DIÁRIO DE TÓQUIO
O MAPA DA CULTURA
O dia
Uma ideia na cabeça e 200 câmeras na mãoANGELO ISHI
"Japan in a Day", produzido por Tony e Ridley Scott e pela Fuji TV, abriu o 25º Festival Internacional de Cinema de Tóquio, ontem.
O longa é inspirado em "Life in a Day", também produzido por Scott, que reuniu imagens captadas no mundo todo em um mesmo dia. "Japan in a Day" traz cenas colhidas no último 11 de março, um ano após o tsunami causado pelo terremoto na costa leste do país.
A Fuji TV criou um site onde qualquer um poderia postar o que filmou. E distribuiu 200 câmeras entre habitantes de Tohoku, a região afetada por tremores, ondas e pânico nuclear. Uma equipe da Fuji também colheu imagens no dia.
O material foi editado por Philip Martin (documentarista vencedor do Emmy) e Gaku Narita (diretor de novelas). A obra é anunciada como "social movie", criação coletiva que seria "o autorretrato do Japão atual, filmado por você".
Amanhã, haverá uma exibição simultânea no Roppongi Hills, quartel-general do Festival de Tóquio, e na Universidade de Tohoku, na região atingida no 11 de março. As salas estarão interligadas por sistema de videoconferência -a exibição será seguida de uma mesa-redonda virtual.
Com estreia comercial em novembro, o filme tem potencial para causar catarse. Será a primeira vez que uma obra sobre a tragédia ocupará as telonas de todo o Japão.
JAPÃO VERSUS CHINA
O conflito territorial sino-japonês vem atingindo o intercâmbio cultural e artístico entre os dois países. A Federação Empresarial Japonesa cancelou em setembro a Green Expo, que seria em Xangai. A 6ª Feira de Animes e Mangás, marcada para este mês em Guangzhou, foi adiada "por tempo indeterminado". Em Pequim, exposição sobre o personagem de anime Doraemon, que começaria no dia 15, também foi postergada.
Estima-se que, entre setembro e novembro, 50 mil chineses terão deixado de vir ao Japão, obrigando as empresas aéreas japonesas a reduzirem voos da e para a China.
O cantor Shinji Tanimura, cujo show comemorativo dos 40 anos de relações Japão-China foi cancelado pelo lado chinês, lamentou: "Não podemos permitir que cesse o intercâmbio entre as pessoas."
NEONS E TIJOLOS
Dizer que o cenário urbano de Tóquio está em constante mutação pode soar óbvio. Mas quem visitar a metrópole notará mudanças radicais em dois cartões-postais: o bairro de Shinjuku e a estação ferroviária de Tóquio.
Em Shinjuku, cujos neons inspiraram Ridley Scott a conceber "Blade Runner", a tradicional loja de departamentos Mitsukoshi fechou e deu lugar ao Bicqlo, mistura das iniciais de Bic Camera com as letras finais de Uniqlo.
Bic Camera é uma famosa loja de eletrônicos do país. A Uniqlo virou uma popular grife de roupas casuais. O objetivo da parceria seria atrair turistas, em especial asiáticos, que poderão saciar no mesmo prédio a sede pela tecnologia e pelas roupas "made in Japan".
Já o edifício da estação de Tóquio, ponto inicial do trem-bala Shinkansen, acaba de ser reinaugurado, após cinco anos em que se restaurou a arquitetura de 1914. O prédio, que já era registrado como patrimônio cultural nacional, virou museu aberto, com seus tijolos vermelhos como marca registrada.
o verdadeiro talento
Será em fevereiro a estreia da peça "Horowitz to No Taiwa" (diálogo com Horowitz), sobre o pianista Vladimir Horowitz. Ela marca a volta do hollywoodiano Ken Watanabe aos palcos após 12 anos.
"Quero que Clint Eastwood e Christopher Nolan venham ver", convida o diretor Koki Mitani (Eastwood dirigiu Watanabe em "Cartas de Iwo Jima", e Nolan, em "A Origem"). E desafia: "Eles verão que não conheciam nem metade do talento de Watanabe."
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