Estado de Minas: 08/11/2012
Com os resultados da eleição municipal e, quem sabe, até os eflúvios da eleição presidencial nos Estados Unidos, as forças que contam para a sucessão presidencial de 2014 estão pisando fundo no acelerador. Era previsível, até certo ponto é natural, mas será insustentável ou pelo menos nociva uma pré-campanha tão longa. Vamos acreditar, por ora, que estejam todos promovendo apenas alinhamentos estratégicos e que os governos federal e estaduais ainda dedicarão 2013 à gestão e à administração. A presidente Dilma Rousseff, candidata natural à reeleição, deu sua acelerada ao reunir para um jantar, anteontem, a cúpula do PMDB. Nesse convescote, precedido de uma conversa de três horas entre Dilma e o ex-presidente Lula, foi reiterada a aliança preferencial entre o PT e o PMDB, e praticamente reconfirmado o nome de Michel Temer como candidato a vice. Segundo os participantes, não se falou em nova pasta para o partido, mas um tema consumiu boa parte da conversa: a reforma política. Dilma introduziu o assunto, apontando a necessidade de aprovação de algumas mudanças pontuais, já que o tempo é curto para reformas mais agudas. Rolou um debate e prevaleceu a ideia de que o assunto entra na lista das prioridades. Essa parte da conversa tem um significado importante, ainda que não tenha sido explicitado. Uma das mudanças pontuais seria o financiamento público de campanhas eleitorais, e o ponto é central do substitutivo do deputado petista Henrique Fontana, em análise numa comissão especial da Câmara.
O governo terá um bom discurso a favor da mudança, alegando a necessidade de acabar com o caixa dois, delito gerador de outros crimes, a exemplo do mensalão. Mas pode haver nela um cálculo eleitoral certeiro. Se o financiamento público for aprovado, para vigorar em 2014, acrescido naturalmente da criminalização das doações privadas, a coligação PT-PMDB será aquinhoada com o maior naco de recursos do fundo partidário especial a ser criado. Juntos, tiveram o maior número de votos e de eleitos para a Câmara em 2010. O PSDB virá logo atrás, melhorando sua situação se coligado ao DEM. Quem ficará na rua da amargura será o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que vem incomodando Dilma e o PT com sua aura de vencedor, sua pinta de candidato e suja ambivalência em relação ao atual governo.
Picado pela mosca
Eduardo Campos também está pilotando seu projeto em alta velocidade. Por mais que tente dissimular, está picado pelo inseto azul e seu partido não contém a euforia com a possibilidade de disputar o poder com nome e projeto próprio. Outros, flertam com a hipótese de uma aliança com o PSDB. Dilma o encontrará amanhã em Salvador, em reunião com os governadores nordestinos para tratar da seca na região. Não será ainda desta vez que tratarão de política e de sucessão. Nem Eduardo tem pressa. Seu partido tem dois ministros no governo, há uma refinaria a ser implantada em seu estado, entre outros projetos importantes. Mas continuará acelerando pois ao comichão do poder também se aplica o título da comédia de Marcos Caruso: “trair e coçar é só começar”.
Acelerada tucana
O senador Aécio Neves é uma espécie de candidato natural do PSDB. José Serra já queimou suas oportunidades, o governador Geraldo Alckmin concorreu com Lula em 2006 e supostamente vai disputar a recondução ao Palácio dos Bandeirantes. Mas, até agora, não explicitou o que pretende fazer. Observando os movimentos dos concorrentes, Aécio confidenciou por estes dias a um colega de partido: não pode ficar parado enquanto Dilma limpa as armas para a batalha e Eduardo Campos pisa no acelerador. Viajou pelo país durante a campanha, mas, agora, precisa de um horizonte mais claro.
Em breve, teria confidenciado ao interlocutor, vai procurar o governador de São Paulo para uma conversa franca. Se Alckmin quiser ser candidato, terá todo o seu apoio em Minas. Mas, se estiver decidido a buscar a reeleição, deverá proferir uma declaração pública de apoio a Aécio, fundamental para criar o clima de unidade no PSDB, atrair aliados e pavimentar a caminhada.
Derrota nacional
A votação do projeto de lei dos royalties, anteontem, foi naquele clima que os políticos definem como de “vaca estranhando bezerro”. Ninguém se entendia, a proposta de Carlos Zaratini (PT-SP), apoiada pelo governo, acabou derrotada. O senador Francisco Dornelles aponta pelo menos três problemas graves no texto aprovado: é inconstitucional, porque fere o artigo 20 da Constituição federal, que vincula os royalties aos estados produtores. É ilegal, porque fere contratos já firmados. É novamente ilegal porque fere a legislação orçamentária. Rio e Espírito Santo, em suas leis orçamentárias, contam com recursos dos royalties para financiar gastos previdenciários e as dívidas estaduais. Os dois estados vão recorrer ao Supremo. O que fará Dilma? O líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp, saiu do Alvorada dizendo que ela sancionará a lei sem vetos. Há quem suponha, ou torça, para que ela vete alguns artigos e, repetindo o que fez em relação ao Código Florestal, edite uma medida provisória destinando os recursos derivados de contratos novos à educação, como queria o governo. Nesse ponto, a derrota foi do país. Mas o governo tem sua parte de culpa. Só na semana passada o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, foi ao Congresso dizer que essa era a posição oficial do Planalto.
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