Estadod e Minas: 27/11/2012
Fazia um frio ameno em Nova York quando saí do hotel para tomar o metrô em direção à residência de um casal de amigos americanos. Era o Thanksgiving Day, Dia de Ação de Graças, uma das datas mais celebradas nos Estados Unidos. Nesse dia, todos expressam sua gratidão pelo que receberam de bom no ano que termina. Uma festa do agradecimento.
Já falei desses amigos aqui, recentemente. Ele é maestro; ela, cantora lírica. Moram numa casa de quatro andares, nas cercanias da Universidade de Nova York. O relógio marcava exatamente 18h02 quando toquei a campainha. Martha e Henry receberam-me de braços abertos e conduziram-me ao segundo andar, onde fui apresentada a uma simpática italiana, que estava hospedada com eles. Logo depois, chegou um senhor calvo e bonachão, cheio de sacolas, dizendo que tinha feito algumas tortas para a sobremesa. Apresentou-se como Jimmy. Segundo Martha, ele é um especialista em cenários de ópera e foi quem decorou a casa para o casal.
De fato, o andar em que estive – onde ficam a cozinha e uma enorme sala com dois ambientes – se assemelha bastante a um espaço cenográfico. Muitos objetos, muitos quadros, tapetes e panos de várias cores, estampas e texturas. Os móveis são antigos e devem ter sido adquiridos em antiquários. Quem olha para a parede do fundo, à esquerda, vê dois violinos dependurados ao lado de um grande quadro de natureza-morta e uma cortina bordada. Dois pianos ocupam o primeiro ambiente do salão. Um deles foi todo coberto de pinturas com motivos renascentistas. “Os quadros foram pintados pela Martha”, contou o maestro, orgulhoso dos talentos da esposa. Uma cristaleira cheia de antiguidades completa o cenário do fundo. Já a mesa de jantar estava cuidadosamente preparada para a ocasião, com flores e velas. Da cozinha vinha um delicioso aroma de especiarias.
Logo, me convidaram para ver o jardim daquele andar. “Temos quatro jardins na casa”, explicou Henry. “Cada um corresponde a uma estação do ano, em homenagem a Vivaldi”, acrescentou. Em seguida, me chamou para ver seus “filhos”: dois gatos muito peludos, chamados Cassandra e Odisseu. Disse-me ainda que eram três até o ano passado, quando o mais velho, Perseu, teve um ataque cardíaco e morreu.
O jantar foi um exagero. Há muito tempo eu não via tanta comida, em variedade e quantidade. Como Henry tinha feito todos os pratos, ele queria que experimentássemos tudo. Na hora da sobremesa, foi outro excesso. Havia quatro tipos de tortas e Jimmy fez questão que provássemos todas. Aí veio a hora do brinde de agradecimento. Henry pediu que cada um apresentasse seu maior motivo de agradecimento do ano. Todos já tinham bebido bastante vinho nesse momento. Quando chegou minha vez de agradecer, criei coragem e relatei que tinha sobrevivido a um grave problema de saúde no início do ano e estava feliz por continuar viva. Henry, então, falou algo no ouvido da mulher e levantou-se, dizendo: “Em homenagem à nossa amiga brasileira, Martha vai cantar para ela.”
Ele se sentou ao piano; ela se colocou de pé, ao lado dele. E fizeram um belíssimo concerto, deixando-me em estado de graça.
Ao sair da casa deles, tive certeza de que tinha todos os motivos do mundo para celebrar a vida.
Já falei desses amigos aqui, recentemente. Ele é maestro; ela, cantora lírica. Moram numa casa de quatro andares, nas cercanias da Universidade de Nova York. O relógio marcava exatamente 18h02 quando toquei a campainha. Martha e Henry receberam-me de braços abertos e conduziram-me ao segundo andar, onde fui apresentada a uma simpática italiana, que estava hospedada com eles. Logo depois, chegou um senhor calvo e bonachão, cheio de sacolas, dizendo que tinha feito algumas tortas para a sobremesa. Apresentou-se como Jimmy. Segundo Martha, ele é um especialista em cenários de ópera e foi quem decorou a casa para o casal.
De fato, o andar em que estive – onde ficam a cozinha e uma enorme sala com dois ambientes – se assemelha bastante a um espaço cenográfico. Muitos objetos, muitos quadros, tapetes e panos de várias cores, estampas e texturas. Os móveis são antigos e devem ter sido adquiridos em antiquários. Quem olha para a parede do fundo, à esquerda, vê dois violinos dependurados ao lado de um grande quadro de natureza-morta e uma cortina bordada. Dois pianos ocupam o primeiro ambiente do salão. Um deles foi todo coberto de pinturas com motivos renascentistas. “Os quadros foram pintados pela Martha”, contou o maestro, orgulhoso dos talentos da esposa. Uma cristaleira cheia de antiguidades completa o cenário do fundo. Já a mesa de jantar estava cuidadosamente preparada para a ocasião, com flores e velas. Da cozinha vinha um delicioso aroma de especiarias.
Logo, me convidaram para ver o jardim daquele andar. “Temos quatro jardins na casa”, explicou Henry. “Cada um corresponde a uma estação do ano, em homenagem a Vivaldi”, acrescentou. Em seguida, me chamou para ver seus “filhos”: dois gatos muito peludos, chamados Cassandra e Odisseu. Disse-me ainda que eram três até o ano passado, quando o mais velho, Perseu, teve um ataque cardíaco e morreu.
O jantar foi um exagero. Há muito tempo eu não via tanta comida, em variedade e quantidade. Como Henry tinha feito todos os pratos, ele queria que experimentássemos tudo. Na hora da sobremesa, foi outro excesso. Havia quatro tipos de tortas e Jimmy fez questão que provássemos todas. Aí veio a hora do brinde de agradecimento. Henry pediu que cada um apresentasse seu maior motivo de agradecimento do ano. Todos já tinham bebido bastante vinho nesse momento. Quando chegou minha vez de agradecer, criei coragem e relatei que tinha sobrevivido a um grave problema de saúde no início do ano e estava feliz por continuar viva. Henry, então, falou algo no ouvido da mulher e levantou-se, dizendo: “Em homenagem à nossa amiga brasileira, Martha vai cantar para ela.”
Ele se sentou ao piano; ela se colocou de pé, ao lado dele. E fizeram um belíssimo concerto, deixando-me em estado de graça.
Ao sair da casa deles, tive certeza de que tinha todos os motivos do mundo para celebrar a vida.
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