Alcione Araújo
Estado de Minas: 12/11/2012
No sertão do Pajeú, o sol imóvel no céu sem nuvem retarda a noite; e na caatinga torra a catingueira, o xiquexique e o facheiro. O mandacaru resta vertical por não dar sombra, pouso ou encosto. Pedras e rochas mantêm a terra quente. Moscas voejam as carcaças do gado. Vinte cidades sugam as águas e os ares do Rio Pajeú: Serra Talhada, Afogados de Ingazeira, Solidão, Quixaba, Carnaíba, etc., e Tabira – a terra do poeta e violeiro ganha súbita guerra eleitoral e um poeta vira herói da viola!
Violeiro e poeta Sebastião Dias, de 43 anos de cantoria e 600 prêmios em desafios, candidata-se a prefeito pelo PTB. Na campanha, cola no favorito, Dinca Bandino, atual prefeito, do PSB, e tumultua a sua tranquila reeleição. A disputa incendeia Tabira.
Aliados de Bandino dizem que o povo não leva fé em cantador, nem vota em pobre. Juram que, se vencerem, vão quebrar as violas de Tabira diante da casa de Dias! – grave ameaça ao instrumento-símbolo do Pajeú, e insulto ao ilustre violeiro! Mais atacam, mais o povo apoia Dias. Sugerindo que ele quer fugir à luta, os socialistas doam mil CDs: "Amanheceu, peguei a viola/ botei na sacola/ e fui viajar". Compram violas de brinquedo para quebrar, e uma de 3 metros a ser destruída na praça!
O trabalhista reage: “Quebrar viola em Tabira é violentar a alma do povo e trair a essência do lugar”. Denuncia: “É um atentado à cultura popular.” E canta: "Quem discrimina a viola/ por não gostar de cultura/ vai ver o povo levar/ um poeta à prefeitura". Eis que entra em cena o carroceiro Zé Edmilson: “Eles querem quebrar a viola, mas a gente não vai deixar. Viola é como a vida da gente!” E junta 200 carroceiros, que se cotizam: cada um dá o que pode. Dias se comove ao receber a sacola de moedas e notas de R$ 2. Eis o financiamento público de campanha!
Com 7.553 votos, Sebastião Dias vence Dinca Brandino, 7.066 votos, e se elege. Com violas de brinquedo presas ao pescoço, os vencedores comemoram a vitória.
Derrotados viram santos: “Ninguém determinou a agressão. Não chegou aos nossos ouvidos e não houve determinação do comando de campanha nesse sentido. Se houve, foi manifestação esporádica de eleitores ou militantes. Temos orgulho da viola e da poesia, símbolos da cultura não só de Tabira, como do sertão do Pajeú”.
Mas o cantador Zé Carlos do Pajeú insiste: “Vi a carreata chefiada por um carro que levava uma viola tratada com deboche. Se Brandino ganhasse, a viola ia sofrer, arrastada pelo chão. A gente desgostou, porque viola é coisa sagrada para nós”.
À sombra do umbuzeiro, Sebastião Dias, de chapéu, óculos Ray-ban e dente de ouro, junta poetas e violeiros para tocar viola e cantar a vitória. Abraçado à viola, tripudia: "Quem queria quebrar minha viola/ Foi dormir escutando o choro dela/ Foram dias de muito sofrimento/ Afastado do som da minha lira/ Só porque defendi nossa Tabira/ Juraram quebrar meu instrumento/ Mas viver sem viola eu não aguento/ Que cultura pra mim é coisa bela/ Até quando esta mão pegar na vela/ A poesia será a minha escola".
E com isso tudo está bem dito. Não me atrevo, nem é necessário dizer mais nada.
Violeiro e poeta Sebastião Dias, de 43 anos de cantoria e 600 prêmios em desafios, candidata-se a prefeito pelo PTB. Na campanha, cola no favorito, Dinca Bandino, atual prefeito, do PSB, e tumultua a sua tranquila reeleição. A disputa incendeia Tabira.
Aliados de Bandino dizem que o povo não leva fé em cantador, nem vota em pobre. Juram que, se vencerem, vão quebrar as violas de Tabira diante da casa de Dias! – grave ameaça ao instrumento-símbolo do Pajeú, e insulto ao ilustre violeiro! Mais atacam, mais o povo apoia Dias. Sugerindo que ele quer fugir à luta, os socialistas doam mil CDs: "Amanheceu, peguei a viola/ botei na sacola/ e fui viajar". Compram violas de brinquedo para quebrar, e uma de 3 metros a ser destruída na praça!
O trabalhista reage: “Quebrar viola em Tabira é violentar a alma do povo e trair a essência do lugar”. Denuncia: “É um atentado à cultura popular.” E canta: "Quem discrimina a viola/ por não gostar de cultura/ vai ver o povo levar/ um poeta à prefeitura". Eis que entra em cena o carroceiro Zé Edmilson: “Eles querem quebrar a viola, mas a gente não vai deixar. Viola é como a vida da gente!” E junta 200 carroceiros, que se cotizam: cada um dá o que pode. Dias se comove ao receber a sacola de moedas e notas de R$ 2. Eis o financiamento público de campanha!
Com 7.553 votos, Sebastião Dias vence Dinca Brandino, 7.066 votos, e se elege. Com violas de brinquedo presas ao pescoço, os vencedores comemoram a vitória.
Derrotados viram santos: “Ninguém determinou a agressão. Não chegou aos nossos ouvidos e não houve determinação do comando de campanha nesse sentido. Se houve, foi manifestação esporádica de eleitores ou militantes. Temos orgulho da viola e da poesia, símbolos da cultura não só de Tabira, como do sertão do Pajeú”.
Mas o cantador Zé Carlos do Pajeú insiste: “Vi a carreata chefiada por um carro que levava uma viola tratada com deboche. Se Brandino ganhasse, a viola ia sofrer, arrastada pelo chão. A gente desgostou, porque viola é coisa sagrada para nós”.
À sombra do umbuzeiro, Sebastião Dias, de chapéu, óculos Ray-ban e dente de ouro, junta poetas e violeiros para tocar viola e cantar a vitória. Abraçado à viola, tripudia: "Quem queria quebrar minha viola/ Foi dormir escutando o choro dela/ Foram dias de muito sofrimento/ Afastado do som da minha lira/ Só porque defendi nossa Tabira/ Juraram quebrar meu instrumento/ Mas viver sem viola eu não aguento/ Que cultura pra mim é coisa bela/ Até quando esta mão pegar na vela/ A poesia será a minha escola".
E com isso tudo está bem dito. Não me atrevo, nem é necessário dizer mais nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário