terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Maria Esther Maciel - Mundo cão‏


Estado de Minas: 18/12/2012 
Há uns seis, sete anos, encontrei na rua um cachorro amarelo, grande e de olhos ternos. Parecia um labrador, mas não era. Bastou um sinal amistoso para que ele me seguisse. Acompanhou-me, animado, até a porta do meu prédio. E fiquei sem saber o que fazer com ele – a essa altura já o chamava de Breton. Como achei que talvez estivesse com fome, subi ao meu apartamento, busquei um prato de ração e uma vasilha d’água. Ele, que me aguardava no portão, ficou feliz com a comida e devorou-a avidamente. Mas não queria ir embora. Perguntei ao porteiro se conhecia alguém que poderia ficar com ele, sem sucesso. Liguei para alguns amigos que moram em casa com quintal, mas nenhum quis adotá-lo. De minha parte, não tinha como acolhê-lo, morando em apartamento. Mesmo porque já tinha (tenho) uma cachorrinha, aliás bastante ciumenta. Liguei, então, para o veterinário que a atendia e ele me sugeriu que levasse o cão para a Sociedade Mineira Protetora dos Animais (SMPA). Disponibilizou, inclusive, o transporte. E não tive outra alternativa senão aceitar. “Pelo menos ele não vai ficar na rua, sem comida”, pensei com meus botões. 

Quando chegamos à SMPA, no Bairro Guarani, não acreditei no que vi: um lugar imundo, com centenas de cães (e alguns gatos) magros e doentios amontoados em vários compartimentos. Um cenário deprimente, quase surrealista, que atribuí à falta de recursos da entidade e ao descaso do poder público. A mulher que me atendeu disse que a entidade vivia de doações. Não hesitei, diante disso, em oferecer uma contribuição mensal, pois queria ajudar a manter o pobre Breton e os outros animais que lá se encontravam. Meu marido, que me acompanhava, imediatamente anotou todos os dados, e a partir daí passamos a doar mensalmente uma determinada quantia, descontada na conta da Cemig. Ainda voltamos lá no dia seguinte para levar alguns sacos de ração, sempre pensando no destino do cão amarelo. E, por vários dias, fiquei com a imagem daquele triste cenário na cabeça. Mas acabei por me convencer de que tinha sido a melhor alternativa.

Ledo engano. Agora, diante das recentes denúncias contra a Sociedade Mineira Protetora dos Animais, divulgadas pelo Estado de Minas, vi que não foi o melhor para o meu cão de rua. Lendo as matérias e vendo os vídeos sobre o caso, me inteirei, indignada, da verdadeira situação dos animais recolhidos na entidade: sem assistência, largados, maltratados, comendo ração com baratas, morrendo à mingua. Para completar, há evidências de má administração dos recursos, com suspeitas de desvios de verbas das doações. Ou seja, a própria entidade criada para proteger os bichos tornou-se um inferno para eles. 

Machado de Assis, numa crônica de 1877, após declarar-se “sócio (sentimentalmente falando) de todas as sociedades protetoras dos animais”, exaltou o primeiro homem que se lembrou de criar uma associação como essa. Mal sabia ele do que estaria por vir em Minas, mais de 100 anos depois. 

Breton já não deve estar vivo. Mas em nome dele, peço que justiça seja feita. Que a atual administração da SMPA, composta por membros de gestões anteriores, seja imediatamente substituída por quem realmente se preocupe com os animais.

2 comentários:

  1. No meu Blog: adocaobh já se contabilizam mais de cem denúncias/comentários sobre a Sociedade Protettora.
    Continuem enviando suas denúncias p/denunciaanimalmg@gmail .com que estão sendo encaminhadas p/ a Promotoria que está investigando e esperamos p/ breve, a retirada desta antiga/nova diretoria.
    Há um longo dossiê com provas irrefutáveis colhidas por voluntários que conviveram com a sordidez daquele local e um grupo forte de ativistas e Ongs denunciando. Não descansaremos enquanto não conseguirmos dignidade p/ os animais que lá se encontram.

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  2. É frustrante viver num país onde provas irrefutáveis nã são suficientes. Um país onde advogados jogam a ética no lixo com toda tranquilidade em troca de protelar um julgamento, em prescrever uma pena, em adquirir um benefício na pena seja lá qual for o crime. Recursos são utilizados até abarrotar o sistema Jurídico e se justificam quando encontram um desses Juízes que, estimulados sabe lá por quem, nos obrigam a tratá-los com três ou quatro superlativos, enquanto tratam a ética no diminutivo... Não há empatia com as causas para as quais são "responsáveis"... As decisões são E.T.'s ou Frankstein's aos olhos daqueles que, ansiosos, depositam suas esperanças nessa "Justiça"... Lamentável a lentidão do alento que os animais da Sociedade Mineira Protetora dos Animais mereciam!!!

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