Estado de Minas: 06/11/2012
Quando ela acordou, viu que chovia. Esfregou os olhos com as mãos para ver se não estava sonhando, e viu que não estava. Chovia mesmo naquela manhã, como há muito não acontecia por aqui. E a vontade que ela teve foi de ir para a rua, sentir a chuva na pele e nos cabelos. Afinal, os últimos dias tinham sido de um calor infernal, que ela nunca experimentara antes, na cidade. “O que está acontecendo com o clima do mundo?”, perguntou-se em pensamento, pouco antes de tomar café e se preparar para o dia. Não, ela não é tão corajosa a ponto de ir para debaixo da chuva às 7h. E não foi. Decidiu ficar em casa, trabalhando. “Vou aproveitar a chuva e zerar as pendências da semana”, justificou para si mesma. Antes, porém, resolveu ler as notícias do dia, menos por interesse do que por vício, pois já antevia o que se passava no Brasil e no mundo.
A primeira notícia, estampada com ênfase na capa do jornal, era sobre o furacão Sandy e os rastros de destruição deixados na cidade de Nova York. As fotos confirmavam os estragos, mostrando uma cidade em estado de caos. Ela, que sempre gostou de NY, lamentou a tragédia. Mas logo deu falta de um dado: “E sobre o Caribe, não falam nada?”. Ao folhear as páginas, contudo, encontrou uma notinha sobre as mortes causadas pelo mesmo furacão, no Haiti e em Cuba. Sem ênfase, sem fotos. “Claro”, pensou, “sempre foi assim”. E com sua mania de sofrer pelos outros, lamentou sinceramente todos os estragos, toda a tragédia, de todos os lugares.
Outra notícia que lhe chamou a atenção tinha a ver com o episódio dos índios guaranis-caioás que vivem, em estado de penúria, à beira de um rio no Mato Grosso do Sul, cercados por pistoleiros. Recentemente, depois de terem recebido da Justiça a notificação de que seriam expulsos da terra que lhes pertence e onde estão sepultados seus antepassados, eles declararam que estavam dispostos a morrer coletivamente, num ato de resistência. O jornal daquela manhã noticiava que o governo federal, pressionado pela grande mobilização nas redes sociais, resolvera suspender a liminar da expulsão. Foi isso que ela leu, aliviada, mas não sem apreensão, por saber que o caso ainda não está, de fato, resolvido e que a situação dos índios neste país tende a ficar, a cada dia, mais dramática. Ela está ciente de que donos do agronegócio têm devastado terras e mais terras nesse Brasil afora, muitas vezes com o uso ostensivo da violência. Não bastasse dizimar florestas e poluir rios, ainda estão acabando com a vida dos índios e também dos animais. Para não mencionar o envenenamento progressivo da população brasileira com agrotóxicos em excesso e alimentos geneticamente modificados (os famigerados transgênicos).
“Tudo se conecta: o clima de deserto, as tempestades fora do tempo, os furacões, a fúria dos vulcões, o envenenamento da população e o genocídio de índios”, ela concluiu, dobrando o jornal. “Todo cuidado é pouco nesses dias” – ainda acrescentou em silêncio, enquanto se dirigia ao escritório para terminar suas muitas tarefas. E, por um instante, acreditou na previsão maia do fim do mundo.
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