Colunista de jornal do PR, Rodrigo Gurgel garantiu vitória a iniciante
Coordenador do prêmio e jurado não confirmam nem negam informação apurada pela Folha; júri será divulgado em 28/11
PAULO WERNECK
EDITOR DA “ILUSTRÍSSIMA”
O jurado "C" do Jabuti 2012, que causou controvérsia ao atribuir notas extremamente baixas a favoritos, levando um autor iniciante a ganhar o prêmio principal da categoria romance, é o crítico e editor Rodrigo Gurgel, segundo a Folha apurou.
A Câmara Brasileira do Livro, organizadora do prêmio, não endossa a informação, mas também não a nega.
Por e-mail, Gurgel disse à Folha que não se pronuncia sobre o prêmio -por contrato, os jurados não podem se manifestar até a premiação.
"Nihonjin", de Oscar Nakasato, desbancou "Infâmia" (Alfaguara), de Ana Maria Machado, que provavelmente levaria o prêmio caso as regras não tivessem mudado.
Até 2012, a nota mínima que os jurados podiam dar era 8. Gurgel deu duas notas 0 e um 0,5 a Ana Maria e três 10 a Nakasato, catapultando-o ao primeiro lugar.
Ele também deu boas notas para "Naqueles Morros, Depois da Chuva", de Edival Santana (2º lugar) e a Chico Lopes (3º, com "O Estranho no Corredor"). A estratégia garantiu os primeiros lugares a nomes de fora do "mainstream" literário e de grandes editoras, à exceção de Nakasato, "outsider" editado pela Benvirá, do grupo Saraiva.
Além de ter decidido a parada na final, Gurgel também votou na primeira fase, que filtrou os dez finalistas.
Paulista, colaborador do jornal literário "Rascunho", do Paraná, e da revista eletrônica de crítica e poesia "Sibila", Gurgel é notório pelo rigor com que resenha autores contemporâneos e clássicos.
No recém-lançado "Muita Retórica, Pouca Literatura - De Alencar a Graça Aranha" (ed. Vide), Gurgel não poupa autores canônicos como Raul Pompeia e Machado de Assis.
Além de "machadismos" que "por vezes" dão "tom pernóstico" a "Dom Casmurro", ele aponta "certo eruditismo repleto de amor pelas citações", "vezo de odor quiçá brasileiro, subdesenvolvido".
Em resenha do livro, a pesquisadora Marisa Lajolo o define como "leitor rigoroso, de dedo em riste e olhar severo".
O regulamento é extremamente restritivo quanto à escolha de jurados: eles "não poderão ter vínculo com editora ou obra inscrita em qualquer categoria do Prêmio".
Procurado pela Folha, Gurgel respondeu por e-mail na segunda: "Agradeço por sua atenciosa mensagem, mas não me pronuncio sobre o Jabuti. Em relação a esse tema, por favor, procure a CBL". No livro, Gurgel diz ter sido jurado em 2009, 2010 e 2011.
Indagado sobre se Gurgel é o jurado "C", o coordenador do prêmio, José Luiz Gold-
farb, não confirma nem desmente: "A identidade só será revelada no dia 28/11", disse, citando o regulamento.
Frederico Barbosa, do conselho curador do prêmio, disse àFolha que "o regulamento foi seguido 'ipsis litteris'" e será seguido com a revelação do júri na data prevista.
RAQUEL COZER
COLUNISTA DA FOLHA
Se estivesse vivo, o paranaense Wilson Bueno (1949-2010) seria o autor com mais motivos para questionar o jurado "C" do Prêmio Jabuti.
Em três semanas, seu romance "Mano, a Noite Está Velha" (Planeta) caiu 8,34 pontos, numa escala de 0 a 10, na avaliação do crítico e editor Rodrigo Gurgel.
O romance ficou em primeiro lugar na fase inicial da disputa por ser o único dos 142 concorrentes votado pelos três jurados -cada jurado elegeu dez títulos e atribuiu notas apenas a eles. Passaram à segunda fase os dez com média mais alta.
Em 26 de setembro, na primeira etapa, o romance de Bueno recebeu média 8,67 de Gurgel. Na quinta passada, levou do jurado média 0,33.
Outro título que caiu bruscamente na avaliação de Gurgel foi "O Passeador" (Rocco), de Luciana Hidalgo, cuja média passou de 9 a 0,83.
Gurgel não votou em "Infâmia" (Objetiva), de Ana Maria Machado, na primeira fase. Na segunda, atribuiu-lhe 0,17.
O livro da imortal foi o mais bem votado pelos jurados "A" e "B" nas duas etapas. Ficou em segundo lugar na fase um e, devido ao jurado "C", em sexto na classificação final.
Embora a Objetiva tenha declarado "perplexidade" pela "evidente manipulação do resultado", a escritora evitou se manifestar para não "dar a impressão de estar desmerecendo quem ganhou".
Questionada pela Folha, a presidente da Academia Brasileira de Letras argumentou que o jurado "C" não votou "apenas a favor de alguém", e sim "contra o meu livro".
"O que haverá no 'Infâmia' capaz de despertar tanta ira? Que setores se sentiram atingidos com tanta intensidade pelo que narro no romance e por quê? Ou todo mundo acha que o objetivo dele era só dar a vitória a um estreante que o deixara embasbacado com suas qualidades?"
O livro trata da forma como "documentos espúrios e falsificações criminosas difundidas por meio da imprensa", como diz um personagem, se abatem sobre os que injustamente se tornam réus.
"Nada muda o fato de que não vou poder anunciar que o livro ganhou o prêmio e ter todos os benefícios que isso pode trazer, do dinheiro ao prestígio. Porque ele não ganhou. Simples assim", diz.
O vencedor do Jabuti, "Nihonjin", de Oscar Nakasato, sobre a imigração japonesa ao Brasil, foi votado só por Gurgel na fase um, mas foi bem avaliado pelos três jurados na final, com média 9,33.
"Ele votou contra o meu livro", diz Machado
RAQUEL COZER
COLUNISTA DA FOLHA
Se estivesse vivo, o paranaense Wilson Bueno (1949-2010) seria o autor com mais motivos para questionar o jurado "C" do Prêmio Jabuti.
Em três semanas, seu romance "Mano, a Noite Está Velha" (Planeta) caiu 8,34 pontos, numa escala de 0 a 10, na avaliação do crítico e editor Rodrigo Gurgel.
O romance ficou em primeiro lugar na fase inicial da disputa por ser o único dos 142 concorrentes votado pelos três jurados -cada jurado elegeu dez títulos e atribuiu notas apenas a eles. Passaram à segunda fase os dez com média mais alta.
Em 26 de setembro, na primeira etapa, o romance de Bueno recebeu média 8,67 de Gurgel. Na quinta passada, levou do jurado média 0,33.
Outro título que caiu bruscamente na avaliação de Gurgel foi "O Passeador" (Rocco), de Luciana Hidalgo, cuja média passou de 9 a 0,83.
Gurgel não votou em "Infâmia" (Objetiva), de Ana Maria Machado, na primeira fase. Na segunda, atribuiu-lhe 0,17.
O livro da imortal foi o mais bem votado pelos jurados "A" e "B" nas duas etapas. Ficou em segundo lugar na fase um e, devido ao jurado "C", em sexto na classificação final.
Embora a Objetiva tenha declarado "perplexidade" pela "evidente manipulação do resultado", a escritora evitou se manifestar para não "dar a impressão de estar desmerecendo quem ganhou".
Questionada pela Folha, a presidente da Academia Brasileira de Letras argumentou que o jurado "C" não votou "apenas a favor de alguém", e sim "contra o meu livro".
"O que haverá no 'Infâmia' capaz de despertar tanta ira? Que setores se sentiram atingidos com tanta intensidade pelo que narro no romance e por quê? Ou todo mundo acha que o objetivo dele era só dar a vitória a um estreante que o deixara embasbacado com suas qualidades?"
O livro trata da forma como "documentos espúrios e falsificações criminosas difundidas por meio da imprensa", como diz um personagem, se abatem sobre os que injustamente se tornam réus.
"Nada muda o fato de que não vou poder anunciar que o livro ganhou o prêmio e ter todos os benefícios que isso pode trazer, do dinheiro ao prestígio. Porque ele não ganhou. Simples assim", diz.
O vencedor do Jabuti, "Nihonjin", de Oscar Nakasato, sobre a imigração japonesa ao Brasil, foi votado só por Gurgel na fase um, mas foi bem avaliado pelos três jurados na final, com média 9,33.
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