lota de Macedo Soares, que protagoniza, com a poetisa americana Elizabeth Bishop, uma história de amor no Rio de Janeiro dos anos 1950 e 1960.

    Flores Raras

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    Em seu novo filme, "Flores Raras”, Glória Pires revive a história de amor de Lota de Macedo Soares com a poetisa Elizabeth Bishop
    A ministra assistiu ao filme durante um festival de cinema brasileiro, em Lisboa. Baseado no livro "Flores Raras e Banalíssimas", de Carmen Lucia de Oliveira, o longa estreia em 16 de agosto e promete surpreender o público acostumado a ver Gloria Pires na TV.
    No papel de uma mulher de personalidade forte, ela seduz Elizabeth Bishop, interpretada pela atriz australiana Miranda Otto. A química parecia estar presente. Gloria conduz a cena de sexo, beijando e segurando com intensidade sua parceira.
    "Gostei muito do resultado da cena", conta a atriz, aos risos. "Quando você vive uma personagem, o seu querer precisa ser o dela. Precisa ver seu parceiro de cena com os olhos de amor, de paixão, de atração, necessários ao momento daquela história."
    A única dificuldade, diz ela, foi o frio. "Naquela noite fez seis graus [na região serrana do Rio]. Era esse o desconforto. Mas acho que não transpareceu, porque existia um frêmito na cena por conta dessa excitação delas, desse encontro."
    Elizabeth Bishop desembarcou no Rio, em 1951. Seu romance com Lota retrata um pouco do passado carioca. No período em que estavam juntas, a arquiteta conduziu a construção do parque do Flamengo, no local onde até então só havia um aterro.
    Para construir a personagem, além de se basear no livro, Gloria pesquisou outros documentos da época. Chegou a sugerir a inclusão de uma cena em que Lota convence o então governador Carlos Lacerda a priorizar a construção do parque. "Pedi ao Bruno para incluir o diálogo para mostrar a intimidade entre os dois. Costumo brincar que eles faziam roupas no mesmo alfaiate", diz.
    Outro projeto recente da atriz é o filme sobre a trajetória da médica alagoana Nise da Silveira, consagrada por transformar o tratamento da esquizofrenia no Brasil. "Ela leu tudo sobre a personagem. Construiu um retrato muito fiel. Muitas vezes, contestava: 'A Nise não diria isso'", diz Roberto Berliner, o diretor do filme (com lançamento previsto para o ano que vem).
    Gloria deu entrevista à Serafina em um restaurante perto de sua casa, no bairro do Itanhangá, zona oeste do Rio. Mora com o marido Orlando Morais e os filhos Antonia, Ana e Bento. Cleo
    Pires, a mais velha, vive sozinha.
    Discreta, manteve o mesmo tom de voz, suave, ao longo de toda a conversa. "Você é muito delicada para ser a Lota", Gloria chegou a ouvir no encontro com uma ex-vizinha da arquiteta carioca.
    "Ela podia ser uma mulher que falava alto, que usava roupas masculinas. Mas, ao mesmo tempo, sempre foi muito amorosa com todos ao seu redor", diz a atriz.

    Veja imagens da carreira de Glória Pires

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    Glória Pires com Edson Celulari e Tony Ramos durante gravação da novela "Guerra dos Sexos", da TV Globo
    VOZ DE COMANDO
    Em "Flores Raras", Gloria fala quase sempre em inglês, idioma predominante no roteiro. "Achei que os diálogos em inglês poderiam complicar em uma cena de emoção. Mas, talvez pelo fato de a personagem ser brasileira, essa preocupação passou logo que entrei no set." E impõe uma entonação firme -a "voz de comando" que desenvolveu a partir de Maria Moura, personagem da minissérie exibida pela Globo em 1994.
    Ícone da dramaturgia da emissora, a atriz participou de mais de 20 novelas. Na última década, passou a ser reconhecida também pela capacidade de atrair público aos cinemas após o sucesso de "Se Eu Fosse Você", comédia lançada em 2006, que ganhou uma continuação três anos depois.
    O segundo filme atraiu 6,4 milhões de pessoas ao cinema. Ironicamente, o êxito comercial não se traduziu em remuneração para ela, diz a atriz.
    "Não ganhei dinheiro com 'Se Eu Fosse Você', mesmo no segundo filme. Fiz porque gostava da história, não me arrependo de ter feito. Mas, se o filme deu lucro, foi só para quem produziu", conta Gloria, que não revela o valor recebido pelos dois longas. Ela esboça um sorriso e prefere mudar de assunto.
    Dirigidos por Daniel Filho, o longa e sua sequência foram feitos pela Total Filmes. A produtora informa que "o cachê foi absolutamente compatível com o praticado pelo mercado para obras cinematográficas independentes".
    A última aparição de Gloria nos cinemas havia sido em um filme produzido por Luiz Carlos Barreto: "Lula, o Filho do Brasil", de 2010. A expectativa de chegar a 20 milhões de pessoas acabou frustrada, e o longa atraiu aproximadamente 1 milhão de espectadores.
    "O filme não deveria ter sido lançado com o Lula ainda no poder", avalia Gloria. "É um filme bom, correto, mas nem sempre isso é suficiente. É preciso saber o momento certo."
    "Flores Raras" é o projeto que levou mais tempo para ser concretizado na carreira da atriz. Há 17 anos, ela foi convidada por Lucy Barreto para o papel de Lota. Na época, a mulher e sócia de Luiz Carlos Barreto havia comprado os direitos de adaptação do livro para o cinema.
    Entre outras causas, o filme atrasou pela dificuldade em conseguir patrocínio. "Ainda existe um grande preconceito contra o tema, mesmo sendo uma história de amor entre duas mulheres ícones de uma época", diz Lucy.
    Gloria aponta uma vantagem na espera: "Tenho certeza de que hoje pude contribuir muito mais. Amadureci como artista e mulher. Se tivesse feito a Lota há 17 anos, ela não seria a mesma".

    Novo Super-Homem, Henry Cavill malhou muito para caber no uniforme colante

    folha serafina
    FERNANDA EZABELLA
    DE LOS ANGELES

    Interpretar o Super-Homem, um dos heróis mais amados do planeta e já vivido por Christopher Reeve (1952-2004), foi uma tarefa penosa para Henry Cavill.
    Em "Homem de Aço" (estreia em 12 de julho), o público vê como Clark Kent aprendeu a voar. Na vida real, o ator britânico também aprendeu a ultrapassar seus limites físicos.
    "Não dá para fingir para a câmera que você tem barriga tanquinho. É preciso trabalhar duro. Chegar ao físico certo foi o maior desafio", diz Henry, 30, que ficou conhecido como o duque de Suffolk, na série "The Tudors" (2007-2010).
    "É surpreendente o quanto podemos forçar o corpo. Você pode estar exausto, mas, se a mente estiver pronta, vai conseguir ir em frente. Até cair."

    Henry Cavill como o Super-Homem

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    Henry Cavill ao lado de Christopher Meloni em cena de 'O Homem de Aço'
    O filme, dirigido por Zack Snyder ("Watchmen", "300") e com produção de Christopher Nolan, da trilogia "Batman", foi bem na bilheteria dos EUA, apesar das críticas pouco favoráveis.
    A história passa longe do clima sombrio do "Cavaleiro das Trevas" e do humor de "Homem de Ferro" e opta por uma trama realista (na medida do possível) sobre as origens do super-herói. Não à toa, foram escalados atores dramáticos, como Kevin Costner e Diane Lane, para viver os pais humanos de Clark.
    "Mais do que nunca, o Super-Homem precisa ter mais coração", diz Diane, 48. "O mundo está menos acolhedor e mais assustador. E Henry tem esse coração enorme e generoso para preencher o personagem", completa a atriz.
    Durante quatro meses antes das filmagens, o ator treinou diariamente com Mark Twight, responsável por deixar a Guarda Nacional dos EUA em forma. Nos seis meses de gravação, acordava às 4h para levantar peso antes de ir ao estúdio. E ainda malhava no aparelho de remo e no "airdyne", um tipo de bicicleta em que se usam também as mãos.
    "Não era fã de remo, mas, quando era dia do 'airdyne', até sentia saudade dele", diz. "No começo, a dieta era bem pesada para ganhar massa. Depois, mudamos para eu ficar mais enxuto e pronto para caber na roupa."

    Veja outros atores que interpretaram o Superman

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    Christopher Reeve como Superman
    O uniforme do Super-Homem segue colado ao corpo, com uma nova textura de escama metálica. A clássica cuequinha por cima da roupa desapareceu, mas o "S" no peito continua lá, ainda que com um novo significado.
    Henry levava 15 minutos para vestir o traje -mesmo com a ajuda de dois assistentes da equipe de figurino do longa.
    Na preparação para o papel, o ator não reviu os filmes anteriores do Super-Homem. Apenas leu os quadrinhos, pela primeira vez. Ele nasceu na ilha de Jersey, conhecida como paraíso fiscal, e aos 13 anos foi estudar num internato.
    "Não tínhamos acesso a quadrinhos porque raramente saíamos da escola", conta. "Além de Shakespeare, lia muita ficção histórica. Sou fã de Christian Jacq", diz, citando o autor francês, especialista em Egito Antigo. Um exercício intelectual muito mais intenso do que a malhação exigida para compor seu Homem de Aço.

    Maior estilista do Brasil, Alexandre Herchcovitch pensa em pedir asilo político em outro país - Chico Felitti

    folha de são paulo
    REVISTA SERAFINA
    Alexandre Herchcovitch, 41, não sabe se ama o Brasil ou deixa-o. O maior estilista do país estava no protesto que tomou pontes e marginais de São Paulo em 17 de junho. Mas cogita pedir asilo político a outra nação. "São ideias", desconversa -que há tempo cruzam sua cabeça.
    "Não tenho nenhum apego por SP. Absorvi tudo o que a cidade poderia dar como influência", disse há um ano, em entrevista a um site.

    Ainda assim, foi às ruas com o povo paulistano. "Andei no máximo um quilômetro, fora as duas horas na concentração." Na manhã seguinte, sua conta no Twitter causou tumulto virtual. A frase publicada era: "Por que não acontecem manifestações no Norte e Nordeste? É lá que elegem os políticos corruptos."
    Ele disse que a mensagem veio de um hacker que invadira seu perfil, agora desativado. "Não quero mais expor minha vida dessa forma."

    Alexandre Herchcovitch

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    Daniel Klajmic
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    Raio-x do estilista Alexandre Herchcovitch feito especialmente para a Serafina, no dia 18 de junho de 2013
    Talvez o distanciamento da identidade nacional seja um dos ingredientes que o levaram a ser grande na moda. "Ele foi o primeiro a ter dimensão internacional no estilo. Não que fosse um estilo brasileiro, porque não é. É universal", avalia a consultora de moda Costanza Pascolato.
    Para ela, Alexandre poderia fazer moda aqui ou em qualquer lugar do mundo. Até porque o sobrenome se passa com desenvoltura por gringo, ainda que seja abrasileirado. Vem do original Herchcovic, da Polônia, onde também é lido "rérchcoviti". A seção "Erramos" daFolha já corrigiu quatro vezes o nome, com nove consoantes para três vogais.

    SPFW verão 2014 - Alexandre Herchcovitch

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    Edson Lopes Jr./Folhapress
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    Desfile de Alexandre Herchcovitch no quarto dia da São Paulo Fashion Week primavera-verão 2013/2014, na Bienal do Ibirapuera Leia mais
    PAGANDO BEM...
    Mas a ideia não era vestir só criaturas da noite. Alexandre queria estudar fora. Com 14 anos, começou a juntar dinheiro vendendo lenços, camisetas e mochilas. Ainda menor de idade, viajou a Nova York e pediu uma entrevista na renomada escola de moda Fashion Institute of Technology, onde queria se formar.
    "Disseram que, para ir para lá, eu precisaria estar na faculdade aqui." Passou pelo curso de artes plásticas da Faap antes de descobrir que existia a graduação em moda na faculdade Santa Marcelina. Mudou de curso, mas saiu pouco antes de terminar, quando começou a pegar trabalhos grandes.
    "Quando eu estava para me formar, o Paulo Borges me chamou para fazer um desfile no Phytoervas Fashion." Era 1994, e ele foi um dos três costureiros a estrear o evento que viria a se tornar a São Paulo Fashion Week.
    Há uns dez anos ("por aí, não lembro bem"), prestou vestibular de novo. "Achei que não ia passar." Passou, fez a matéria de linguagem instrumental que faltava no currículo e se formou.
    A família apoiou o estilista, na profissão e em decisões pessoais. A mãe foi convencida pelos filhos, ainda adolescentes, a fazer uma tatuagem. Os três foram juntos, e cada um tatuou um inseto na mão. Ao chegar em casa, esperavam o ralho do pai. Não veio e hoje Benjamin tem uma caveira, parecida com o símbolo da marca, tatuada em cada braço.
    A progenitora e o irmão mais novo, Arthur, começaram a trabalhar para o estilista em 1994. Mas a família foi afastada da marca depois que o conglomerado InBrands o arrematou, em 2008, por um número de milhões não revelado. "Não era esperado. Eu tinha trabalhado com o Alê desde o começo", diz a mãe. "Mexeram muito na empresa que já existia. Hoje, vejo que não precisava ter sido assim", diz ele, que chegou a ter 30% de sua marca antes de se desfazer de toda propriedade que leva seu nome.
    Alexandre Herchcovitch vende. E também empresta seu nome a produtos de cama, mesa e banho. Em 15 anos de licenciamento, já foi marca de isqueiro, de band-aid, de óculos, de caderno, de mochila, de skate, de celular. No total, sua equipe produz 1.500 itens por ano, calcula. Não sabe o quanto é roupa e o quanto é o resto. "Já fiz produtos só pelo dinheiro, é claro, não vou mentir."
    Mas não é qualquer proposta que o convence. "Eu digo mais não do que sim", afirma. E não tem medo de banalizar a marca. "Cheguei a pensar que [o mercado] saturava, mas não parei." Ainda sonha criar azulejos, um carro e um hotel.
    Licenciar significa dinheiro para a grife, e ele tem metas de faturamento para bater. Vem conseguindo. Depois de cinco anos como diretor criativo da marca que leva seu nome, seu contrato chegou ao fim neste ano. Foi renovado. "Aprendi a negociar." No começo, era a mãe que pegava o telefone para dizer o preço das peças para os clientes. "Eu ficava com vergonha e pedia menos. Hoje, sei cobrar bem. Sei o meu valor."

    Alexandre Herchcovitch

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    Zanone Fraissat - 21.mar.2013/Folhapress
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    O crânio da moda
    O estilista Alexandre Herchcovitch comemora 20 anos da marca que leva seu nome complicado e da qual hoje não é mais dono, e sim empregado. E ainda pensa em criar azulejos, um carro e um hotel, quer se casar e deixar o país
    CHICO FELITTIDE SÃO PAULOAlexandre Herchcovitch, 41, não sabe se ama o Brasil ou deixa-o. O maior estilista do país estava no protesto que tomou pontes e marginais de São Paulo em 17 de junho. Mas cogita pedir asilo político a outra nação. "São ideias", desconversa ""que há tempo cruzam sua cabeça. "Não tenho nenhum apego por SP. Absorvi tudo o que a cidade poderia dar como influência", disse há um ano, em entrevista a um site.
    Ainda assim, foi às ruas com o povo paulistano. "Andei no máximo um quilômetro, fora as duas horas na concentração." Na manhã seguinte, sua conta no Twitter causou tumulto virtual. A frase publicada era: "Por que não acontecem manifestações no Norte e Nordeste? É lá que elegem os políticos corruptos." Ele disse que a mensagem veio de um hacker que invadira seu perfil, agora desativado. "Não quero mais expor minha vida dessa forma."
    Talvez o distanciamento da identidade nacional seja um dos ingredientes que o levaram a ser grande na moda. "Ele foi o primeiro a ter dimensão internacional no estilo. Não que fosse um estilo brasileiro, porque não é. É universal", diz a consultora de moda Costanza Pascolato.
    Para ela, Alexandre poderia fazer moda aqui ou em qualquer lugar do mundo. Até porque o sobrenome se passa com desenvoltura por gringo, ainda que seja abrasileirado. Vem do original Herchcovic, da Polônia, onde também é lido "rérchcoviti". A seção "Erramos" da Folha já corrigiu quatro vezes o nome, com nove consoantes para três vogais.
    TAPA NA PANTERA
    Quando começou a aparecer na imprensa, nos anos 1990, recebeu o aposto de "o estilista da Márcia Pantera". Drag queen que reinava em inferninhos paulistanos, Pantera hoje tem 43 anos e continua batendo ponto em boates como a Nostro Mondo, onde Alexandre a conheceu.
    "Ele falou que gostava de mim e que queria me fazer uma roupa. Pensei: Tá boa que essa bicha vai fazer roupa para mim?!'", lembra Pantera. Pois fez um macacão de renda branca. E depois mais 300 peças, das quais só restam 15."Passei uns anos perdida na noite. Deixei de falar com ele. Tinha vergonha do que eu tava fazendo. O Alê é caretíssimo."
    Na sua única loja em São Paulo, nos Jardins, ele conta que quis criar um modelo para um travesti para "vestir uma pessoa diferente das amigas que usavam minha roupa". A conversa é interrompida por um barulho no andar de baixo. "Eles precisam falar tão alto?", pergunta em voz baixa para o coordenador de marketing da marca, que desce para ver a razão da balbúrdia.
    Ao voltar, Daniel Raad diz: "É ela". "Ela quem?", pergunta o estilista. Márcia Pantera em pessoa, que passou para ver como anda o figurino do show de comemoração dos seus 25 anos de carreira. O estilista não faz menção de pedir que a musa original suba para encontrá-lo. Tampouco desce para recebê-la.
    Depois de começar a vestir Pantera, a clientela abundou e desbundou, conta a família. "Era um tal de garota de programa ligando aqui em casa", diz Regina Herchcovitch, 67, que cedeu a sala do apartamento no Sumaré, onde ainda mora, para o ateliê do primogênito.
    A casa já era de moda antes disso. Dona Regina tinha uma confecção de lingeries, depois de ter deixado a carreira no banco. Era do seu estoque que o filho se nutria. "Quando eu fazia roupa de renda, não é que fosse um fetiche. Era o material que eu tinha em casa", conta ele.
    "Eu tava assistindo ao Jornal Nacional' e passava uma prostituta na frente da TV, entrava no meu quarto e ia usar o espelho, para ver como a roupa tinha ficado", conta Benjamin Herchcovitch, 68, engenheiro, pai e ator ""ele atuou como pai de Alexandre num seriado da HBO, em que o filho interpretava... um estilista homossexual e judeu.
    PAGANDO BEM...
    Mas a ideia não era vestir só criaturas da noite. Alexandre queria estudar fora. Com 14 anos, começou a juntar dinheiro vendendo lenços, camisetas e mochilas. Ainda menor de idade, viajou a Nova York e pediu uma entrevista na renomada escola de moda Fashion Institute of Technology.
    "Disseram que, para ir para lá, eu precisaria estar na faculdade aqui." Passou pelo curso de artes plásticas da Faap antes de descobrir que existia a graduação em moda na faculdade Santa Marcelina. Mudou de curso, mas saiu pouco antes de terminar, quando começou a pegar trabalhos grandes. "Quando estava para me formar, Paulo Borges me chamou para fazer um desfile no Phytoervas Fashion." Era 1994, e ele foi um dos costureiros a estrear o evento que viria a se tornar a São Paulo Fashion Week.
    Há uns dez anos, prestou vestibular de novo. Passou, fez a matéria de linguagem instrumental que faltava no currículo e se formou.
    A família apoiou o estilista, na profissão e em decisões pessoais. A mãe foi convencida pelos filhos, ainda adolescentes, a fazer uma tatuagem. Os três foram juntos, e cada um tatuou um inseto na mão. Ao chegar em casa, esperavam o ralho do pai. Não veio e hoje Benjamin tem uma caveira, parecida com o símbolo da marca, tatuada em cada braço.
    A progenitora e o irmão mais novo, Arthur, começaram a trabalhar para o estilista em 1994. Mas a família foi afastada da marca depois que o conglomerado InBrands o arrematou, em 2008, por um número de milhões não revelado. "Não era esperado. Eu tinha trabalhado com o Alê desde o começo", diz a mãe. "Mexeram muito na empresa que já existia. Hoje, vejo que não precisava ter sido assim", diz ele, que chegou a ter 30% de sua marca antes de se desfazer de toda propriedade que leva seu nome.
    Alexandre Herchcovitch vende. E também empresta seu nome a produtos de cama, mesa e banho. Em 15 anos de licenciamento, já foi marca de isqueiro, de band-aid, de óculos, de caderno, de mochila, de skate, de celular. No total, sua equipe produz 1.500 itens por ano, calcula. Não sabe o quanto é roupa e o quanto é o resto. "Já fiz produtos só pelo dinheiro, é claro, não vou mentir."
    Mas não é qualquer proposta que o convence. "Eu digo mais não do que sim", afirma. Não tem medo de banalizar a marca. "Cheguei a pensar que [o mercado] saturava, mas não parei." Ainda sonha criar azulejos, carro e hotel.
    Licenciar significa dinheiro para a grife, e ele tem metas de faturamento para bater. Vem conseguindo. Depois de cinco anos como diretor criativo da marca que leva seu nome, seu contrato chegou ao fim neste ano. Foi renovado. "Aprendi a negociar." No começo, era a mãe que pegava o telefone para dizer o preço das peças para os clientes. "Eu ficava com vergonha e pedia menos. Hoje, sei cobrar bem. Sei o meu valor."
    Desde que virou funcionário de seu próprio nome, ele diz trabalhar menos. Chega ao escritório às 8h. Almoça ao meio-dia. Às cinco da tarde, começa a pensar: "Já posso ir embora?" Parte e deixa a equipe de sete pessoas, que usam a mesma caneta que ele, para os desenhos ficarem semelhantes uns aos outros.
    "Não é complicado ser chefe", garante.
    Um ex-subordinado ensina que o silêncio desse chefe diz muito. "Quando ele gosta de algo, retorna rápido, falando que tá lindo. Se passou um dia e ele não respondeu, pode sentar e recomeçar o trabalho, pois não está bom. Mas isso não vai ser dito explicitamente."
    SEM DILMA
    "Por favor, não corta aqui embaixo. E depois dá uma aparada na sobrancelha?", pede o estilista ao barbeiro, numa sala privativa do salão de Celso Kamura, na rua da Consolação. Os dois se conheceram num concurso de Miss Travesti Brasil há 20 anos. Kamura, 54, faz os cabelos e a maquiagem de seus desfiles até hoje.
    A dupla foi escalada em 2010, pelo marqueteiro João Santana, para cuidar do visual da então ministra Dilma Rousseff, que se candidataria à presidência. Enquanto Kamura ainda vai ao Palácio do Planalto navalhar os cabelos da presidente, a parceria com o estilista mirrou.
    Não foi falta de empenho, ele garante. Alexandre voou até Brasília, pegou peças do guarda-roupa dela e as reproduziu, "com poucas modificações". "Fiz um par de camisas, umas duas calças e mais outras peças. Ela nem provou nada."
    Já Kamura define sua fama como AD/DD (antes de Dilma e depois de Dilma). "As pessoas me reconhecem na rua agora. Fui para o interior da Bahia uma vez e vieram me perguntar se eu era eu. É babado!" Alexandre não lamenta o que poderia ter ganhado com a parceria. "Ela não quis, eu sei que fiz um bom trabalho." Diz lidar bem com a rejeição, assim como tira de letra críticas ruins.
    "Não me afeta." Dá como exemplo uma crítica de Gloria Kalil, que havia considerado "infantis" as modelagens da temporada de junho de 2004, inspiradas em bonecas russas. "Foi a coleção que mais vendeu até agora."
    Se tivesse olhado para o lado no salão de Kamura, teria visto a própria Gloria Kalil, esperando para fazer uma escova. "O Alexandre é um criador, não só um estilista. É um desestabilizador. Propõe o inesperado. O esquisito."
    Trajetória similar à do estilista inglês Alexander McQueen, que se suicidou em 2010, aos 40 anos. As semelhanças não param no nome, na idade e no fato de os dois terem adotado a caveira como símbolo, acredita. "A gente estava na faculdade no mesmo período. E chamavam os dois de enfant terrible'."
    "Oublions l'enfant!", sentencia em francês Gloria Kalil. A frase quer dizer "esqueçamos o menino". Mas o terrível fica. "Ele não é mais menino. Cresceu."
    Fez parte do processo de crescimento sossegar o facho. Conhecido como estilista dos clubbers na década de 1990, ele não é mais da noite. "Nem na década de 1990 eu saía muito. Era uma vez por semana, duas." Hoje, nem isso.
    Sua diversão é viajar. A negócios, vai para Nova York ao menos duas vezes por ano, para a semana de moda onde desfila e para arejar o apartamento que comprou lá. Ruma uma vez por ano para Tóquio, onde teve uma loja. Mas diz que só relaxa mesmo quando vai para uma praia deserta. "É o único momento em que não trabalho."
    Sua antiga companhia de diversão não está mais lá. Ele e o DJ Johnny Luxo foram o Batman e Robin da moda brasileira. Johnny era modelo nos primeiros desfiles do amigo. Quando Alexandre foi eleito pela Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) o melhor estilista de 2000, subiram os dois no palco: o estilista num escarpim rosa salto quatro e Johnny numa bota de salto 18.
    "Não o vejo mais porque a vida dele tomou outros rumos. O Alexandre continua com a loja, os 50 mil licenciamentos dele e o namorado", diz Johnny.
    Namorado, não: marido. É assim que o estilista se refere a Fábio Souza, 36, dono do brechó À La Garçonne, que reabriu na rua Oscar Freire, no último 15 de junho.
    Os dois estão juntos há sete anos e moram numa cobertura em Higienópolis. Fizeram contrato de união estável em 2010, num cartório da praça da Sé. Têm cinco cachorros de pequeno porte. Dois são "chinese cresteds", raça que já ganhou o concurso World's Ugliest Dog (cão mais feio do mundo).
    O casal planeja agora uma festa de casamento no sentido estrito do termo. Fábio já fez uma lista. Alexandre negocia para reduzir a um jantar. """E tá bom, né?"
    O estilista perdeu dez quilos nos últimos meses, cortando doces e porções. E acabou de fazer uma nova tatuagem, uma versão estilizada dos ossos da mão direita. Como se o esqueleto estivesse se pronunciando sobre a pele. Estaria ele virando a caveira que escolheu como logomarca? "Não é por causa da marca."
    O crânio tampouco tem a ver com a cena clássica de "Hamlet", de Shakespeare. Nasceu no clube A Hebraica, da comunidade judaica paulistana. "Tinha uns 15 anos, e encontrei o [hoje stylist] David Pollak. Ele disse que queria uma camiseta de caveira. Eu fui e desenhei a caveira." Identidade por encomenda. "Não é assunto para análise. Ainda uso como estampa porque vende bem."