Estado de Minas - 28/10/2012
Foi-se o tempo em que se ia a uma festa de graça. Havia até uma expressão, dar o ar de sua graça. Hoje, dar o ar de sua graça custa caro. Para vocês entenderem logo o que estou quase dizendo, repito uma notícia que acabo de ler. Vejam: “Passada a Olimpíada, da qual foi a estrela da festa de encerramento, o gari Sorriso reajustou a tabela de cachês de presenca. Antes dos Jogos, cobrava R$ 8 mil para ir a uma festa. Agora, não vai por menos de R$ 10 mil. ‘Tô mundialmente famoso’, diz”.
Mal havia sobrevivido a essa notícia e me deparo com esta outra: “Narjara Turetta, ex-atriz que chegou a vender coco em Copacabana, reajustou a tabela para palestras de superação de desafios e motivações. Cobrava R$ 5 mil, mas, como estará no elenco de Salve Jorge, passou para R$ 8 mil”.
E assim caminha a humanidade, dizia o filósofo James Dean...
Eu já sabia que artistas que aparecem nas festas tipo Oscar com vestidos de grife ganham para usar aqueles modelos. Sabia que, para estar num camarote durante o carnaval e usar aquelas camisetas, alguns cobravam alto. E sempre morri de inveja, confesso, de notícias em que a celebridade ia a eventos só para marcar presença. Não precisava falar nada. Não tinha que falar um poema. Não tinha que cantar. Não tinha que fazer conferência. Dava só o ar da graça, ar que não saía de graça para o patrocinador.
Há pouco tempo, protestei contra a Fagga – que organiza feiras de livro pelo país –, pois insistiam que os escritores tinham que trabalhar de graça. Sem graça, e quase sem ar, respondi àquela empresa que não era possível o gesto de caridade. Depois disso, acho que começaram a pagar. Mas estamos longe do que ganha o gari Sorriso só para sorrir.
Em geral, esses convites para conferências giram em torno de R$ 2 mil. Quando muito, chegam a R$ 4 mil. Devia ter nascido gari ou sorrir mais. Outro dia, me disseram que tem escritor cobrando R$ 8 mil, tanto quanto a Narjara Turetta. Já celebridades, tipo Fernando Henrique e Lula, dizem, cobram em dólar – coisa de R$ 40 mil ou mais.
A síndrome da celebridade e dos famosos virou caso de estudo na sociologia. Minha mulher foi ao Uruguai fazer uma conferência para crianças e, de repente, uma delas fez esta pergunta sintomática: se ela conhecia alguém famoso. Percebam. Ela não precisava ser famosa, bastava que conhecesse alguém famoso, e ficava famosa. É a “famosidade” por contaminação. Você conhece alguém célebre, logo é quase célebre. E sua cotação aumenta no mercado da pós-modernidade.
Aquele filme recente do Woody Allen sobre Roma mostrou algo exemplar a esse respeito. O personagem encarnado pelo cômico Roberto Begnini fica famoso de uma hora para a outra, sem que tenha a menor noção de por que isso aconteceu. Passa a ser perseguido pela imprensa e pelo noticiário. É uma pessoa célebre, tudo o que faz é notícia. Da mesma maneira como fica famoso sem mais nem menos, sem mais nem menos deixa de ser famoso, cai no esquecimento e não entende por que era famoso e por que deixou de o ser.
É uma sátira ao nosso tempo. Ser famoso é mercadoria. Pior, um valor conferido a alguém provisoriamente. Todos podem ser famosos. Que o digam o YouTube, a internet e a televisão com os programas tipo Big Brother. Isso se tornou de tal modo corriqueiro que, se perguntarmos a uma criança o que ela quer ser quando crescer, ela não vai dizer médico, advogado ou artista, mas simplesmente: “Quero ser famoso”.
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