ENTREVISTA DA 2ª JOSÉ MARIA MARIN
Mano é apenas o técnico 'atual' da seleção, diz Marin
Presidente diz que o ideal para a seleção é ter atletas como Neymar ao lado de jogadores consagrados
Em entrevista à Folha e ao UOL, Marin, 80 anos, preferiu não ser assertivo ao analisar o futuro de Mano. Ao mesmo tempo, disse não querer deixar o técnico e os jogadores sob pressão.
Advogado formado pela USP, ex-ponta direita do São Paulo e político paulista com longa carreira no Estado, Marin assumiu a CBF em março deste ano, depois de a entidade ter sido comandada 23 anos por Ricardo Teixeira.
Conservador, Marin apoiou a ditadura militar (1964-1985). Hoje, é filiado ao PTB. Na CBF, está revisando contratos da gestão anterior, mas com a ajuda remunerada de Teixeira -que recebe R$ 100 mil mensais.
Para Marin, seria "ideal" tentar "misturar a experiência" de jogadores consagrados com jovens na seleção.
A propósito da fria relação com o governo, explica: Lula "é do futebol", um "boleiro". Dilma Rousseff, não.
A seguir, trechos da entrevista feita no último dia 7:
Folha/UOL - O desempenho na Copa das Confederações é importante para Mano Menezes permanecer na seleção?
José Maria Marin - Quando cheguei à presidência da CBF, o técnico já estava escolhido. Demos um voto de confiança. Não se trata apenas da Copa das Confederações. Toda a partida é importante para observação, para análise e para a conclusão. Ele é o técnico atual da seleção brasileira. Não posso raciocinar em termos de hipóteses. Não quero que os jogadores e a comissão técnica estejam trabalhando sob pressão.
A seleção está em formação...
Está ocorrendo uma coisa muito boa. Jogadores que já jogaram na seleção estão conversando comigo, colocando-se à disposição.
Quem?
O Ronaldinho, por exemplo. Eu o encontrei em Porto Alegre, na véspera do jogo entre Atlético-MG e Inter.Veio em minha direção e de maneira alegre, totalmente à vontade, disse: "Ô, presidente, eu estou à disposição".
Jogadores mais experientes são necessários numa Copa?
Seria bom. Se nós pudéssemos misturar a experiência desses jogadores consagrados com esses jovens seria bom para um Oscar, para um Neymar. Seria ideal. Mas quem decide é o técnico.
O calendário brasileiro deve ser adaptado ao europeu?
De forma nenhuma. Não se pode desejar fazer um calendário brasileiro moldado em calendário europeu. O nosso país é um continente.
Algo pode ser aperfeiçoado?
Precisamos estudar uma forma de, no período da seleção em amistosos, não convocar mais do que um jogador de cada clube.
Essa proposta não alivia o Santos, que sempre tem Neymar convocado...
O Neymar tem satisfação em jogar pelo Santos. Mas ele tem uma alegria enorme em defender a seleção.
E se o time preferir não ceder?
Direito do clube. Se algum filiado à CBF não desejar que um atleta seu seja convocado, mande uma carta para mim dizendo isso textualmente.
O clube não será punido?
Não. Nenhuma punição.
O sr. é presidente da CBF e também do Comitê Organizador da Copa. O senhor vê conflito de interesses?
Não existe conflito. Mas não fui eu que criei essa situação. Eu cheguei e já existia.
Ronaldo expressou interesse em ser dirigente, até presidir a CBF. O que sr. acha?
O Ronaldo é um vencedor. Como atleta, como empresário. Um homem respeitado no mundo inteiro.
Vê com simpatia o nome dele?
O Ronaldo dirigente, em qualquer sentido, me agrada.
Na CBF?
Ele pode ser de clube, de federação, de CBF.
Contratos da gestão anterior à sua na CBF estão sendo revistos e analisados?
Estamos estudando. Temos chamado alguns patrocinadores. Você já deve saber, a TAM deixará de nos patrocinar. Já estamos em entendimento com outras empresas.
Continua em vigor o contrato de consultoria de Ricardo Teixeira com a CBF?
Continua. Temos muitos contratos que continuam sendo examinados. Tem que haver uma consulta quase que constante [a Teixeira] para sabermos minúcias que precisam ser esclarecidas.
O valor do contrato dele é de R$ 100 mil reais mensais?
É mais ou menos isso.
Será mantido?
Neste ano devemos acabar de fazer análise de todos os contratos. Encerrando o período de exame dos contratos, eu acredito que, no próximo ano, não haverá necessidade.
Por que a CBF não é mais transparente a respeito de salários e custos da entidade?
Nós temos auditoria na CBF. As contas são julgadas por uma assembleia geral, apresentadas aos presidentes de 27 federações, aos presidentes de clubes. Não é uma coisa fechada, sigilosa.
Não seria melhor na internet?
Mas a maioria ou a totalidade dos patrocinadores [tem] uma condição de confidencialidade. Se nós fizermos isso com um, nós vamos afugentar a maioria.
É fria a relação entre CBF e o Palácio do Planalto?
Nós temos o maior respeito e admiração pela presidente [Dilma Rousseff]. Estamos integrados. Cada um trabalha de um lado. O COL está lado a lado.
Em outras épocas o presidente da CBF tinha encontros regulares com o presidente da República...
Isso é fácil de explicar. O ex-presidente Lula eu respeitosamente chamo de boleiro. O Lula é do futebol. Adora o futebol. Frequenta estádio. Não é torcedor de véspera. Não é apenas um corintiano fanático. Há uma diferença muito grande. O ex-presidente sempre estava ligado. Porque ele é boleiro.
Dilma não é boleira?
Não... Mas veja, ela, naturalmente, deve gostar de outro esporte e a gente respeita.
Que avaliação o sr. faz do governo Dilma Rousseff?
É um governo de continuidade. O governo Lula foi muito bom.
Em quem o sr. votou para a presidente em 2010?
Olha, eu estou com os meus 80 anos, a minha memória nem anda boa, viu?
Quando o sr. foi deputado estadual, fez discursos que podem ter ajudado no processo que levou à prisão e depois à morte do jornalista Vladimir Herzog, da TV Cultura?
Pura intriga.
Por quê?
Fui o governador [de São Paulo] que extinguiu o Dops [Departamento de Ordem Política e Social].
O sr. fez um discurso duro contra a TV Cultura justamente na época em que Vladimir Herzog foi preso. É uma coincidência: o seu discurso e, depois, a prisão...?
Torno a insistir: é intriga. Não tive nada a ver com isso.

Mas o sr. não era um crítico da TV Cultura na época?
Eu era deputado. Hoje, sou presidente da CBF. Querer fazer um julgamento do atual presidente da CBF invocando coisas do passado do qual não posso ser acusado de nada é uma intriga.
O sr. tinha críticas sobre como a TV Cultura era comandada?
Poderia até eventualmente fazer alguma crítica a um organismo, a uma empresa. Mas não procurar atingir uma pessoa. Procure na minha vida se eu alguma vez procurei atingir individualmente alguma pessoa ou a honra de alguém. Sempre fui um homem conhecido pela conciliação, pela concórdia e também pela tolerância.
Primeiro, começaram dizendo que eu, José Maria Marin, tinha me apoderado de uma medalha. Para me desestabilizar antes de eu tomar posse da CBF.
Uma medalha...
Agora, vem essa infâmia. Por quê? Porque não encontraram nada, absolutamente nada para me criticar como dirigente de futebol.
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