terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Rosely Sayão

Folha de São Paulo


Muito barulho para pouco exemplo
Criticar os mais novos é fácil; até parece que o nosso mundo adulto é mais silencioso, polido e civilizado
As redes sociais podem ser muito eficientes como desencadeadoras de movimentos sociais e difusoras de informações que alguns grupos consideram importantes.
Claro que as mesmas redes podem ser muito chatas. Pessoas conhecidas têm me perguntado por que utilizo uma dessas redes em que chovem pedidos para participar de jogos e/ou comentários grosseiros e agressivos.
Pelo jeito tenho tido sorte, pelo menos até agora. Claro que um ou outro convite para jogos sempre chega, assim como alguns comentários desagradáveis ou violentos. Mas, de modo geral, as pessoas conectadas à minha rede estão mais interessadas em assuntos que consideram relevantes e são civilizadas.
E foi assim, por participar dessa rede virtual, que na última semana recebi dois alertas bem interessantes que, coincidentemente, chegaram no mesmo dia. Um deles reproduziu uma reportagem publicada em um jornal de Boa Vista (RR) a respeito de um acontecimento que pareceu inusitado à população.
A mãe de uma adolescente que estuda em uma escola estadual decidiu, depois de saber que a filha havia feito uma pichação no muro da escola, que a garota deveria pintar o muro que sujara.
Na reportagem, a mãe da aluna deu um depoimento sensacional para justificar sua decisão: "A escola é nossa, por isso temos que cuidar bem dela".
O outro alerta que recebi também diz respeito à relação escola-comunidade. Nesse caso, foi uma decisão judicial proibindo crianças de uma escola de educação infantil em Porto Alegre (RS) de realizar atividades externas por causa do barulho, que atrapalha os vizinhos. O fato motivou várias reportagens locais com alguma repercussão nacional.
Adolescentes e crianças têm depredado o patrimônio escolar? Sim, têm. Crianças e adolescentes têm produzido muito barulho no espaço escolar? Têm, sim. Mas o que proponho como reflexão hoje é a maneira como a sociedade tem reagido a esses acontecimentos que envolvem os mais novos.
Visitei páginas da internet que publicaram as duas notícias. Em todas, encontrei comentários grosseiros contra crianças e adolescentes.
Fiquei pensando que, se considerarmos tais comentários, fabricaremos a imagem de que o mundo adulto é uma maravilha: silencioso, polido, civilizado etc. Sabemos que isso não é verdade.
Somos nós, com nosso comportamento ruidoso e nossa displicência em relação ao espaço público, que temos ensinado aos mais novos o mesmo comportamento. Só que, quando são crianças ou adolescentes os envolvidos na história, há pouca tolerância e muito moralismo.
Os mais novos podem aprender a brincar e a realizar trabalhos escolares com menos ruído. Mas, para que isso aconteça, precisam da regulação dos adultos com quem estejam no momento.
Jovens que depredam o espaço público também podem aprender a respeitar o lugar que frequentam se puderem entender que esse lugar é de todos. Mas temos renunciado ao espaço público por entender que, em vez desse ambiente pertencer a todos, não pertence a ninguém.
Os mais novos podem ser muito melhores do que nós, adultos. Para isso, precisam apenas de nossa generosidade, dedicação e de nosso compromisso com a educação deles. Crianças e adolescentes precisam de nós.
Restringir o espaço de circulação deles não irá ensiná-los a falar mais baixo, a fazer menos barulho, a saber conviver com respeito. Fazer com que recuperem o espaço de todos que prejudicaram pode ter efeito educativo. Qual caminho iremos escolher?
Saio em férias a partir desta edição e retorno na primeira semana de fevereiro. Agradeço a boa companhia de sempre e desejo, a quem comemora no final de ano, que as festas sejam boas oportunidades para troca de afetos com amigos e familiares. Saúde!

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