Valquiria Lopes e Paula Sarapu
Estado de MInas: 29/11/2012
Maratona: Depois de superar obstáculos do trabalho, Cátia Gomes corre para o serviço de casa. Entre um e outro, cronometra o tempo para estudar e fazer ginástica |
O estudo do IBGE se baseia nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2011, combinados com outros registros administrativos do governo federal, que permitem analisar as condições de vida da população, destacando indicadores sociais, econômicos e demográficos. Segundo a coordenadora estadual do Setor de Disseminação da Informação do instituto em Minas, a demógrafa Luciene Longo, as diferenças entre homens e mulheres ainda são bem marcadas, embora a situação venha mudando lentamente.
Luciene explica que, apesar de ter maior escolaridade do que eles e de cumprir jornada no mercado de trabalho, as mulheres de Minas dedicam mais horas aos afazeres domésticos do que as demais no Sudeste. São, em média, 28,1 horas por semana, contra apenas 11,1 horas semanais para os homens no estado. Não há variações significativas em relação ao país (27,7 horas/semana) e à média da região (27,5), mas Minas é o estado que apresenta maior número de horas gastas com atividades do lar em relação a São Paulo (27,6), Rio (26,9) e Espírito Santo (25,8).
Situação que Cátia Gomes conhece bem. “Mesmo com a diarista e com meu marido ajudando na organização da casa, a carga de tarefas é muito maior para mim. Isso implica abrir mão de algumas coisas, como fazer outro curso superior à noite”, afirma. A pós-graduação, a distância, só foi possível depois que o filho tornou-se mais independente. Até pouco tempo atrás era Cátia quem o levava à escola, aos médicos e às atividades esportivas, o que consumia mais tempo. Para ela, a realidade mostrada pelo IBGE é fruto de questões culturais. “Infelizmente, o que prevalece nos lares é a ideia de que a mulher é a ‘dona de casa’.”
Não fosse o esforço em ser aprovada no concurso público, Cátia se enquadraria em outro tópico da pesquisa: mesmo com escolaridade superior, as mulheres têm rendimento menor. “Enquanto estive na iniciativa privada, tínhamos cargos parecidos, mas vencimentos diferentes. Hoje, ele ganha um terço do meu salário”, afirma. Conforme o estudo, as mulheres ocupadas recebem 67,4% do que ganham os homens.
Elas são mais estudiosas
Mineiras ficam 15 meses a mais nas salas de aula do que os homens, segundo pesquisa do IBGE. Dedicação à formação intelectual se dá para conseguir melhor remuneração
Paula Sarapu e Valquiria Lopes
A bióloga e pós-doutoranda Luana Dourado concilia a carreira acadêmica com os afazeres domésticos, incluindo o filho, Lucas
As mulheres de Minas ficam mais tempo nos bancos de salas de aula, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais 2012. De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem, elas dedicam 15 meses a mais à formação intelectual, até numa tentativa de conseguir melhor remuneração. Os números mostram que as mulheres estudam em média 8,9 anos, enquanto a média para homens é de 7,6 anos. Os dados, porém, são inferiores ao total do país, que registra 7,9 anos para homens e 9,2 para mulheres.
Casada há cinco anos com um engenheiro elétrico, a pós-doutoranda Luana Dourado, de 32 anos, estudou sete anos a mais que o marido. Desde a graduação, foram 12 anos e falta mais um para terminar a especialização em microbiologia. No dia a dia, cumpre sete horas nos laboratórios da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o que lhe garante uma bolsa de estudo correspondente a 50% do valor do salário do marido. Em casa, ela ainda cuida de tudo, conciliando o tempo com o filho, Lucas, de 1 ano e meio, que frequenta a creche desde os quatro meses.
“Meu trabalho é acadêmico, ganho para produzir conhecimento e tinha um objetivo claro de que ainda não era hora de dar uma pausa na carreira, quando Lucas nasceu. Tirei a licença e voltei quando ele ainda mamava no peito. Na hora de almoço, ia até a creche. Achava que seria difícil e fiquei apreensiva, mas não chegou a ser traumático, como imaginei”, conta Luana, que diz ter dado sorte com o marido. “Tenho faxineira duas vezes na semana e cuido do resto em casa, do jantar, das roupas deles. Mas nem posso reclamar porque ele me ajuda.”
Para Luana, bióloga por formação que ainda fez mestrado e doutorado, o marido ganha mais porque a profissão dele é de uma área do conhecimento mais valorizada. “Acredito que uma engenheira no cargo dele ganharia a mesma coisa.” Segundo o IBGE, há diferenças ainda para raça/cor, uma vez que os ganhos de pretos e pardos equivalem a 66,7% do rendimento dos brancos.
O estudo do IBGE também aponta a maior inserção dos jovens na universidade e no mercado de trabalho. Em Minas, a maioria das pessoas cursam a educação fundamental (91,2%) e o ensino médio (88,1%) na rede pública, situação que se inverte no ensino superior, em que 75,1% dos alunos estudam em estabelecimentos privados. Segundo a demógrafa Luciene Longo, os estudantes vindos de escolas públicas não têm nível de aprendizado suficiente para conseguir vaga em universidade pública.
“Já em relação à frequência escolar, embora Minas tenha uma taxa bruta inferior à do Brasil para a população de 6 a 14 anos, com idades em suas séries correspondentes (taxa líquida), o estado apresenta números ligeiramente maiores do que a média nacional”, diz Luciene. Segundo o levantamento, a frequência escolar mineira é de 26,8% ante 28,7% em nível nacional. No que diz respeito à faixa etária de 6 a 14 anos, na taxa líquida, a presença na escola é de 94,5% para Minas e 91,9% para o Brasil. Para Luciene, a reflexão é sobre a permanência. “Dá para perceber que o acesso tem melhorado, mas a média de anos de estudo, ou seja, tudo o que todo mundo tem que estudar, Minas tem uma situação bem inferior. E diminuir essa desigualdade ainda vai levar tempo.”
O ‘PODER’ DA CRECHE A estudante Anna Caroline Leandro Costa, de 27, cursou a educação básica em escola pública e foi aprovada no vestibular para fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), mas precisou interromper os estudos no terceiro período porque não conseguiu arcar com as despesas. Anna tentou, então, a UFMG, mas não foi aprovada. “Aí, engravidei e optei por parar de estudar porque meu filho ficava sempre doente na creche e não consegui um turno nas faculdades que conciliasse com o horário dele (na creche). Também trabalhava, mas decidi ficar em casa e cuidar do Lucas.”
Segundo o estudo, as mulheres continuam afetadas por um fator preponderante para a vida profissional: aquelas com mais de 16 anos e que têm filhos com idades entre 0 e 3 anos fora da creche têm participação menor no mercado de trabalho (49,2%), quando comparadas às mulheres com filhos que nessa faixa etária já frequentam escolinhas (77,9%). Os números de 2011 indicam que Minas tem percentuais um pouco melhores em relação à média do país, em que 43,9% das mulheres com filhos pequenos fora da creche conseguem trabalhar e 71,7% daqueles que têm filhos estudando estão inseridas no mercado. Anna Caroline, entretanto, quer voltar ao mercado de trabalho e está se preparando para isso. Como o filho Lucas fez 5 anos este ano, se matriculou no curso técnico de gestão de recursos humanos da Unatec. “Estou fora do mercado de trabalho há muito tempo. Por isso, preciso fazer cursos extracurriculares para me sentir mais preparada.”
Segundo o estudo, as mulheres continuam afetadas por um fator preponderante para a vida profissional: aquelas com mais de 16 anos e que têm filhos com idades entre 0 e 3 anos fora da creche têm participação menor no mercado de trabalho (49,2%), quando comparadas às mulheres com filhos que nessa faixa etária já frequentam escolinhas (77,9%). Os números de 2011 indicam que Minas tem percentuais um pouco melhores em relação à média do país, em que 43,9% das mulheres com filhos pequenos fora da creche conseguem trabalhar e 71,7% daqueles que têm filhos estudando estão inseridas no mercado. Anna Caroline, entretanto, quer voltar ao mercado de trabalho e está se preparando para isso. Como o filho Lucas fez 5 anos este ano, se matriculou no curso técnico de gestão de recursos humanos da Unatec. “Estou fora do mercado de trabalho há muito tempo. Por isso, preciso fazer cursos extracurriculares para me sentir mais preparada.”
Diferenças no trabalho formal
Pedro Rocha Franco
Publicação: 29/11/2012 04:00
No Brasil, o avanço da economia na última década resultou em formalização do mercado de trabalho. De 2001 a 2011, o percentual de pessoas sem carteira assinada caiu de 54,7% para 44%, segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Minas, o que se percebe são dois lados bem distintos. De um, a Grande BH com patamar de formalização entre os mais altos do Brasil. Do outro, o Vale do Jequitinhonha e a Região Norte se assemelham ao cenário das regiões Norte e Nordeste do país, onde prevalece ainda a informalização do mercado de trabalho.
No Sudeste, Minas apresenta o maior percentual de trabalhadores na informalidade, com 42,4% das pessoas ocupadas sem carteira assinada. Apesar do percentual elevado, devido à heterogeneidade do estado, o dado não retrata o que se passa nos quatro cantos do estados. Na Grande BH, por exemplo, o percentual de informalidade é de 30,6%. “A gente brinca que Minas é a síntese do país. O Norte e o Jequitinhonha têm características parecidas com das regiões Norte e Nordeste do país”, afirma a analista do IBGE, Luciene Longo.
Devido ao desequilíbrio no estado, no ranking nacional o indicador mineiro fica no meio da tabela. O percentual de informais é superior aos estados das regiões Sul e Sudeste, enquanto é inferior ao dos nortistas e nordestinos. O pedreiro Antônio Ozolino está entre os moradores da Grande BH que permanecem sem carteira assinada, mas não reclama. "Não fico parado. Um indica para o outro e assim sempre consigo trabalho”, afirma.
Retratos de um país menos desigual
Publicação: 29/11/2012 04:00
Os extremos entre pobres e ricos, notadamente marcados no Brasil, apresentaram ligeira diminuição ao longo da última década. Medida por diversos indicadores e aspectos sociais e econômicos, a distribuição de renda no país passou de 0,559, em 2004, para 0,508, em 2011, conforme a Síntese dos Indicadores Sociais, do IBGE. O dado refere-se ao coeficiente de Gini, de forma que quanto mais próximo de 1, maior é a desigualdade. Exemplo claro dessa mudança é que, de acordo com a pesquisa, a razão entre a renda familiar per capita dos 20% mais ricos em relação aos 20% mais pobres caiu de cerca de 24 para 16,5 vezes, entre 2001 e 2011. Apesar da evolução, a desigualdade persiste. Conforme o estudo, os 20% mais ricos ainda detêm quase 60% da renda total, em contrapartida ao pouco mais de 11% detidos pelos 40% mais pobres. “A diferença está caindo, mas ainda é muito grande no país porque o Nordeste e o Norte elevam os índices”, explica a demógrafa do IBGE, Luciene Longo.
Sobre as características da população, o levantamento do IBGE mostra que em 10 anos o número de idosos passou de 15,5 milhões, em 2001, para 23,5 milhões de pessoas, no ano passado e representam 12,1% da população. Outro dado se refere ao excesso de peso entre crianças e adolescentes. De acordo com o relatório, 33,5% das crianças de 5 a 9 anos estão com sobrepeso, contra 4,1% com déficit de massa corpórea. Entre jovens, com 10 a 19 anos, 20,5% deles apresentam sobrepeso, ante 3,4% com "magreza" excessiva.
VIOLÊNCIA Ao analisar o nível de segurança, 67,1% das pessoas se sentem seguras em seus bairros, contra 78,6% em seus domicílios. Em Minas, esses percentuais são mais altos do que a média nacional – 79,1% dos mineiros declararam se sentir seguras em seu domicílio e 69,9% no seu bairro. (PS e VL)
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